Iker Casillas concedeu uma extensa entrevista à primeira edição da «Papel», a nova revista do jornal «El Mundo». O guarda-redes espanhol volta a falar de momentos difíceis que viveu no Real Madrid, mas renuncia a qualquer crítica concreta. Casillas fala também da ambição com que encarou a surpreendente mudança para o FC Porto.
 
«Nunca, nunca falarei mal do Real ou do seu presidente. O clube ensinou-me valores, uma forma de estar, uma educação. Agora seria fácil rasgar, contar muitas coisas que vivi, mas também seria cobarde, pois na altura não falei. Se houve problemas, tratei deles com os interessados», responde Casillas.
 
«Medo? Nenhum. Contenção. Qualquer declaração seria submetida a mil análises, interpretações e debates. Assim mantenho-me numa linha de tranquilidade e prudência», acrescenta.
 
Casillas recua a 2013 para assinalar o início do fim de um ciclo. «O Barcelona estava a ganhar-nos pontos na Liga mas estávamos bem na Liga dos Campeões e na Taça do Rei. Lesionei-me, e comecei a notar uma corrente de notícias. Dei conta que era quando mais falavam de mim. Foi estranho, suspeito», afirma, admitindo que «possam ter existido interesses exteriores».
 
Questionado sobre Cristiano Ronaldo, o guarda-redes diz que o português «é uma pessoa dá a cara». «Tem o seu temperamento e o seu carácter, e não nos demos mal. Durante seis anos o trato foi maravilhoso. Dá a cara e por isso a nossa relação foi sempre magnífica. Quando tivemos algum problema soubemos resolvê-lo e esquecê-lo», garante.
 
Em todo o caso o guarda-redes não quer «aproveitar a saída de Espanha para falar do Real». «Quero olhar em frente. Não vou viver mais do passado», resume.
 
Admite, ainda assim, que não será fácil jogar no Santiago Bernabéu como adversário: «Vou sentir-me tão nervoso como em 1999 [ano de estreia].»
 
Convencido pelo «Whattsapp» e fã do «tranquilo»
 
Iker Casillas ainda não está há muito tempo no Porto, mas garante sentir-se feliz. «A receção foi fácil porque o plantel tinha espanhóis, e perdes a vergonha com as pessoas que conheces. Aqui há muitos jovens. Estavam quase mais tímidos do que eu. Queria que entendessem que estava ali uma pessoa humilde, que conquistou tudo com base no trabalho. Que ninguém se devia sentir inibido por causa do meu estatuto internacional. Quero que em Portugal me vejam como sou, e não como outros dizem que sou», explica.
 
O capitão da seleção espanhola fala de uma dimensão «muito mais humana, familiar, mas de profissionalismo absoluto». «Todos remam na mesma direção para que o FC Porto e eu estejamos o melhor possível, e passar isso para o terreno de jogo. O lado humano é que muitas vezes te impede de render», sustenta.
 
«Aqui não param de repetir a palavra “tranquilo” para tudo. Justamente o que precisava, que tudo fosse tranquilo», destaca.
 
«Venho daquela que é A EQUIPA. Com maiúsculas. A equipa do mundo. Mas agora também quero fazer parte da história do FC Porto, fazendo as coisas à moda do FC Porto. Adaptando-me à sua filosofia. Com modéstia e humildade ganharam muitos títulos aqui. Quando estás tanto tempo no mesmo clube algumas pessoas ficam fartas de ti. O FC Porto é um grande clube e eu começo do zero. É um desafio voltar a sentir-me importante», assume Casillas.
 
Nesta entrevista à «Papel», o guarda-redes revela também a forma curiosa como surgiu a possibilidade de rumar ao FC Porto, em conversa com Julen Lopetegui: «Trocámos dois ou três Whatsapps, e ele notou essa minha ambição. Mas acima de tudo eu notei o mesmo. Deu-me a confiança que precisava.»
 
Casillas diz que agora o objetivo é «não desiludir». «Podem sair as coisas bem ou não. Defender mais ou menos. Mas tenho um compromisso com ele, com o clube e com toda a gente», diz.