Rui Vitória deu o mote, mas não é propriamente uma novidade. Nélson Semedo está a fazer uma época incrível, sobretudo nas competições nacionais.

No que diz respeito a tempo de utilização, não tem rival. Já leva 3227 minutos em todas as competições, o que dá quase 36 jogos completos. Na Liga só não é totalista porque o treinador, com a equipa a perder na segunda jornada em casa frente ao Vitória de Setúbal, retirou-o de campo aos 81 para dar lugar a Gonçalo Guedes e tentar o assalto final à baliza sadina. Soma, mesmo assim, 2061 minutos, contra os 1980 do segundo mais utilizado, o defesa-central sueco Lindelof.

Não é só o pulmão inesgotável que surpreende. O lateral-direito é um dos jogadores mais influentes nos encarnados, líderes da Liga. Leva seis assistências no campeonato, menos duas que Wilson Eduardo (Sp. Braga) e Gelson Martins (Sporting), e a par de Alex Telles (FC Porto) e Iuri Medeiros (Boavista). Pizzi, na mais importante competição nacional, é o segundo dentro do grupo de Rui Vitória, com cinco.

Somadas todas as competições, Semedo e Pizzi estão empatados. Oito assistências para cada, sendo que o médio tem mais duas na Taça de Portugal e uma na Supertaça, e o lateral uma na Taça e outra na Taça da Liga.

Em golos, é que não há comparação: Pizzi leva 8 na Liga, 11 em todas as competições, Semedo apenas um no campeonato e outro na Liga dos Campeões (ao Besiktas, em Istambul). Mas também seria desumano exigir ao lateral que marque tanto como um médio ofensivo, não? Só um apontamento: Mitroglou é de longe o melhor marcador com 22 golos (13 na Liga, 1 na Liga dos Campeões, 7 na Taça de Portugal e 1 na Taça da Liga). Pizzi, o segundo melhor, já se viu: tem metade.

Voltamos a Nélson Semedo, e ao o compararmos com os laterais dos outros grandes, vemos que foi o único que já marcou na Liga, e apenas com dois remates à baliza. É também aquele que mais assistências fez, embora tenha mais jogos realizados, e precise melhorar na eficácia dos cruzamentos. Em oportunidades criadas, anda na linha dos rivais, se somarmos obviamente Schelotto e João Pereira, os dois laterais direitos mais utilizados por Jorge Jesus no Sporting.

Existe, no entanto, uma diferença enorme nos desarmes e cortes efectuados.

Semedo tem ainda uma boa precisão de passes certos para a quantidade enorme de passes que faz (está no top 10 da Liga), e destaca-se também pelo capacidade de drible, uma das suas imagens de marca.

Provoca e comete muitas faltas, mostrando uma intensidade que não tem comparação com os outros jogadores aqui apresentados.

Fizemos ainda uma análise mais extensa. Comparámos Nélson Semedo com o lateral do outro lado. No Benfica, o mais utilizado foi André Almeida, embora entretanto seja Eliseu o dono do lugar. O mesmo acontece com Zeegelaar, uma vez que agora é Jefferson quem parece ser a aposta de Jesus. Já Nuno Espírito Santo não abdica de Alex Telles, que é aquele que mais se aproxima (e em certos índices até o ultrapassa) do rendimento do rival do Benfica.

Ambos marcaram um golo, mas o portista rematou mais vezes às balizas rivais. Cada um tem seis assistências, mas Telles bem mais oportunidades criadas (24 contra 19, com menos dois jogos realizados).

Nos desarmes e cortes leva a melhor Semedo, mas Alex Telles parece tirar frutos de um posicionamento mais eficaz, com bastantes mais interceções.

O lateral do Benfica volta a mostrar argumentos em todos os critérios seguintes: passes certos, precisão nos passes, precisão nos passes no meio-campo adversário e, claro, nos dribles.

Mais faltas sofridas, mais faltas cometidas. Também mais amarelos. Nélson Semedo já viu cinco, que o vão tirar do jogo da Feira, na próxima jornada da Liga.

As comparações não se ficam por aqui. Também é normal que, aumentando o nível de exigência, os números do jovem jogador do Benfica quebrem. É o que se percebe quando estabelecido o paralelismo com alguns futebolistas do mesmo setor em jogos da Liga dos Campeões.

Utilizámos para esta comparação três laterais de equipas que estão nos oitavos de final da competição milionária: Daniel Alves (Juventus), que nem foi titular frente ao FC Porto, mas era até aqui o mais utilizado pela Vecchia Signora prova, Philipp Lahm (Bayern), e Carvajal (Real Madrid).

Semedo marcou um golo, Daniel Alves assinou dois, o último ao FC Porto, mas o português é o único dos quatro que ainda não assistiu. Mais uma vez, nota-se uma clara dificuldade nos cruzamentos e nas poucas oportunidades criadas, quando comparado com os rivais, claramente mais experientes e também a integrar equipas a lutar pela conquista do troféu.

Por outro lado, o português mostra enorme capacidade defensiva. Dos quatro é aquele que mais desarmes, cortes, bloqueios e interceções faz, embora a experiência de Lahm se note na precisão dos desarmes. Tem, lembre-se, mais jogos realizados.

Muito provavelmente por o ataque do emblema da Luz ser exposto a maior pressão, o número de passes e a sua eficácia são menores do que a dos restantes futebolistas aqui apresentados, sobretudo quanto ultrapassa a linha de meio-campo. Já no drible continua a não ter rival.

No aspeto disciplinar, surgem depois números iguais a Daniel Alves em faltas cometidas e sofridas, o que se explica pela maior propensão atacante dos dois jogadores quando colocados ao lado dos restantes.

Os dados estatísticos incidem sobretudo sobre tendências. Nélson Semedo está a realizar uma época incrível e de intensidade elevadíssima, em que aparentemente parece não acusar o desgaste provocado por já ter praticamente 36 jogos nas pernas. Vai poder descansar na Feira, mas certamente que o Benfica sentirá falta da influência que o jovem lateral tem no seu jogo, não só no plano defensivo, mas também no ofensivo, como se comprova pelos números acima.

Aos 23 anos, o defesa encontra-se em grande momento, e a margem de progressão ainda existe. Basta olhar para o que pode ainda melhorar. No que diz respeito à sua candidatura a ser figura e o lateral mais produtivo da Liga esta apresenta-se fortíssima. Resta saber o que o jogador ainda tem de reserva para as 11 jornadas que ainda faltam de campeonato.

Nélson Semedo fez duas assistências frente ao Chaves, e já é o melhor do Benfica nesse capítulo na Liga.