Shankly dizia que o futebol não era uma questão de vida ou de morte. Era muito mais que isso.

Para o Rio Ave era uma questão de sobrevivência na Liga. Ou de vida ou de morte. Apesar do esforço, a equipa de Vila do Conde não teve qualidade para superar o Arouca, perdeu por 2-0 e acabou por descer à II Liga 13 anos depois.

Os números não escondem a superioridade arouquense neste play-off: 5-0 no total dos dois jogos. Estes resultados devem fazer corar de vergonha toda a estrutura do Rio Ave, que não esteve à altura dos seus pergaminhos.

Diz o lema «Embarca rumo à vitória», porém, os vilacondenses estiveram sempre à deriva durante a época. De resto, o facto de Augusto Gama se ter tornado, esta tarde, no quarto timoneiro da nau verde e branco é sintomático. 

Tal como aconteceu no passado recente do futebol português, o Rio Ave padeceu todo o ano da síndrome europeia. Os vilacondenses foram a primeira equipa a iniciar a temporada em Portugal, estiveram perto de afastar o AC Milan, e acabaram relegados para a II Liga.

Por outro lado, o Arouca está de volta quatro anos depois. Os arouquenses padecerem da mesma síndrome em 2016/17, ano em que desceram à II Liga. Caíram, mas tiveram o mérito de se levantarem.

Sem Miguel Cardoso no banco, embora a sua saída não tenha sido oficializada até ao momento, Augusto Gama fez cinco alterações em relação ao jogo de Arouca e recuperou Tarantini e Coentrão. O Rio Ave iniciou o jogo com muita alma e cheio de vontade de inverter o resultado negativo da primeira mão.

O primeiro desafio, encarar o jogo da maneira certa, parecia superado. Todavia, o futebol apresentado pela equipa não acompanhou a determinação. Os vilacondenses usaram e abusaram do jogo direto e dos cruzamentos para a área, inúmeras vezes sem qualquer nexo. Consequentemente, as oportunidades de golo escassearam - as exceções foram um cabeceamento de Tarantini e um remate de Mané que Victor Braga largou.

O Arouca entrou nos Arcos ciente do que tinha de fazer. A equipa de Evangelista aguentou a pressão inicial e começou a soltar-se lentamente. No fundo, foi cínica, fria e calculista. E acabou por ser feliz: após combinar com Pedro Moreira, Arsénio rematou dentro da área, Aderllan desviou e traiu Kieszek.

O golo foi um punhal cravado no coração do Rio Ave. Augusto Gama alterou ao intervalo, colocando Ronan no lugar de Ivo Pinto. O resultado não poderia ser pior: a equipa partiu-se e sofreu como nunca tinha sofrido até então.

O Arouca foi melhor e dispôs várias oportunidades para chegar ao 2-0 e começar a celebrar a subida. Velázquez mostrou a Bukia como se faz (extremo havia falhado uma oportunidade escandalosa minutos antes) e desviou o cruzamento de Quaresma para o fundo da baliza adversária.

Com o jogo resolvido, o Rio Ave jogou os trinta minutos finais pela honra e pelo brio. Não se pode apontar falta de vontade aos jogadores verde e brancos que estiveram perto de conseguir o golo de honra um punhado de vezes por Ronan e Tarantini – cabeceamento ao ferro.

A síndrome europeia, raios.