O Benfica precisou de virar-se do avesso para ultrapassar um Desp. Aves muito competente e razoável. Basicamente, e em poucas palavras, foi isto.
Mas por partes.
Antes de mais convém referir que a formação de Rui Vitória entrou em campo a jogar bem, naquele futebol rendilhado, de passe curto e desmarcação, que recebe aqui, toca a ali e muda-se para acolá, de trocas de posição constantes. Um futebol que é um gosto.
Zivkovic recuava e libertava Grimaldo, que ficava com o corredor livre porque Cervi jogava por dentro, enquanto do outro lado André Almeida jogava por dentro e criava superioridade por troca com João Carvalho. Um futebol criativo e bem disposto, portanto.
O problema é que a imaginação no processo criativo não encontrava continuidade no último passe, pelo que o Benfica dominava, tinha a bola, chegava facilmente ao último terço, mas não conseguia criar perigo. Uma, e outra, e mais outra vez.
Um remate de Rafa a rasar o poste foi aliás o melhor que a equipa fez na primeira parte.
Era preciso mais, muito mais, para ultrapassar este Desp. Aves muito bem organizado. Uma equipa que defendia de forma competente - com os laterais por dentro, os extremos na cobertura das alas e os trincos no apoio aos centrais - e que não deixava de atacar.
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Tanto assim, aliás, que a melhor oportunidade até aos golos foi dela: um espécie de penálti que Paulo Machado atirou para as nuvens, já no início da segunda parte.
Era preciso mais, muito mais, portanto, e Rui Vitória virou então a equipa do avesso. Abdicou de João Carvalho - que não teve um jogo feliz - e lançou Raul Jimenez.
Basicamente abdicou do 4x3x3 que tem aplicado esta temporada e lançou o 4x4x2 que fez da equipa tetracampeã. Pelo caminho trocou o futebol bonito por um mais musculado.
Se não ia a bem, portanto, teria de ir à força.
Fejsa recuou para o meio dos centrais na saída da bola e projetou os laterais, Zivkovic ficou com único médio de transição, como uma tendência clara para cair para a direita, Raul Jimenez juntou-se a Jonas no centro do ataque, o Benfica deixou de ser tão criterioso na construção, procurou muito mais o lançamento para o espaço vazio, e sobretudo teve mais presença na área. Por isso tornou-se imperioso colocar a bola na área.
Cervi alimentou, Jonas marcou: os destaques do jogo
Dez minutos depois desta espécie de extreme makeover – ou desta transformação total, para não se atraiçoar a nossa tão bela língua -, o Benfica chegou então ao golo.
Primeiro num remate de Fejsa do meio da rua, que Adriano defendeu para o lado, onde apareceu Cervi a cruzar para Jonas finalizar, depois num canto que Jimenez finalizou para nova defesa de Adriano, que permitiu a Ruben Dias finalizar para o fundo da baliza.
Dois golos, lá está, em que a presença na área foi fundamental.
Os golos surgiram com cinco minutos de intervalo e sentenciaram o encontro. A partir daí percebeu-se que não havia muito volta a dar: os encarnados tinham o triunfo no bolso.
Mas foi duro, muito duro.
Foi preciso o Benfica ir de uma ponta à outra, virar-se do avesso, dar a volta completa, regressar às raízes e trocar a arte pela força para somar três pontos preciosos.
Vale a pena dizer, já agora, que Jonas marcou pela 31ª vez no campeonato e ficou a um golo de igualar Cavani, Messi, Harry Kane e Salah na liderança da Bota de Ouro. Num ano em que os golos portugueses valem menos que os ingleses, franceses ou espanhóis, é realmente um feito do arco da velha.
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