20 visitas ao Estádio da Luz, 16 derrotas e quatro empates. Vitórias? Nem uma. O Rio Ave não guarda uma única boa memória dos jogos no Estádio da Luz. Pelo menos se acharmos que o triunfo é sempre o cenário idealizado.

Sem sucessos plenos, os vilacondenses têm, então, as tais quatro igualdades como melhor registo. Vamos olhar para elas:

. 10 de abril de 1983: 0-0;
. 4 de maio de 1997: 0-0;
. 21 de novembro de 2004: 3-3, Simão (2) e Sokota (Benfica); Franco, Paulo César e Jacques (Rio Ave);
. 6 de novembro de 2005: 2-2, golos de Petit (Benfica), Cleiton e Chidi (Rio Ave).

Em dois desses quatro jogos, Carlos Brito era o treinador dos homens dos Arcos. O técnico recorda que no nulo de 1997 o jogo foi realizado no Estádio do Bessa.

«Nunca o esquecerei porque foi no meu ano de estreia como técnico. Peguei na equipa no último lugar e salvámo-nos», diz o ex-treinador do Rio Ave ao Maisfutebol.

Sete anos depois, já na nova Luz, um 3-3 de contornos extraordinários. E raros.

«Entrámos logo a perder. O Simão fez o seu movimento característico, da esquerda para o meio, e arrancou um grande remate. Perto dos 20 minutos sofremos o 2-0. O Franco ainda reduziu, mas antes do intervalo o Sokota fez o terceiro», recorda o técnico de 51 anos.  

No balneário, o discurso de Carlos Brito e duas substituições «felizes» mudaram tudo. «Lancei o Paulo César ainda no primeiro tempo e o Gama para a segunda parte. O Rio Ave fez um segundo tempo de enorme qualidade técnica».

«Chegámos ao 3-3 e, mesmo em cima da hora, um defesa do Benfica [Luisão] tirou uma bola em cima da linha. Seria o nosso quarto golo», acrescenta Brito.

E como é que o Rio Ave, ou outra equipa teoricamente menos forte, pode provocar danos nos estádios dos três grandes?

«No passado chegava-se lá, encostávamos toda a gente à defesa e aguentávamos. Já não é assim. Para perturbar é importante provocar o erro, ser atrevido e ter a bola longe da nossa área».

Nesse 3-3 de grande espetáculo, um dos melhores Benfica-Rio Ave de sempre, as equipas alinharam da seguinte forma:

BENFICA: Moreira; Miguel, Argel, Luisão e Dos Santos; Geovanni, Petit, Manuel Fernandes e Simão; Karadas (Bruno Aguiar, 62) e Sokota,  

Não utilizados: Quim, Fyssas, Ricardo Rocha, João Pereira, Paulo Almeida e Zahovic
Treinador: Giovanni Trapattoni

RIO AVE: Mora; Niquinha, Franco (Bruno Mendes, 70), Idalécio e Miguelito; Delson, Mozer e Ricardo Nascimento; Jacques, Gaúcho (Paulo César, 35) e Evandro (Gama, 46).

Não utilizados: Candeias, Zé Gomes, Junas e Saulo
Treinador: Carlos Brito




O próprio Carlos Brito, curiosamente, já foi «responsável indireto» pelo despedimento de dois treinadores do Benfica: Manuel José e Fernando Santos. No segundo caso, quando Brito treinava o Leixões, o atual selecionador não resistiu a um empate no Bessa. Outra vez o Bessa.

Brito recorda ainda um anterior Benfica-Rio Ave: «Pouco depois voltámos à Luz e não ganhámos porque o senhor Martins dos Santos [ex-árbitro] expulsou três jogadores do Rio Ave: Nito, Sérgio China e Marcos».

Esse jogo acabou 2-1, favorável ao Benfica, e foi disputado a 15 de fevereiro de 1998. O Benfica também teve um jogador expulso (José Soares), mas o Rio Ave já estava reduzido a nove elementos aos 28 minutos.

Antes, muito antes, de Carlos Brito sonhar sequer em ser treinador, o Rio Ave pontuou pela primeira vez em casa do Benfica. O 0-0 de 1983 foi uma evolução gigantesca dos 8-0 em 1980 e dos 3-0 em 1982, os dois primeiros duelos entre os clubes na I Divisão.

O Benfica de Sven-Goran Eriksson não foi capaz de marcar um único golo ao Rio Ave de Quinito. As águias foram campeãs nacionais, os nortenhos acabaram no oitavo lugar.

Eis os jogadores utilizados nessa partida:

BENFICA: Delgado; Pietra, Humberto Coelho, Bastos Lopes e Álvaro; João Alves, Shéu (Diamantino, 56), Carlos Manuel e Chalana (José Luís, 65); Filipovic e Nené.

RIO AVE: Alfredo; Dias, Duarte, Sérgio e Antero; Cabumba, Adérito, Carvalho e Quim; Pires e N’Habola (Casaca, 75).
 


Falámos muito sobre o passado, é hora de olhar o presente. A estabilização do clube de Vila do Conde na I Liga e os bons resultados dos últimos anos fizeram das visitas à Luz uma viagem normal no calendário rioavista.

Basta, aliás, lembrar que no presente ano civil, Benfica e Rio Ave já se defrontaram em quatro ocasiões. As águias venceram sempre, embora na Supertaça tudo tenha sido decidido nas grandes penalidades.

Daí a pergunta final a Carlos Brito: a diferença atual entre as duas equipas permite pensar que é mais fácil aos vilacondenses vencerem agora Luz do que era nas décadas passadas?

«O Rio Ave tem uma estrutura muito mais moderna e avançada, tem outra tarimba e dimensão, pode perfeitamente vencer. Mas, agora como no passado, o Benfica a jogar em casa é sempre favorito, seja contra quem for. Fico feliz por ter contribuído para o crescimento do Rio Ave».

Tanto mudou desde os 8-0 da temporada 1979/80 (golos de Reinaldo (3), Nené (3) e Humberto Coelho (2)). Tudo pode acontecer na sexta-feira. Tudo menos, parece-nos seguro escrevê-lo, uma goleada das antigas.