Foi no regresso ao Dragão, como titular do Sp. Braga e frente ao clube onde viveu tantos sucessos, que João Moutinho cumpriu um marco notável, 1000 jogos contando a partir da estreia na equipa principal do Sporting. O médio já tinha celebrado o número redondo no jogo de Taça com o Benfica a meio da semana, contabilizando uma primeira partida pelo Sporting B, um ano e meio antes. Aos 37 anos, são quase duas décadas a jogar muito, em quantidade e qualidade. E a história continua em Braga.

O Sporting é o clube que João Moutinho representou mais vezes, são no total 259 jogos. Depois vem o Mónaco, com 219, o Wolverhampton, com 212, o FC Porto, com 140, e agora o Sp. Braga, onde leva 24 jogos desde o início da época. É de resto o segundo jogador da história com mais jogos pela seleção nacional, 146 partidas. Nestes 1000 jogos, marcou 68 golos. E deu tantos, tantos a marcar.

A estreia frente ao… primo

Foi a 4 de janeiro de 2005 que João Moutinho, então com 18 anos, saiu do banco aos 72 minutos para render Hugo Viana, lançado por José Peseiro num jogo de Taça de Portugal frente ao Pampilhosa. Está aqui o relato ao minuto desse jogo no Maisfutebol.

Um ano mais tarde, Moutinho participou num chat com os leitores do Maisfutebol e recordava o «nervoso miudinho» dessa estreia. Lembrava também outro facto curioso – teve por adversário o seu primo, Hugo Moutinho, médio que tinha passado também pela formação do Sporting.

Os sonhos do adolescente que já se via como treinador

Nessa conversa com os leitores, o ainda adolescente Moutinho, que já tinha jogado a final da então Taça UEFA de 2005 com o Sporting, falava sobre os seus sonhos: «Chegar a uma final europeia e vencer. A nível de Seleção o meu sonho é marcar presença numa final de um Europeu ou de um Mundial.» Foi além disso. Venceu a Liga Europa com o FC Porto e foi campeão europeu, um dos protagonistas da conquista do Euro 2016 por Portugal. Também já definia como objetivo ser treinador depois de terminar a carreira. Ainda é esse o seu plano.

Filho do antigo jogador Nelson Moutinho, João nasceu em Portimão e começou a formação no Portimonense, mas chegou cedo ao Sporting, aos 13 anos. Também chegou cedo às seleções e ainda em 2003 festejou com Portugal o título de campeão europeu de sub-17. Nesse verão estreou-se pelo Sporting B em Vendas Novas, entrando em campo aos 80 minutos em Vendas Novas, em jogo da 2ª jornada da então II Divisão B. Foi com os sub-19 que continuou o percurso - em 2004/05 integrou a equipa principal, mas ainda fez parte da campanha da conquista do Nacional de juniores, sob o comando de Paulo Bento.

De capitão no Sporting à saída polémica

Na temporada seguinte, quando Paulo Bento assumiu o banco, tornou-se em definitivo referência do meio-campo dos leões. À qualidade técnica, ao toque requintado de bola, à visão de jogo e de passe aliou uma regularidade impressionante. Teve duas séries de 95 jogos consecutivos, primeiro entre fevereiro de 2005 e março de 2007, depois entre abril de 2007 e fevereiro de 2009. Em Alvalade celebrou a conquista de duas Taças de Portugal e duas Supertaças, ele que assumiu a braçadeira de capitão aos 20 anos.

A saída do Sporting começou a desenhar-se em 2008, quando assumiu a vontade de deixar Alvalade, mas só se consumou no verão de 2010. Assinou pelo FC Porto no início de julho, num negócio de 11 milhões de euros que envolveu ainda a transferência de Nuno André Coelho para o Sporting. A mudança fez correr muita tinta, com José Eduardo Bettencourt, então presidente dos leões, a chamar «maçã podre» a Moutinho. E deu que falar durante muito tempo, também por causa das mais-valias a que o Sporting tinha direito numa futura transferência – em 2017, ainda se falava no acerto dessas contas.

Três anos de sucessos no Dragão e campeão no Mónaco

No Dragão, Moutinho foi, como em todas equipas onde jogou, referência. Jogo refinado, sempre fiável. Viveu com o FC Porto três temporadas de sucesso. Foi três vezes campeão nacional, ganhou a Liga Europa, na final frente ao Sp. Braga, e ainda uma Taça de Portugal e três Supertaças. No verão de 2013 deixou o FC Porto para assinar pelo Mónaco.

Foram cinco épocas no Principado, onde foi mais uma vez indiscutível, num percurso que teve como ponto alto a conquista do campeonato francês em 2016, sob o comando de Leonardo Jardim e ao lado de Bernardo Silva, Ricardo Carvalho ou Fábio Coentrão, além de um tal de Mbappé.

Da Ligue 1 para a Premier League, em 2018 foi para outro clube com muitas ligações portuguesas. Foram mais cinco temporadas no Wolverhampton, até terminar o vínculo. No verão passado, esteve em cima da mesa o regresso ao FC Porto, mas acabou por rumar a Braga. Não aconteceu, disse Sérgio Conceição, por uma questão de timing.

Uma história de ouro na seleção

Para lá do percurso nos clubes, João Moutinho tem uma história de ouro na seleção nacional. Campeão da Europa, tem ainda no palmarés a Liga das Nações, 146 jogos desde a estreia aos 18 anos, em agosto de 2005. Depois disso ainda voltou aos sub-21, para jogar os Europeus de 2006 e 2007. Não esteve no Mundial 2006, mas foi titular no Euro 2008. Ficou fora das opções de Carlos Queiroz para o Mundial 2010, mas voltou a ser referência daí para a frente, anos a fio.

Portugal não teve durante as últimas duas décadas falta de opções de qualidade para o meio-campo, mas Moutinho foi sempre o denominador comum. Com pontos altos como a campanha de apuramento para o Mundial 2014 – por exemplo nas assistências de luxo para o show de Cristiano Ronaldo no play-off com a Suécia -, ou do Euro 2016. Foi dele o golo que selou o apuramento de Portugal, frente à Dinamarca.

O golo de Eder começa nele

Em França, só falhou o jogo dos oitavos de final com a Croácia. Nos quartos de final, Cristiano Ronaldo chamou-o e ele bateu mesmo bem o penálti frente à Polónia – ele que tinha falhado uma das grandes penalidades no desempate com a Espanha no Euro 2012. Depois, é em Moutinho que começa o golo que fez de Portugal campeão da Europa na final do Stade de France. Recupera a bola, passa para William, que dá para Quaresma, que devolve a Moutinho, que passa para Eder. Está aqui esse momento eterno, contado por ele.