O clássico chegou atrasado ao relvado da Luz e acabou por ter apenas três quartos de hora: o que é manifestamente pouco para um encontro em que se jogava tanto.
 
Por isso acabou como começou. Num nulo triste, enfadonho e burocrático.
 
Um nulo também, é preciso dizê-lo desde já, que serve muito mais ao Benfica. Os encarnados têm agora, na prática, três pontos e meio de vantagem sobre o FC Porto e por isso o título no horizonte.
 
Nada será como ante do clássico, portanto.

Confira a ficha de jogo e as notas dos jogadores
 
Seria necessário perder pontos em dois dos quatro jogos que faltam para não ser campeão, sendo que os jogos que faltam são deslocações a Barcelos e Guimarães e receções ao Penafiel e ao Marítimo. O título começa a pintar-se de vermelho, sim, enquanto faz as contas aos pontos que faltam para o fim da corrida. Para já, faltam nove pontos.
 
Ora é preciso dizer que Jorge Jesus jogou muito com esse facto: o facto de o empate ser suficiente.
 
O treinador não arriscou nem um bocadinho, um pouco como Lopetegui começou por fazer. Mas neste caso falava-se de Jorge Jesus, e sim, é verdade, não arriscou nem um bocadinho.
 
Muito pelo contrário.


 
Desde o início que o Benfica fez os extremos jogar pelo centro, muito longe da linha, numa espécie de encurtamento do espaço que tornou o relvado num palco de guerra: lutava-se por todos os centímetros, entre muita pressão, passes mal feitos, duelos individuais e demasiadas faltas.
 
21 faltas na primeira parte, o que dá uma média de uma falta por cada dois minutos. Ora como metade do tempo é passado com o jogo parado, já pode imaginar como se jogou muito pouco.
 
A primeira parte foi aliás aterradora. E atenção, não é hipérbole, não há aqui nenhuma figura de estilo. Meteu realmente medo. O Benfica chegou até ao intervalo sem fazer um único remate.

Todas as fichas em Jackson: os destaques do FC Porto
 
O FC Porto teve sempre mais posse de bola e mais iniciativa de jogo, o que se explica facilmente. Os minutos iniciais iam ser decisivos: se o Benfica entrasse a mandar no jogo, devolvia as dúvidas existenciais a um FC Porto perturbado por Munique. Se o FC Porto, por outro lado, entrasse a mandar no jogo, devolvia o Benfica ao receio provocado pelos dragões na Luz em anos recentes.
 
Por isso o FC Porto fez-se ao caminho, jogou com mais calma e tratou de guardar a bola.
 
Pelo caminho foi a única equipa que rematou e até desperdiçou uma soberana ocasião de golo por Jackson Martínez. Mesmo assim, lá está, a primeira parte foi demasiado má.


 
O segundo tempo, esse sim, fez justiça ao apelido de clássico que estes jogos costumam ter: houve intensidade, oportunidades de golo e por fim emoção.
 
O FC Porto continuou a ter mais posse de bola, mas o Benfica até teve as melhores oportunidades. Ambas na sequência de bolas paradas: primeiro Talisca cabeceou a centímetros do poste, depois Fejsa rematou por cima da barra em ótima posição para marcar.
 
Não foi só pelas ocasiões de golo, porém, que o jogou melhorou. Melhorou porque teve mais espaços, porque houve transições rápidas, porque em alguns momentos o futebol era de parada e resposta. Melhorou enfim porque o cansaço tornou o jogo menos tático e mais desamarrado.

Luisão, a sombra de Jackson: os destaques do Benfica
 
O FC Porto, claro, tinha mais a perder e por isso Lopetegui arriscou mais: lançou Quaresma, Herrera e Hernâni, dando à equipa um caráter mais ofensivo.
 
Por outro lado Jesus respondeu com precauções: trocou Talisca por Fejsa, por exemplo, desviou Pizzi para a direita e travou as constantes subidas de Alex Sandro pela esquerda. O lateral brasileiro, aliás, foi o mais desequilibrador durante muito tempo, exatamente porque Talisca defendia mal.
 
Com Pizzi não teve tantas liberdades.


 
Ora o foi muito assim que o Benfica, mesmo sem ter tanta bola, foi travando o FC Porto e evitando passar por desequilíbrios. Manteve-se coeso, saiu para o ataque sempre que pôde, obrigou o FC Porto a ficar alerta por isso e deixou o tempo correr até ao apito final.
 
O empate servia-lhe mais e por isso foi timidamente celebrado pelos adeptos.
 
É verdade que é preciso ter memória de elefante para recordar o último nulo em casa para o campeonato do Benfica, mas valores mais altos de impõem: neste caso a vantagem de três pontos e meio, que deixam o título ali ao virar da esquina.
 
Jorge Jesus foi enfim o que tantas vezes o acusaram de não ser: comedido.
 
Já o clássico foi curto. Desperdiçou a primeira parte e já não foi a tempo de ter golos que o tornassem eterno como ameaçava ser. Terminou num nulo: um daqueles nulos que não deixam nada na mesma.

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