* por Tomás Faustino

Luís Norton de Matos, treinador do União da Madeira, analisa o nulo com o Benfica, em jogo em atraso da 7ª jornada da Liga:


«Para mim não é uma surpresa este empenho e esta resposta. Obviamente que uma derrota por seis a zero deixa uma série de dúvidas num grupo, mas a forma de dar a volta é este empenho, que mostrámos desde o início da época, e que foi manchada por um resultado anormal, mas que só acontece a quem anda no futebol. Já aconteceu a grandes equipas do futebol mundial. Foi uma noite negra, que provocou frustração e vergonha, mas que foi compensada hoje pela grande alegria de empatar com o campeão, num campeonato em que todos os pontos são importantes. À partida pensava-se que um ponto em Paços era bom e perdia-se com o Benfica, mas contrariou-se toda a lógica do futebol. Perdemos por números que eram mais habituais com o Benfica e empatámos com o Benfica.»
 
[sobre a estratégia preparada] «Sabíamos que o Benfica joga muito em movimentos pelo centro do terreno, e conseguimos contrariar o adversário. Nao esperava dominar o Benfica, esperava sair em contra-ataque, e no final faltou alguma clarividência e estaleca para chegar com mais perigo à área do Benfica. Mas estou obviamente satisfeito.»
 
[sobre a resposta da equipa] «Não temos razão nenhuma de queixa, de crítica. Eu estou orgulhoso, pois os jogadores sempre fizeram isto. Mas por vezes perdemos com um canto, um livre, uma mão na bola. Por vezes é preciso a sorte do jogo, é procurá-la. Com o Porto sofremos três golos em vinte minutos, muito rápidos. À medida que o tempo avança a equipa ganha confiança e passamos a acreditar. Jogámos com esta raça e vontade frente ao Tondela. Um resultado não pode manchar cinco meses de trabalho. A equipa tem sido de um profissionalismo inexcedível. Aliámos um resultado positivo frente ao campeão com uma atitude fantástica.»
 
[sobre o próximo jogo, com o Sporting] «Agora tenho mais uns dias para pensar no Sporting, na estratégia para esse jogo. O que peço aos jogadores é que mantenham esta garra. Nao sei se será mais fácil ou dificil, mas este é um ponto muito saboroso.»
 
[ainda a propósito da goleada sofrida na Mata Real e o trabalho desenvolvido nos dias seguintes] «Quando se perde por seis a zero todo o grupo de trabalho sente isso na pele. Com todo o respeito pelo Paços, que mereceu ganhar o jogo, foi uma derrota com uma diferença que habituamente não existe entre as duas equipas. Assumo-me como líder e não como chefe. E quando se cai, quando se leva pancada de toda a gente, ficamos muito sós. E o nosso trabalho foi muito recuperar o moral dos jogadores, ir buscar o que fizemos de positivo. Perdemos no último minuto com o Belenenses, quando toda a gente disse que o empate já era mau. Perdemos dois pontos em Setúbal no último minuto. São três pontos que nos faziam muita falta. Fizemos um trabalho mental para os jogadores acreditarem. Há sempre uma pequena possibilidade de conseguir um bom resultado contra estas equipas, e foi a isso que nos agarrámos. Quando vínhamos de Paços senti que havia um espírito de querer fazer algo de notável, e este empate é notável pela forma como a equipa reagiu. Ninguém pensava que conseguíssemos este ponto, e vai servir de alento para encarar o jogo com o Sporting com mais confiança.»
 
«Em todos os grupos, com 26 ou 27 jogadores, os elementos que jogam mais estão sempre na mão do treinador. O dificil não é gerir quem joga, é gerir um descontentamento que é são, pois não quero ninguém acomodado por não jogar. Em todos os clubes há jogadores menos contentes, mas é a lei do futebol. Sempre tive uma relação de liberdade com responsabilidade, mas também com afeto, pois os jogadores não são máquinas, é um ser humano que joga futebol. Isso é fundamental, ter humanismo.»