Surpresa? Só para quem não viu.

A frase feita serve para 1001 jogos de futebol, quando o resultado não é bem aquele que a maioria aposta. Este encaixa na sentença e, agora, cabe-nos explicar porquê. De facto, até hoje, o Moreirense nunca tinha ganho na Mata Real mas aproveitou da melhor maneira uma noite para esquecer do Paços de Ferreira com um futebol organizado e letal. Marcou cedo, controlou, desferiu o golpe final quando teve oportunidade para isso. Venceu, enfim, com justiça.

Augusto Inácio colocou em campo uma equipa compacta, com dois pilares chamados Cauê e Fernando Alexandre a dar apoio constante à defesa e ao ataque. Foi bem mais arguto do que Vasco Seabra, fechou o futebol do rival num espaço confinado que lhe favorecia e conseguiu ser feliz.

Beneficiou, contudo, de algumas facilidades pacenses. Não perdeu por falta de comparência, mas a falta de ideias do Paços foi evidente ao longo de todo o jogo. A ponto, inclusive, de enervar os adeptos que não pouparam os assobios enquanto a bola ia rodando no meio campo defensivo sem que ninguém visse uma brecha por onde furar.

Vasco Seabra apostou num duplo pivot formado por Mateus e Vasco Rocha e nenhum conseguiu assumiu o papel de primeiro construtor de jogo. Pedrinho, que não atravessa o melhor dos momentos, tinha de vir atrás pegar na bola e, ao fazê-lo, ficava demasiado longe da baliza e era presa fácil para a organizada equipa do Moreirense.

Faça-se, então, nova pausa para elogiar a disciplina que Augusto Inácio incutiu num onze que não precisou de ser brilhante para ser melhor.

É verdade que o golo de Roberto, o melhor em campo, a fechar o primeiro quarto de hora, numa finalização de classe sobre Defendi, deu conforto e, sobretudo, validade à estratégia de contenção e contra-golpe. Mas o Moreirense até poderia ter marcado noutros lances, sobretudo num cabeceamento do mesmo Roberto a rasar a trave e noutro par de iniciativas normalmente iniciadas em Podence. Do Paços do primeiro tempo fica apenas um remate forte de Pedrinho que Makaridze travou com dificuldades.

O mau primeiro tempo do Paços teve consequências naturais no descanso. Mateus deu o lugar a Andrézinho para tentar dar a tal qualidade que faltava a sair. Minhoca foi trocado por Ivo Rodrigues, numa nova aposta para o flanco.

Mas as mudanças pouco alteraram no jogo em si. Sobretudo porque, num erro ao tentar construir um ataque, o Paços permitiu uma transição rápida ao Moreirense que deu, então, o golpe fatal. Assistência de Roberto e finalização de Daniel Podence à saída de Defendi. Faltava mais de meia hora mas a não ser que houvesse uma volta de 180 graus, estava encontrado o vencedor.

E não houve. O Paços até beneficiou de uma grande penalidade que Pedrinho desperdiçou, permitindo a defesa a Makaridze, mas pouco mais. Muito pobre.

Ivo Rodrigues e Barnes Osei, que entrou já com 0-2, ainda levaram o perigo à área do rival, mas faltou sempre definir melhor. O problema deixou de ser chegar lá e passou a ser o que fazer depois de lá chegar.

Passou o tempo entre a indecisão e desorientação pacense. O Moreirense ficou cada vez mais confortável, agarrou os três pontos e não mais os largou. Foi frio na noite gélida. Letal entre o indefinido. Feliz numa casa triste onde não há vitórias há um mês.

Estão agora igualados na Liga os dois conjuntos. Nos pontos, sublinhe-se. A moral pacense é bem inferior à dos Cónegos por esta altura e o que se passou em campo explica-o.