443 dias; mais de 63 semanas; cerca de 14 meses e meio: o FC Porto esperou todo este tempo para poder ser líder isolado da Liga e… Vai ter de continuar a esperar, após desperdiçar em casa frente ao V. Setúbal (que pela primeira vez na sua história vai terminar a Liga sem ser derrotado por FC Porto e Benfica) a oportunidade de ultrapassar o Benfica, que na véspera não havia conseguido mais do que um nulo em Paços de Ferreira.

Não é um acidente aparatoso, mas um pequeno despiste do potente bólide de Nuno Espírito Santo, que a faz falhar uma ultrapassagem que perecia inevitável, após uma manobra mal calculada do “Ferrari” de Rui Vitória.

Da última vez que os portistas tiveram o comando da Liga ao alcance de uma vitória e falharam foi ainda na era Jesualdo Ferreira, mais precisamente na época 2008/09, em que também no Dragão não foram além de um nulo diante do Marítimo, desaproveitando outro nulo caseiro diante de uma equipa madeirense, do Benfica, que apesar de não vencer na Luz o Nacional manteve-se no comando então com dois pontos de vantagem.

Essa oportunidade falhada na 12.ª jornada foi imediatamente emendada na ronda seguinte, com os dragões a colocarem-se no comando para não mais o largarem, após vencerem fora o Nacional (2-4), aproveitando a derrota do então líder Benfica na Trofa (2-0).

Dezembro de 2008, a última vez em que o FC Porto falhou um assalto à liderança no Dragão

A ultrapassagem, porém, concretizou-se ainda na primeira volta. Tal como aconteceu na jornada 14 da época passada, com Lopetegui, quando o FC Porto ganhou terreno ao Sporting (depois de uma derrota leonina frente ao União da Madeira) para perdê-lo na jornada seguinte, no clássico de Alvalade.

Esta e outras trocas de líderes surgiram numa fase ainda pouco adiantada da competição.

A pergunta a que respondemos aqui é outra e bem mais relacionada com o momento atual da Liga. O que aconteceu na segunda volta sempre que uma equipa teve a oportunidade de fazer uma ultrapassagem e colocar-se no comando da corrida pelo título?

Normalmente, não falha: esta é a conclusão que tiramos analisando os últimos dez campeonatos. No entanto, nem sempre é assim.

Quique e Lopetegui: dois espanhóis, duas ultrapassagens falhadas

Podemos desde logo excluir três épocas da lista de corridas pelo título decididas perto da reta da meta. Em 2007/08 e 2010/11 a vantagem do FC Porto – de Jesualdo e Villas-Boas, respetivamente – foi tal que não deu qualquer veleidade para quaisquer ultrapassagens, tal como a do Benfica de Jorge Jesus em 2013/14.

No entanto, nesta última década houve vezes em que na segunda volta o líder teve um perseguidor no seu encalço que não concretizou a ultrapassagem apesar de ter tido pelo menos uma oportunidade de ouro para o conseguir.

Exemplos?

Desde logo, o Benfica de Quique Flores, em 2008/09, que depois da já referida liderança perdida à jornada 13, teve a oportunidade de a recuperar quatro rondas depois, na jornada 17 (num campeonato de 30 jornadas), caso vencesse o clássico no Dragão. Empatou a uma bola deixou o FC Porto com um ponto de vantagem no comando, que não viria a largar até conquistar o tetra.

Benfica segurou a liderança, decisiva para o título em 2014/15, ao empatar com o FC Porto na Luz, na jornada 30

Situação parecida viveu o FC Porto de Lopetegui em 2014/15, quando na jornada 30 deslocou-se à Luz com três pontos de desvantagem sobre o líder Benfica, podendo igualar o rival no comando em caso de vitória (para ter vantagem no confronto direto teria de vencer por 3-0). Os dragões não foram além de um nulo e nas quatro jornadas seguintes o Benfica manteve-se no primeiro lugar sangrando-se campeão na penúltima jornada em Guimarães, empatando, beneficiando do mesmo resultado dos portistas no Restelo.

Estes casos são, ainda assim, exceções e não a regra.

Clássicos decisivos nas ultrapassagens bem sucedidas

Perante uma trajetória mais facilitada pelo líder, os perseguidores geralmente aproveitam para ultrapassar quando têm a bandeira de xadrez bem mais perto.

Em 2009/10, o Sp. Braga de Domingos chegou a ter dois pontos de vantagem na segunda volta, quando na jornada 18 aproveitou um empate do Benfica em Setúbal (1-1), vencendo o Belenenses no Restelo (1-3). A verdade é que duas jornadas depois, o Benfica devolveu a ultrapassagem e, vencendo a União de Leiria (3-0), passou para a frente dos minhotos que foram goleados no Dragão (5-1).

Em 2011/12, na jornada 21, Benfica de Jesus e FC Porto de Vítor Pereira seguiam taco a taco até que a ultrapassagem decisiva aconteceu num clássico na Luz em que o FC Porto venceu por 3-2, ficando com três pontos de vantagem.

Na época seguinte, de novo os clássicos na segunda volta a decidirem a corrida: e se logo à jornada 21, um nulo do FC Porto em Alvalade colocou o Benfica no comando, após vencer o Beira-Mar em Aveiro (0-1), o troco viria na 29.ª e penúltima jornada no clássico do Dragão, com o célebre golo de Kelvin aos 92’, que viria a valer a ultrapassagem definitiva e o último título nacional conquistado pelo FC Porto.

Mitroglou concretizou a ultrapassagem encarnada na 25.ª jornada da época passada

Tudo isto até chegar à última época. E aí voltou a ser um jogo grande a decidir a troca de líderes: o Benfica até igualou o Sporting na jornada 21, mas perdeu terreno na seguinte. Foi então que uma vitória no dérbi em Alvalade (0-1), com um golo de Mitroglou concretizou em definitivo a ultrapassagem encarnada na jornada 25, que valeu uma série de triunfos consecutivos até à conquista do título.

Com um ponto de diferença e oito jornadas por disputar Benfica e FC Porto enfrentam-se na próxima jornada. Com ou sem ultrapassagens a corrida pelo título promete continuar ao rubro.