Muita luta, pouco jogo. Muita transpiração, pouca inspiração. Muito querer, pouca arte. Boavista e Paços de Ferreira não saíram do nulo no Estádio do Bessa, num jogo pobre, com poucas ocasiões e em que, cedo de mais, o foco se centrou em temas paralelos, como a arbitragem, ainda por cima sem grandes motivos para isso. Fica o resultado, que não dá festa a ninguém, nem é desastroso. É um pontinho para ambos. Que é bem-vindo pelos dois treinadores mas que, certamente, poderia vir acompanhado de melhor futebol.

Começando pelos homens da casa. O problema do Boavista é que, a dada altura, pareceu mais interessado em jogar contra o árbitro do que contra o Paços de Ferreira. Nervosismo a mais, protestos em catadupa, atitudes que poderiam colocar em causa todo o plano.

Idris, então, teve uma atitude incompreensível, exagerando nos protestos escassos minutos depois de ver um amarelo e acabando mesmo por ver o segundo. Num jogo em que pouca coisa saiu bem aos homens do Bessa, a estratégia de pressão em Gonçalo Martins foi, também, um plano furado, até porque este acertou a maior parte das decisões, com a grande penalidade cometida por Bruno Santos à cabeça.

Faltou calma ao Boavista para aproveitar esse lance, logo aos 11 minutos, e numa altura em que nenhuma equipa tinha feito o suficiente para marcar. Fábio Espinho atirou ao lado o que poderia ser uma história totalmente diferente para este jogo.

As duas equipas entraram em campo com várias mexidas importantes. No Boavista não havia Vagner, Anderson Carvalho e Renato Santos (o único do trio a ir ao banco), entrando Meira, Carraça e Rochinha. Do lado pacense, os maiores destaques foram as ausências de Pedrinho, tocado, e Welthon, entrando para os seus lugares Andrezinho e Luiz Phellype. Se o primeiro esteve à altura e foi dos melhores do Paços, o segundo passou ao lado do jogo.

O desafio, então, como se disse, foi mais de luta do que de futebol. O primeiro tempo foi dividido, o segundo teve o Paços de Ferreira mais tempo por cima, aproveitando a referida expulsão de Idris e consequente vantagem numérica. Mas com pouco para mostrar.

Se o Boavista teve os seus dilemas, o Paços não sai com folha limpa. O problema é que a equipa de Vasco Seabra, mesmo tendo mais bola, poucas vezes conseguiu furar e incomodar, verdadeiramente, o último reduto axadrezado. Os lances de perigo foram uma raridade em todo o jogo.

Além do penálti, da primeira parte ficam dois remates ao lado para homens do Paços. Luiz Phellype, na única vez que apareceu no jogo, desviou mal um centro de Filipe Ferreira. Diego Medeiros aproveitou um buraco à entrada da área para tentar a sorte, já em cima do intervalo, mas não acertou no alvo.

O segundo tempo não foi muito diferente. Mesmo quando os treinadores começaram a mudar as peças.

Miguel Leal começou por socorrer-se de Renato Santos, mais tarde de Schembri, em duas trocas simples no ataque. Vasco Seabra mudou ligeiramente o esquema à primeira. Melhor dizendo, a forma de jogar, porque as peças continuavam no mesmo sítio. Trocando Luiz Phellype por Ivo Rodrigues, puxou Ricardo Valente para o centro, apostando num homem mais móvel. No minuto seguinte à troca, Valente ganhou uma bola na área, rodou e atirou ao lado. Pouco depois fugiu e tentou assistir Ivo Rodrigues. Instantes que davam ideia de uma mexida que funcionava, mas que não tiveram seguimento, até porque o Boavista percebera, entretanto, a nova lógica pacense e, já liberto do esforço de pressionar o árbitro, voltou a entrar no jogo com a qualidade que esta equipa já provou ter.

Assim, encurtou o espaço ao Paços e apostou num contra-ataque que desse o triunfo. Até porque, desde a troca de Andrezinho por Minhoca que o Paços perdera qualidade na posse e tentava um jogo mais direto. Um contra-ataque que Ricardo Valente desperdiçou, atirando por cima, já no último quarto de hora, foi o melhor exemplo disso.

Mas a melhor ocasião para desfazer o nulo foi mesmo do Boavista. Schembri obrigou Defendi à defesa da tarde, com um remate à queima-roupa, após centro de Edu Machado.

O empate é certo pelo que o Paços de Ferreira não fez com um a mais e pelo que o Boavista conseguiu fazer quando assentou ideias e, metaforicamente, tomou um banho gelado no relvado para que os nervos passassem.

Fica adiada a festa da manutenção do Paços, embora a desejada marca dos 30 pontos, fique, agora, a apenas um de distância. O Boavista tem 35, a melhor pontuação desde o regresso à Liga, e segue firme rumo à meta da melhor classificação possível.