Não fosse Jonas e o Benfica tinha continuado a bater com a cabeça na parede, de forma quase masoquista. Com a cabeça demasiado tempo debaixo de água e os olhos fechados, incapaz de encontrar alternativas, com a respiração ofegante.

A analogia utilizada por Rui Vitória na antevisão do encontro pode ter desgradado à Federação Portuguesa de Natação mas é útil para descrever a receção ao Rio Ave (e muito do que tem acontecido esta época, na verdade). O Benfica revelou os problemas habituais e foi várias vezes assobiado pelos adeptos. Valeu a perseverança de Jonas a fazer a equipa respirar com dois golos e uma assistência, construindo um resultado bastante enganador.

Os bicampeões nacionais até entraram no jogo praticamente a ganhar, aproveitando um bride de natal de Lionn. O lateral direito do Rio Ave saiu das quatro linhas para trocar de chuteiras, logo aos quatro minutos, e o Benfica aproveitou para marcar por Jonas.

Em vantagem no marcador, e com a possibilidade de ser mais paciente no ataque, o Benfica revelou-se incapaz de dominar o jogo. Claro que o Rio Ave tem mérito também na forma como reagiu, como dividiu o jogo, e foi premiado com o empate logo aos 13 minutos. O livre direto de Renan Bressan devolveu tudo à estaca zero.

O Benfica reagiu de imediato, com um lance em que Cássio nega o golo a Pizzi (19m), mas ficou por aí. Depois vieram as dificuldades habituais no ataque: previsibilidade, falta de criatividade, lentidão. Uma equipa entregue a rasgos individuais.

As «águias» ainda pediram penálti aos 30 minutos, por mão na bola de Wakaso, mas o médio do Rio Ave tem o braço praticamente encostado ao corpo. No início da segunda parte repetiram-se os protestos, mas aqui com Marcelo apanhado com o braço levantado, embora o central brasileiro tenha sido surpreendido por um ressalto muito próximo.

Apostas sem risco mas premiadas

O Benfica entrou para a segunda parte com Fejsa no lugar do amarelado Samaris, numa alteração que nada contribuiu para melhorar a produção ofensiva da equipa. Rui Vitória foi algo conservador nas substituições, de resto, trocando depois Guedes por Carcela e Mitroglou por Jiménez.

Se em termos estratégicos pouco mudou, o rendimento dos atletas lançados no decorrer da etapa complementar justificou a aposta. Carcela veio agitar o encontro e acabou por fazer a assistência para o 2-1, apontado por Jonas a nove minutos do fim.

Absolutamente decisivo (ainda para mais quando não há Gaitán), o brasileiro ainda fez a assistência para o terceiro tento, apontado por Jiménez logo a seguir (83m).

O Rio Ave passou grande parte do jogo relativamente confortável do ponto de vista defensivo, mas acabou por pagar também por alguma falta de acutilância no ataque. A equipa de Pedro Martins fez apenas cinco remates à baliza e no final do encontro até arriscou uma derrota mais pesada, perante o remate de Pizzi à trave e o golo anulado a Jiménez por fora de jogo. Mas pese embora este final descompensado a derrota por dois golos não reflete aquilo a que se assistiu.

O Benfica regressa às vitórias, e é sempre melhor trabalhar com essa base, mas a equipa de Rui Vitória continua a revelar lacunas gritantes.