O FC Porto garantiu o resultado mais dilatado da época na casa do vizinho Boavista (0-5). Os dragões libertaram-se do xadrez de Lopetegui - como se fosse uma prisão para o seu talento - e jogaram damas, jogo mais simples e direto, para chegar à goleada perante um adversário em crise profunda.

Erwin Sánchez não tem feito melhor que Petit e o Boavista averbou a quarta derrota consecutiva, terminando esta jornada a seis pontos da linha de água, face à vitória da Académica. Dias de tempestade no Bessa, onde vários jogadores sucumbiram a problemas físicos. Cenário intrigante.

Rui Barros mantém o registo imaculado como treinador do FC Porto: quatro jogos, quatro vitórias, entre 2006 e 2016. Com Julen Lopetegui fora do caminho, a equipa surgiu mais solta, livre de uma ideia de jogo que tinha atingido o prazo de validade. Para além disso, é importante frisar, encontrou neste Boavista o adversário ideal para a reabilitação momentânea.

O que mudou com Rui Barros? Nada em relação ao onze, que foi repetido em relação ao empate frente ao Rio Ave (1-1). A grande alteração incidiu sobre o processo de jogo, para além do efeito psicológico que a saída de Julen Lopetegui teve nos jogadores do FC Porto.

Os dragões surgiram no Estádio do Bessa sem aquela inconsequente tendência para o controlo de bola em zonas defensivas, numa circulação que se assemelhava a perda de tempo, já que não provocava o desgaste previsto no adversário e tornava o futebol portista entediante.

Esse carrossel de tração traseira era executado de forma sofrível por alguns elementos com outro tipo de caraterísticas. Hector Herrera será o exemplo mais evidente.

A fuga de Herrera para a glória

Herrera é jogador de espaços, de poucos toques na bola. Prefere aparecer entre linhas, apoiando-se na reconhecida disponibilidade física. Foi assim, aliás, que desbloqueou o dérbi da Invicta.

Ao 12º minuto de jogo, Brahimi tocou para André André e este percebeu a movimentação do capitão do FC Porto. Herrera fugiu aos médios contrários, recebeu com o peito o belo passe nas costas de Carlos Santos e rematou em rotação, em esforço, para o poste mais distante.

Foram instantes terríveis para o Boavista. Tengarinha tinha-se lesionado pouco antes e viria a sair em maca, tal como Henrique, já a caminho do intervalo. Na etapa complementar seria Anderson Correia a ceder fisicamente. Cenário preocupante na equipa do Bessa.

Erwin Sánchez colocara os axadrezados num ambicioso 4x1x3x2 e correu mais riscos quando lançou Renato Santos, médio ofensivo, para o lugar de Tengarrinha. Petit era adepto da coesão defensiva, o seu sucessor defende o contrário. Numa equipa com as caraterísticas do Boavista não é seguramente a melhor fórmula para o sucesso.

Foi valendo Gideão para manter a diferença mínima no marcador. O guarda-redes brasileiro negou o golo de Brahimi (minuto 37) e Aboubakar (minuto 47), em situações de um-para-um. Pelo meio, o camaronês falhou outra oportunidade soberana.

O FC Porto permitia assim que o Boavista continuasse a acreditar e por momentos surgiu a sensação de perigo nos pés de Anderson Correia. O esquerdino fugiu a Danilo Pereira e aproximou-se da área portista com o médio, recorrendo a carrinho perigoso mas eficaz, a resolver a questão.

Logo depois, Iker Casillas cometeu um erro inexplicável ao sair da baliza, Luisinho foi mais rápido e o guarda-redes acabou por ver a cartolina amarela, já o extremo estava perto da linha de fundo.

Jesus Corona desenha o arco da goleada

O segundo golo do FC Porto surgiu assim no melhor período do Boavista. O talento individual de Jesus Corona cavou definitivamente o fosso. Pela direita, o extremo passou entre Afonso Figueiredo e Idriss para rematar em arco e marcar um golaço.

Rui Barros, bem mais sereno que Julen Lopetegui no banco, ia assistindo à crescente superioridade do FC Porto, que não adormeceu à sombra da vantagem. Ao minuto 72, Aboubakar deu um pontapé da crise de confiança após cruzamento de Miguel Layún. Forte influência mexicana no triunfo azul e branco.

O Boavista terminaria o jogo com apenas dez elementos, já que Anderson Correia (elemento vindo do banco) lesionou-se no lance do 0-3, com as substituições esgotadas. Uchebo ainda reduziu mas estava em posição irregular.

A goleada surgiu assim com naturalidade, perante um adversário cada vez mais inferiorizado fisicamente.

Danilo Pereira – grande exibição do médio português, a par de Herrera – insistiu pelo flanco e cruzou de pé esquerdo para o bis de Aboubakar (a fome deu em fartura). E seria o próprio Danilo, em mais um belo golo portista, a fixar o resultado final. Segunda assistência de Layún, desta vez num pontapé de canto, para o desvio de calcanhar do médio ao primeiro poste.

O resultado mais folgado da época para o FC Porto em período de transição, antes do primeiro dia do resto da sua vida. Quarta-feira haverá novo dérbi no Bessa, para os quartos de final da Taça de Portugal.