Chegou a Portugal para representar o Mirandela e em dois anos atingiu a primeira divisão. Ganhou lugar na equipa do Gil Vicente à primeira jornada e nunca mais saiu. A nove jornadas do fim da Liga, não há mais ninguém: Gabriel e Luisão são os únicos jogadores de campo totalistas do campeonato.
 
Com vinte e uma jornadas cumpridas no principal escalão do futebol português, sobram dez jogadores com 1890 minutos nas pernas. Oito guarda-redes e o experiente capitão do Benfica. Resta um lugar para Gabriel Moura, que ganha posição de destaque nesta lista pelo facto de estar na sua época de estreia na Liga. Regularidade assinalável do lateral direito de 25 anos do Gil.
 
A história de Gabriel mete uma bola, jogos de rua e o sonho de ser jogador de futebol, como o próprio revelou ao Maisfutebol. «Desde pequeno sonhei em vir a ser jogador de futebol. Comecei a jogar na rua com o meu pai, depois entrei nas escolinhas na minha cidade, que é Divinópolis, a seguir nas escolinhas do Cruzeiro em Minas Gerais.»
 
Chegou ao estatuto de profissional no Brasil, mas abriram-se as portas para jogar na Europa. Um empresário associado ao seu atual representante proporcionou a travessia do Atlântico. Homem de luta, Gabriel aceitou o desafio e mudou-se armas e bagagens para Portugal. A intenção era escalar degraus até ao topo.
 
Em Mirandela a adaptação não foi linear: «No início, quando cheguei ao Mirandela tive muitas dificuldades. A minha principal característica é atacar ,porque no Brasil a forma de jogar dos laterais não é como aqui. Felizmente, nos clubes por onde passei orientaram-me sempre para que eu pudesse estar a um bom nível e para evoluir».
 
«Agradeço ao João de Deus. Não é fácil apostar em jogadores da II Liga»
 
As dificuldades sentidas em Mirandela não travaram a insistência do baixinho, mas lutador, lateral do conjunto de Barcelos, que rumou na época seguinte ao Penafiel, onde na época passada alinhou em 39 de 42 jogos na II Liga. Não está espantado com o seu trajeto até agora, nem pela escalada até à primeira divisão. «Sempre fui dedicado. Nunca me assusto, nem estou espantado por estar na primeira divisão porque sempre me dediquei para isto. Sempre corri atrás dos meus objetivos, e acho que estou a fazer por merecer. Dou o meu melhor por onde passo e tento deixar uma boa imagem», referiu.
 
A regularidade do jogador do Gil Vicente não é de agora. A ausência de lesões tem sido determinante para este percurso imaculado: «No Mirandela joguei quase todos os jogos, e no Penafiel não foi diferente. Tive sempre oportunidade de jogar, as pessoas apostaram em mim. Não tenho histórico de lesões nesses clubes, até agora também não me lesionei. Este é um fator que me tem ajudado a ter esta regularidade.»
 
A experiência em Portugal está a correr de acordo com o plano traçado por Gabriel. O jogador que ocupa o lado direito da defesa do Gil agradece a aposta de João de Deus: «Estou a gostar muito de estar em Portugal. A minha ambição era chegar a este campeonato. Agradeço ao mister João de Deus, porque não é fácil apostar num jogador que vem da II Liga».
 
A época já vai longa para Gabriel. A juntar aos 21 jogos no campeonato, o brasileiro soma mais cinco jogos nas taças. Foi poupado em 3 jogos da Taça da Liga e 2 da Taça de Portugal perante equipas de menor nomeada. No último domingo, diante do V.Setúbal, viu a quarta cartolina amarela no campeonato, o que significa que está a um amarelo de parar por sanção disciplinar.
 
Não lhe passa pela cabeça tirar o pé para evitar o amarelo: «Se tiver que ver cartão amarelo vou ver. Estou ao serviço de uma equipa e se tiver que ver amarelo ou um vermelho não vou tirar o pé nem vou deixar de fazer uma falta para fazer todos os jogos. Isso nem sequer me passa pela cabeça, o que me passa pela cabeça é ajudar a equipa da melhor forma possível».
 
A época no Gil Vicente e o colega Danilo
 
Quem melhor do que Gabriel para falar da época protagonizada pelo Gil Vicente? Sempre que os Galos entraram em campo para disputar um encontro do campeonato português Gabriel esteve lá e apenas parou de correr ao seu ritmo frenético com o apito final. Sempre titular e sem direito a expulsão ou substituição, Gabriel quer acabar o campeonato ao ritmo do início.
 
«Tivemos um início muito bom, muito forte. Depois passámos por uma fase má de dezasseis jogos sem vencer. Toas as equipas passam por fases menos boas, mas conseguimos este triunfo e vamos unir ainda mais o grupo para acabar bem o campeonato. Queremos acabar igual ao início, fortes para garantir a permanência», disse o jogador ao nosso jornal.
 
No Brasil, Gabriel foi campeão de juniores ao serviço do Atlético Mineiro. Disputou a vaga de lateral direito com Danilo, jogador do FC Porto: «Joguei com o Danilo no América Mineiro em 2009, era o meu último ano de júnior e o primeiro dele. Jogámos na mesma equipa e fomos campeões juntos. Eu comecei a jogar no início mas quem terminou a época no lugar foi ele.»
 
Na formação o agora jogador dos dragões roubou o lugar a Gabriel, mesmo em ano de estreia no último escalão das camadas jovens. Atualmente é um modelo para o lateral do Gil: «É um exemplo para mim. Jogámos juntos e ele agora está na seleção brasileira. É um dos melhores laterais direitos que o Brasil tem.»
 
Todos os jogadores pensam em dar o salto
 
Gabriel impressiona pela regularidade, mas não só. Com um enorme pulmão, aguenta do primeiro ao último fôlego sempre em grande velocidade. As prestações ao serviço do Gil colocam-no na pista de clubes belgas e russos, com emissários do Rubin Kazan, Standard de Liége e Anderlecht no Estádio Cidade de Barcelos para o observar.
 
«É sempre bom os jogadores serem cobiçados, mas ainda não há nada de concreto e o meu empresário não me falou dessa possibilidade. Estou focado aqui no Gil Vicente e tenho contrato até 2016. Todos os jogadores têm a ambição de dar o salto, eu vou continuar a dar o meu melhor porque estou bem e feliz aqui», garante Gabriel.
 
Não tem preferências por qualquer campeonato ou país, nem se mostra obcecado por mudar de ares. O principal objetivo é proporcionar estabilidade à sua família e conseguir um acordo bom para o Gil Vicente: «Todos os jogadores pensam sempre em algo maior, se tiver que sair e for bom para todas as partes posso sair. Se houver uma proposta boa em que eu possa ajudar a minha família, se for bom para mim e para o clube posso sair.»