Má primeira volta para o Sporting, péssima para Jorge Jesus.

Com os três grandes chegados a meio do campeonato (falta só o Sp. Braga-Tondela para fechar a 17.ª jornada), o principal destaque deste balanço passa sobretudo pelo registo negativo da equipa leonina.

O Sporting está a oito pontos do líder Benfica, a quatro do FC Porto e em termos comparativos tem menos dez pontos do que na mesma altura da época passada, quando na viragem para a segunda volta somava 44 pontos e comandava a Liga com quatro pontos de vantagem sobre os dois rivais.

Nesta temporada, os leões somaram 34 pontos em 17 jogos, o que equivale a dizer que perderam um ponto por jornada, mais do que em toda a época passada.

À oitava temporada, Jorge Jesus fez a pior primeira volta de sempre no comando de um grande: nesta edição da Liga, o Sporting apenas conseguiu dois terços dos pontos disputados até ao momento (66,7%), percentagem inferior à sua pior primeira volta no Benfica, que aconteceu em 2010/11, quando à 15.ª jornada (e não à 17.ª, porque o campeonato era a 16) havia conquistado 33 pontos, o equivalente a 73,3 por cento do máximo possível.

Nessa época «JJ» e a sua equipa estavam no segundo lugar, mas tal como agora a distância para o líder, o FC Porto de André Villas-Boas, era de oito pontos.

Nas restantes seis épocas (cinco na Luz e uma em Alvalade) Jorge Jesus conseguiu sempre uma percentagem de pontos na primeira volta acima dos 80 por cento e sagrou-se campeão em metade dessas ocasiões. Isto, claro está, contando apenas com os registos de «JJ» nos grandes, já que nos pequenos os números são naturalmente mais modestos – a título de exemplo: 55,5% no Sp. Braga em 2008/09.

Primeiras voltas de Jorge Jesus (nos grandes):

Época Clube Pontos % Pontos
2014/15 Benfica 46 90,2%
2015/16 Sporting 44 86,3%
2012/13* Benfica 39 86,7%
2011/12* Benfica 39 86,7%
2013/14* Benfica 36 80%
2009/10* Benfica 36 80%
2010/11* Benfica 33 73,3%
2016/17 Sporting 34 66,7%

*campeonatos com 16 equipas

Na percentagem de vitórias nesta primeira volta (66,7%) no comando técnico do Sporting, «JJ» não fica só a perder com o seu registo da época passada (86,3%), como com Marco Silva em 2014/15 (70,5%) e com Leonardo Jardim em 2013/14 (75,5%).

No entanto, tudo o que está para trás em Alvalade é substancialmente pior. A começar desde logo por uma terrível época de 2012/13, quando à viragem para a segunda volta o Sporting tinha 18 pontos em 45 possíveis, o equivalente a 40 por cento, e era oitavo classificado. Mínimos históricos.

Antes disso e ainda reportando-nos à última década do clube de Alvalade, os registos foram inferiores à atual prestação, exceto em 2008/09, quando com Paulo Bento os leões, que acabaram esse campeonato no segundo lugar, tinham 30 pontos em 45 e a mesma percentagem de 66,7% que têm na presente primeira volta.

Villas-Boas, 2010/11: melhor 1.ª volta do século

Em termos comparativos, esta época o FC Porto de Nuno Espírito Santo vira para a segunda metade do campeonato com menos dois pontos do que nas duas últimas (com Julen Lopetegui), enquanto o Benfica tem mais dois pontos do que na temporada passada, também com Rui Vitória no comando, e menos quatro do que em 2014/15, na última época de Jorge Jesus, em que a equipa bateu um recorde de pontos na 1.ª volta – 46.

Ainda assim, a maior percentagem de pontos conquistados na primeira metade da Liga foi do FC Porto de Villas-Boas, que em 2010/11 num campeonato a 30 jornadas conseguiu 91,1 por cento dos pontos (contra 90,2% do Benfica em 2014/15), naquela que foi a melhor 1.ª volta deste século no futebol português; melhor até de que as de José Mourinho (88,2% em 2002/03 e 2003/04, com 14 vitórias e três empates em 17 jornadas).

Estas duas épocas referidas são também importantes no comparativo da diferença pontual entre o líder e os seus rivais. Se esta temporada o Benfica chega a meio do campeonato com quatro pontos de vantagem sobre o FC Porto e oito sobre o Sporting; em 2014/15, na última época de Jesus na Luz, a diferença nesta fase era de seis pontos para dragões e 10 para os leões.

Na última década, só o FC Porto conseguiu virar para a segunda volta com diferenças ainda maiores: em 2010/11, com Villas-Boas, a vantagem era de oito pontos para o Benfica e 13 para o Sporting e em 2007/08, com Jesualdo Ferreira, na terceira época do tetra portista, a vantagem era de nove pontos para as águias e 12 para os leões.

Uma desvantagem deste calibre é recuperável? A história diz que não.

Aliás, tal como o MAISFUTEBOL já escreveu, quatro em cada cinco vezes terminar a primeira volta à frente vale o título de campeão e só por duas ocasiões um adversário recuperou de um atraso de quatro pontos na primeira volta para conseguir uma recuperação impressionante até à conquista do título nacional. Uma curiosidade: em ambas as ocasiões quem desperdiçou a vantagem foi o Sporting e quem foi campeão foi o Benfica.

Em 1970/71, ainda com a vitória a dois pontos e num campeonato a 30 jornadas, os leões não só desperdiçaram um avanço de quatro pontos sobre o Benfica como até terminaram três pontos atrás.

O segundo exemplo é bem mais recente e reporta à época passada, quando com uma segunda volta quase perfeita o Benfica de Rui Vitória recuperou nada menos do que seis pontos ao Sporting – além dos quatro de desvantagem, terminou dois pontos à frente do rival.

O FC Porto tem de inspirar-se nestes dois casos para evitar o tetra benfiquista e recuperar o título que lhe escapa desde 2012/13.

A tarefa do Sporting é bem mais difícil, aliás, graças à fraca primeira volta os leões correm agora por um objetivo inédito: jamais um grande recuperou uma diferença superior a quatro pontos em relação ao líder-rival de modo a sagrar-se campeão. Quanto mais de oito! Portanto, o Sporting tem de recuperar o dobro do máximo já conseguido.

O Benfica que só perdeu nove pontos nesta primeira volta e para deixar escapar o título para o rival da Segunda Circular (para o FC Porto a margem é menor) teria de fazer uma segunda volta pior ou então igual, desde que o Sporting de Jesus conseguisse vencer todos os jogos.

Depois do longo calvário da 1.ª volta, resta a Jesus tentar o milagre.