E, por fim, Mehdi Taremi, num dérbi da Invicta impróprio para cardíacos.

Num dérbi de emoções fortes. Com um herói que parecia altamente improvável.

Minuto 90+8: depois de assobios, golos falhados e críticas vindas das bancadas, Taremi resolveu o seu último jogo pelo FC Porto no Dragão com um golo de cabeça no derradeiro suspiro.

E tudo viraram lágrimas no seu rosto. E tudo foi euforia aos píncaros nas bancadas.

O FC Porto venceu o Boavista por 2-1 e vai a Braga defender o 3.º lugar da I Liga, quando esteve na iminência de acabar a penúltima jornada no 4.º e obrigado a ir vencer ao Minho. E quando a pantera tinha quase garantida a manutenção, adiada para a última jornada com a derrota desta noite.

Bruno Lourenço ainda deu vantagem ao Boavista à hora de jogo, mas a expulsão de Pedro Malheiro pouco depois (64m), dificultou a já de si exigente tarefa no Dragão. Depois do empate assinado por Zé Pedro de cabeça, aos 81m, foi a cabeça de Taremi a resolver um jogo com uma segunda parte de loucos e que teve mais (e os verdadeiros) motivos de interesse.

Da primeira ficaram 45 minutos de anarquia pela negativa. Desordem. Estranheza, até. O FC Porto teve mais bola, teve a melhor ocasião num remate de Pepê ao ferro já perto do intervalo, mas não se encontrou com o golo. Não se encontrou em si mesmo como queria. Se sobrou luta e esforço, faltou acutilância e definição na frente. Mérito também do Boavista, que se desdobrou bem para tapar espaços e resolver problemas atrás quando o FC Porto podia ameaçar. Lá na frente, ainda causou um par de sustos a Diogo Costa, o maior deles num remate de Agra, bem defendido (42m).

Depois, 45 minutos de uma anarquia antagónica. Em que a monotonia virou loucura.

Conceição mal tinha acabado de tirar Martim Fernandes para lançar Taremi na frente, quando o Boavista chegou à vantagem numa bela finalização de Bruno Lourenço. A pantera feria o dragão, mas rapidamente foi ferida na sua estrutura com o segundo amarelo e consequente expulsão de Malheiro após falta sobre Taremi.

Pela frente, o Boavista teria sempre mais ou menos 30 minutos de esforço para, pelo menos – se não segurasse a vantagem – segurar um ponto que valia a permanência. O jogo entrou num cocktail de emoções fortes, Conceição tirou mais um lateral (Wendell) para lançar mais um avançado (Namaso), teve Pepê e Galeno como laterais com propensão ofensiva e o Dragão lá explodiu com o empate de Zé Pedro, quando já havia sinais de verdadeira impaciência e desespero à entrada para os dez minutos finais.

O dragão renasceu, perante um Boavista que meteu trancas à porta e nunca mais incomodou Diogo Costa.

Depois, depois foi ver para crer.

Foi Zé Pedro que ficou a centímetros do bis. Foi a defesa impossível de João Gonçalves a remate de Taremi. O remate de Namaso à malha lateral. As investidas de Francisco Conceição sem seguimento na área. Diogo Costa, várias vezes quase a meio-campo, assistia incrédulo a um festival de falhanços. E ao muro que se instalou à frente da baliza de João Gonçalves.

Foi então que para lá dos sete minutos de compensação dados (Soares Dias avisou que se jogariam mais dois), que Taremi se tornou herói após um belo cruzamento de Francisco Conceição para dar a vitória ao FC Porto num final épico, improvável, quentinho e emocionante.  Com lágrimas do herói Taremi e uma homenagem a Eustáquio.