Quando em 2013 o Grémio Anápolis decidiu emprestá-lo a um clube português, o lateral Jailson, então com 22 anos, não sabia que estava destinado a viver momentos históricos no futebol nacional. Primeiro chegou a um P. Ferreira em alta, a competir na Liga dos Campeões pela primeira vez, que depois de cair perante os milionários do Zenit, passou para a fase de grupos da Liga Europa. Depois de duas temporadas nos castores, o clube brasileiro voltou a emprestá-lo, desta vez ao Arouca, o mesmo clube que surpreendeu tudo e (quase) todos e conseguiu a qualificação para a Liga Europa.

Apresentação no Arouca

«Desde que cheguei a Portugal estou predestinado a viver momentos históricos», admite. «Cheguei a um clube que estava a fazer história, o Paços de Ferreira na época em que disputou o play-off da Liga dos Campeões e a passagem para a Liga Europa. Foi um momento de grande aprendizagem para mim, e, agora no Arouca, sinto-me um pouco na pele do que os meus antigos companheiros do Paços viveram quando conquistaram o terceiro lugar», afirmou o lateral ao Maisfutebol.

Mas, se há três épocas, o lateral brasileiro ficou à porta da Europa, por não ter sido inscrito, desta vez, pode voltar a ver as competições europeias por um canudo, já que o contrato que o ligava aos arouquenses terminou.

«No Paços não cheguei a fazer nenhum jogo europeu e pelo Arouca não sei se vou fazer», lamenta. «São competições diferentes, que todo o jogador sonha disputar, e eu não sou diferente. Tenho essa vontade, mas… a minha hora há-de chegar», garante, convicto.

Olhando para trás, Jailson diz que viveu em Portugal «três anos fantásticos». «Quando cheguei aqui era uma realidade totalmente diferente do que eu tinha vivido no Brasil. No início, tudo o que eu via, era muito mágico. São coisas que nos marcam», revela.

No P. Ferreira

«A primeira época no Paços foi de alegrias, mas, ao mesmo tempo, de frustração por ter que lutar para não descer de divisão [decisão na liguilha com o Desportivo das Aves], mas, Graças a Deus correu tudo bem e conseguimos a permanência». E no Arouca? «Foi um ano espetacular. Um balneário fantástico, um dos melhores em que já trabalhei, e a união do grupo foi isso que nos fez chegar até onde chegámos».

O «rodízio» foi um dos segredos

O lateral revela mais um pouco do que levou ao sucesso do Arouca esta época, em que foi alternando na direita da defesa com Gégé e Tomás Dabó. «Eu comecei a época a jogar, mas havia outros jogadores que também mereciam a oportunidade de jogar e o mister costumava fazer rodízio de jogadores, por isso, deu para toda a gente jogar, para todos aparecerem, e todos mostraram o que valem. Esse foi um dos nossos segredos: rodar jogadores. Tirava um, colocava outro… e a equipa continuava sempre bem, toda a gente estava feliz e motivado».

Outro dos segredos foi que, dentro do grupo de trabalho, desde cedo que o objetivo da época foi conseguir bem mais do que a permanência na I Liga. «Tenho a certeza de que foi uma surpresa para todos o que nós conseguimos porque se, no início da época, disséssemos a alguém que iríamos à Liga Europa, iam chamar-nos de palhaços e rir da nossa cara. Mas, desde o primeiro dia de trabalho, em que nos sentámos para conversar, sabíamos que éramos capazes de algo mais do que simplesmente a permanência. Jogo a jogo fomos vendo que podíamos conseguir algo diferente. E a Liga Europa acabou por se tornar um objetivo para nós dentro do grupo», revelou.

«Mas o segredo maior é o trabalho do dia a dia. Só nós lá dentro sabemos o quanto trabalhámos, o quanto foi duro o dia a dia. Não há segredo maior do que esse. O nosso trabalho foi fantástico», frisou.

E o feito que conseguiram tem dado muito que falar. «Há muita gente hoje que me pergunta onde fica Arouca. Nem toda a gente sabe. É um vilarejo, uma vila pequena, com poucas pessoas, mas grandiosas, com bom coração. Pessoas humildes, que estou dispostas a ajudar e a acolher muito bem quem chega. Tratam-nos como heróis por causa deste feito. Onde passamos, toda a gente quer conversar, saber um pouco na sensação que nós temos pelo que aconteceu e nós, claro, damos toda a atenção».

Numa altura em que o jogador, com contrato com o Grémio Anápolis até dezembro de 2017, admite ainda não ter «noção de como será o futuro», uma coisa parece certa: «Para onde for, levarei este momento no Arouca que foi marcante».

Além desta época, o lateral diz que a primeira temporada em Paços «é o outro momento alto da carreira». Carreira que, diga-se, não é assim tão longa, e teve uma grande reviravolta. «Eu sempre joguei futebol no Brasil, mas era futebol de salão, só aos 18 anos é que mudei, profissionalizei-me, e fui jogar no futebol goiano. Joguei a segunda divisão, depois fui para o Grémio Anápolis, que me emprestou ao Paços de Ferreira e depois ao Arouca», contou, admitindo as dificuldades ao mudar de modalidade.

«Não é fácil mudar assim. Normalmente os jogadores têm formação logo em futebol de campo, mas comigo foi diferente. No início foi difícil. Mas alguns amigos disseram que eu poderia sair-me bem no futebol de campo e eu resolvi arriscar. E valeu muito a pena», garante.