Mais de 40 mil celebraram no Dragão uma vitória por 2-0 que é uma espécie de dois em um.

O FC Porto continua em processo de regeneração e, pelo caminho, enquanto mantém os rivais de Lisboa ainda na mira, pode ter afastado o Sp. Braga da luta pelo título.

A meio do campeonato, os minhotos já estão a dez pontos do líder Sporting. O FC Porto está a cinco, com margem de erro reduzida, mas a noite é de festa no Dragão.

Na semana em que Villas-Boas se prepara para apresentar a candidatura à presidência sob o lema «Só há um Porto», Sérgio Conceição esforçou-se por mostrar que, dentro das quatro linhas, é possível mostrar «Um Outro Porto».

Uma equipa diferente daquela que sem ideias ou qualquer centelha de talento que vinha arrastando-se no campeonato e acabou por esbarrar no dérbi do Bessa da passada jornada.

A meio da semana, para a Taça, Conceição parece ter encontrado a fórmula para extrair algum brilho de um conjunto de contratações que afinal também podem ser reforços.

O 4-4-2 deu lugar ao 4-2-3-1 e, após o bom resultado no Estoril (goleada por 4-0), o técnico portista apostou na mesma fórmula: Nico González ao lado de Varela, com Pepê nas costas do único ponta de lança Evanilson, enquanto Francisco Conceição e Galeno rompem pelos flancos.

Simples assim.

O futebol portista tornou-se mais envolvente, menos previsível. Enfim, ajuda ter em campo protagonistas que não ofendam a bola. Nico traz qualidade a gerir a posse, Francisco tem repentismo e imprevisibilidade pela esquerda, enquanto Galeno traz verticalidade na outra ala (e ainda falta a aposta em Iván Jaime, o jogador revelação da última Liga, ou Gonçalo Borges, que há uma semana estava com um pé no Lille). O resto é o talento de Pepê, à solta nas costas de Evanilson, que beneficia do futebol mais apoiado.

Do lado do Sp. Braga, após a eliminação da Taça a meio da semana frente ao Benfica, Artur Jorge fez três alterações: entraram Matheus, José Fonte e Djaló, saíram Hornicek, Serdar e Rony Lopes.

Triunfo tranquilo e um candidato que pode ter deixado de o ser

Mas baixemos ao relvado. E aí o FC Porto entrou por cima, chegou à vantagem aos 12m, pela cabeça de Fábio Cardoso, e segurou-a aos 32m, pelas mãos de Diogo Costa, que defendeu um desvio de Ricardo Horta, na única vez que os minhotos criaram verdadeiro perigo na primeira parte. Mais dominador, os dragões chegavam ao intervalo em vantagem em tudo o que era número: mais remates (4-2), cantos (4-1) e posse de bola (53%-47%). E a vantagem justificada de 1-0 no marcador, que viria a ampliar assim que o jogo reatou.

Evanilson converteu o penálti que ele próprio sofreu, após roubar a bola a Borja e ser derrubado por Matheus na área.

A perder por 2-0, Artur Jorge mexeu pouco, trocou Vítor Carvalho por André Horta, e o Sp. Braga mostrou vontade e pouco mais. Apareceu mais perto da baliza de Diogo Costa, sem verdadeiramente causar apuros.

O FC Porto que tantas vezes tremeu no Dragão nesta temporada – onde esta época regista, por exemplo, cinco vitórias pela margem mínima, além de uma derrota e um empate – mostrou-se mais sólido.

Esta é uma equipa com mais ideias e talento na frente e simultaneamente mais madura e eficiente na hora de gerir a vantagem. Resultado: uma vitória tranquila. Pachorrenta até.

Depois da goleada frente ao Estoril, uma exibição segura frente a um candidato ao título que ao fim da primeira volta pode muito bem já ter deixado de o ser.

É ainda um processo, mas Conceição parece ter desfeito algumas dúvidas que o atormentavam desde que perdeu Otávio no arranque da época.

Está em marcha um outro Porto, mas uma dúvida permanece.

Será que chega para lutar pelo título?