O Benfica colocou em risco a liderança no campeonato no último compromisso antes do clássico com o FC Porto. O empate em Paços de Ferreira foi a consequência natural de uma realidade que o tricampeão foi enfrentando nos últimos meses, sobretudo fora de portas: tem jogado no limite. Desta vez, ao contrário de outras vezes, não chegou (0-0).

Não houve estrelas nem estrela que valessem às águias. O topo está ao alcance do FC Porto.

Já em período de descontos, com um livre frontal em zona perigosa, Jonas decidiu tentar picar a bola por cima da barreira. Seria um lance estudado, algo assim, completamente sem sentido. No fundo, um reflexo do que foi este Benfica na Mata Real. Uma equipa com poucas e más ideias.

O jogo terminou com uma grande sensação de golo, a maior sensação de golo desde um remate do meio da rua de Eliseu, ao minuto 26. Jonas podia ter marcado, é certo, mas seria mais do mesmo, um triunfo em esforço e não em arte.

Os adeptos do Benfica, que mais uma vez encheram um estádio a norte, despediram-se da equipa com protestos. Responderam aos aplausos da equipa com insultos e uma tocha. Samaris foi o que mais se aproximou, irritou-se com o protesto da claque e virou costas.

Quando começámos a escrever esta crónica, Salvio tinha finalmente abandonado o retângulo de jogo. Fraquíssimo desempenho em Paços de Ferreira, a somar a outros de igual valia. A insistência no argentino é discutível.

O Benfica, aliás, surgiu na Capital do Móvel com vontade de ter a bola e sem capacidade para tratar dela nos flancos ofensivos. Enquanto Salvio se perdia naquele jogo só seu, Zivkovic tirava cruzamento atrás de cruzamento. Durante uma hora, foi uma aposta sem sentido.

Perante um Paços de Ferreira remetido ao seu meio-campo, a equipa de Rui Vitória terminou a primeira parte com impressionantes 82,5 por cento de posse de bola. Uma percentagem elevadíssima, a descrever um sufoco constante para o adversário. Porém, de pouco valeu.

Sobrava ao intervalo o registo de um remate ao poste de Eliseu, do meio da rua, e nada mais enquadrado com a baliza de Rafael Defendi. Aqui, a responsabilidade passe igualmente por Jonas e Mitroglou, que raramente encontraram vias alternativas no corredor central.

Do outro lado, é certo, percebeu-se que a estratégia de Vasco Seabra passava por duplos bloqueios nas laterais (com os extremos a auxiliarem os defesas) e à frente da grande área, com Filipe Melo e Vasco Rocha a apoiarem os centrais. Sobrava Pedrinho à procura da bola para lançar o poderoso Welthon.

Pedrinho e Welthon, aliás, protagonizaram o único lance de perigo do Paços na primeira parte.

Face ao atual quadro do Benfica, Rui Vitória não se pode dar ao luxo de prescindir de Pizzi. O médio vai gerindo a sua folha disciplinar (evitou novamente um amarelo, ficando disponível para o Clássico) e tenta pegar no jogo de todas as formas e feitos. Quando não consegue, a equipa ressente-se. Samaris, em exibição esforçada, procurou auxiliar na tarefa. Não é a mesma coisa.

Na segunda parte tudo mudou. O Paços decidiu abrir o jogo e aproximar-se da baliza de Ederson, algo que estaria certamente nos seus planos.

Viu-se então um adversário incómodo para o tricampeão nacional, com Diego Medeiros – há um par de meses estava no Famalicão – a obrigar Ederson a duas defesas e Welthon, a grande referência dos castores, a lançar uma séria ameaça de golo na cobrança de um livre direto (64m).

O Benfica ia renovando o seu jogo pelos flancos, não tirou partido do adiantamento de linhas do Paços mas conseguia ser mais perigoso pelos ares. Uma vez mais, sem grande coisa a retirar desses raides. Do outro lado, Luisão acumulava cortes providenciais.

Rui Vitória percebia onde estava um dos grandes problemas mas não outro. Depois de Salvio por Rafa, trocou Zivkovic por Cervi. Porém, faltava algo diferente no centro de ataque, realidade que o treinador encarnado demorou a combater. Ao minuto 80 sacrificou Eliseu para apostar tudo com Raúl Jiménez.

O Paços de Ferreira foi procurando manter o seu jogo positivo, em nítido contraste com a primeira metade. Pedrinho cresceu a olhos vistos, os centrais e Filipe Melo iam resolvendo. Rafael Defendi ia estando lá para o resto.

Nos minutos finais deixou de haver duelo repartido, discussão de jogo até. Era o Benfica completamente instalado no meio-campo contrário, correndo todos os riscos, três/quatro/cinco homens na área à procura de um desvio.

Não seria a primeira vez que a equipa de Rui Vitória ganhava em esforço, no limite. Com estrela, com fé. Porque arte é algo que lhe vai faltando, sejamos honestos.