Profanar a essência do futebol é um pecado capital e o FC Porto insiste em fazê-lo. Crime irreparável para as ambições (e necessidades) da equipa em Paços de Ferreira. Oportunidades de golo falhadas a um ritmo alucinante, quase perverso, e um nulo com sabor a derrota.

Uma, duas, três, sete situações claras para o FC Porto fazer golo na Mata Real, todas desperdiçadas. Ou por mérito de Rafael Defendi, ou por precipitação do protagonista (Diogo Jota, no regresso a casa, falhou duas escandalosas), ou por deficiência na execução técnica (Óliver no primeiro tempo)…

As razões para esta atração pela vida de bon vivant descomprometido na relação com a baliza são várias, todas preocupantes. E são, naturalmente, o mais evidente motivo para o FC Porto estar agora a seis pontos da liderança e ainda mais longe do sonho do título.

Em determinados momentos, ver o FC Porto jogar contém a mesma dose de prazer de uma bela cerveja deslavada. Há promessas servidas com sofreguidão, um contato visual malandro, e a deceção assim que futebol escorre pelas gargantas abaixo.

FICHA DE JOGO E NOTAS DO P. FERREIRA-FC PORTO

No fundo, as ideias de Nuno Espírito Santo habitam um universo semelhante ao de Truman Show. São interessantes no papel – e no quadro exibido aos jornalistas -, mas limitadas no tempo e no espaço. Chegam a um ponto em que obrigam o FC Porto a bater com a cabeça na tela e a perceber que não há nada nelas que permita ir mais além.

Posto isto, é importante sublinhar que só o FC Porto fez por merecer a vitória. A equipa tentou, empurrou o Paços para a sua grande área na esmagadora maioria do tempo, mas faltou a intensidade que teve na primeira parte contra o Moreirense e, lá está, um plano de jogo que diversificasse as aproximações à área do Paços.

Se a bola tivesse entrado numa das muitas possibilidades de golo, talvez fossemos obrigados a escrever algo diferente. Assim, sobram palavras para exprimir a esterilidade do ataque e a previsibilidade de grande parte dos movimentos.

Em relação ao Paços, muito mais organizado desde a entrada de Vasco Seabra, os elogios vão direitinhos para a concentração defensiva e para o correto posicionamento de todas as peças, num 4x2x3x1 que não se atreve muito no ataque.

OS DESTAQUES DO JOGO: Rafael Defendi, Óliver e Rúben Neves

Os pacenses saem com um ponto nas mãos e queixas absolutamente justas para um lance na área azul e branca, aos 15 minutos: Welthon cabeceia e a bola bate no braço de Alex Telles, completamente aberto.

Há outro lance passível de discussão na área do Paços logo no início, também com bola num braço, mas esse é muito menos claro. Sobre Artur Soares Dias, já agora, é importante referir que tentou passar uma imagem de tranquilidade, depois de uma semana complicada para a arbitragem portuguesa.

Nuno tem muito para pensar e decidir durante o mês de janeiro. Laurent Depoitre, num jogo sem golos, nem sequer saiu do banco; Nuno preferiu o menino Rui Pedro, João Carlos Teixeira e o eterno Silvestre Varela para a derradeira ofensiva à baliza bem guardada por Rafael Defendi.

Já agora, para final de conversa: contámos pelo menos 14 cantos e seis livres em zona ofensiva a favorecer o FC Porto; qual o aproveitamento da equipa nestas jogadas? Zero, penoso.