O Relatório e Contas da Benfica SAD tem 83 referências ao canal de televisão do clube, mas em nenhuma delas é possível concluir qual foi o resultado exato da primeira época em que os encarnados exploraram a transmissão dos jogos em casa para o campeonato.

Na página 14 surge o primeiro número: «mais de 300 mil assinantes» nos primeiro seis meses de atividade enquanto canal pago.

Na página 19 é dito que as receitas com televisão «superaram os 28,1 milhões de euros». Este número torna-as a principal fonte de entrada de dinheiro do clube, se excetuarmos a venda de jogadores. É mais, por exemplo, do que o dinheiro que o Benfica recebeu da UEFA por ter participado na Liga dos Campeões e Liga Europa.

Na época anterior (2012/13), o Benfica tinha recebido apenas «8,2 milhões de euros» da venda ou exploração de direitos televisivos. Um valor a que é preciso acrescentar, refere o documento, as receitas que a Benfica TV registou nessa temporada: 4,9 milhões de euros.

Na prática, diz o relatório na página 24, «a variação equivale a um crescimento de 15,1 milhões de euros, o qual é esclarecedor do contributo que o novo modelo televisivo veio acrescentar».

Acontece que este é apenas um dos lados da questão, o das receitas.

O novo canal trouxe também mais despesas. A aquisição de direitos (nomeadamente a Premier League), os gastos necessários para a transmissão de jogos e o reforço da equipa que faz o canal.

Ao contrário do que sucede com as receitas, não existe no Relatório e Contas uma frase em que seja dito exatamente quanto custou o canal. Mas há referências a custos.

Na página 25, quando se fala de gastos operacionais, escreve-se o seguinte. «Os gastos operacionais consolidados aproximaram-se dos 109,2 milhões de euros, sendo a sua variação essencialmente explicada pela inclusão da Benfica TV no perímetro de consolidação da Benfica SAD, que gerou um impacto de 11 milhões de euros e pelo aumento dos gastos com o pessoal». 

Os gastos operacionais passaram de 92 milhões em 2012/13 para 109 milhões em 2013/14. O parágrafo anterior parece autorizar a conclusão: a Benfica TV custou onze milhões de euros.

Logo a seguir diz-se o seguinte: «Os fornecimentos e serviços de terceiros sofreram um aumento de 5,2 milhões de euros, os quais englobam principalmente a inclusão da Benfica TV no perímetro de consolidação e os encargos suportados com a realização da final da Liga dos Campeões no Estádio da Luz».

Como em ambas as frases a Benfica TV não aparece isolada, torna-se difícil chegar a valores exatos.

O Relatório permite observar que os custos com pessoal cresceram 13 milhões de euros. Um crescimento de 25 por cento, «essencialmente explicado» pelo pagamento de prémios por objetivos e crescimento da massa salarial.

«O acréscimo ocorrido na rubrica de depreciações e amortizações do período é essencialmente explicado pelo reconhecimento dos gastos associados à utilização de direitos de transmissão de programas de televisão (cerca de cinco milhões de euros, pelo que se percebe na página 94), os quais resultam da inclusão da Benfica TV no perímetro de consolidação». 

Tudo somado, parece ajustado admitir o valor de onze milhões de euros como o custo de operação da Benfica TV em 2013/14.

A ser assim, seria necessário retirar onze milhões aos 28 milhões de receitas. O resultado operacional da Benfica TV, uma estrutura com «70 colaboradores» (página 56), rondou  os 17 milhões de euros. Um valor confirmado ao Maisfutebol por fonte oficial do clube.

Aceitando o valor próximo dos 17 milhões de euros como resultado operacional da Benfica TV, isso significa que a SAD melhorou em cerca de nove milhões a contribuição da exploração dos direitos televisivos. Na época 2012/13 tinha recebido cerca de 8,2 milhões de euros, grande parte deste valor proveniente da Olivedesportos.

Em março de 2012, o Benfica recusou uma oferta da Olivedesportos, válida por cinco temporadas. A primeira era precisamente 2013/14. A empresa ofereceu na altura 111 milhões de euros. Ou seja, 22 milhões por temporada. Um pouco mais do que os 17 milhões agora obtidos pela Benfica TV.

Leia ainda: qual o peso das receitas da televisão na estrutura da SAD? e a comparação das contas dos três grandes