Tom fúnebre, requiem para sonorizar a crise. Derrota feia do FC Porto na Mata Real, capítulo um da tal pré-época anunciada pelo presidente do FC Porto, a alto e bom som. Notas negativas a distribuir por quase todos, não há inocentes no livro azul e branco de horrores.

Fala-se em caráter, e muito bem, mas à lista de demandas deve acrescentar-se mais uns ingredientes. A começar pela qualidade. Sem ela, nem a organização – razoável em Paços Ferreira – faz grande sentido.

Posicionar bem as peças pode ser um bom começo, mas quando a bola chega à frente e morre em más receções e péssimas decisões, de pouco ou nada vale o acerto tático.

FICHA DE JOGO DO PAÇOS FERREIRA-FC PORTO

Começamos por aqui para identificar o mais visível dos problemas do FC Porto na Capital do Móvel. Suk teve uma tarde de esforço desinspirado e revelou fragilidades estranhas para um profissional – André Silva fez mais e melhor em 15 minutos; Varela, titular pela primeira vez na Liga desde agosto, produziu pouco e quase sempre mal; Corona, o menos mau dos da frente, trocou com Brahimi ao intervalo. A equipa ficou a perder.

Esta amargura na execução ofensiva mói. Limita e incomoda a equipa. Condiciona o que de bom o meio campo consegue fazer – Danilo e Sérgio Oliveira levam as notas menos más – e confundem o analista. Onde começa e onde acaba a fragilidade no futebol do FC Porto?

Tudo isto perante um Paços longe, muito longe, da equipa competente e atraente da primeira volta. Massacrados por castigos e lesões, os castores passaram o primeiro tempo encostados às cordas, sem passarem por verdadeiras aflições, e soltaram-se no segundo tempo, comandados pelo menino Diogo Jota.

O golo, do próprio Jota, acaba por castigar a nulidade do Porto no segundo tempo, ainda pior do que o primeiro. Perda de bola de Layún – uma sombra do atleta competitivo que conhecemos -, Edson Farias dá em Cícero e este entrega para o remate fatal. Para os portistas, claro.

O PAÇOS-FC PORTO VISTO AO MINUTO

O FC Porto joga pouco e perde como nunca antes de viu. A equipa banalizou a relação com a derrota e continua a rolar ladeira abaixo, levando à frente o pouco que sobrava do clube dominador, verdadeiro monstro de conquistas em Portugal e na Europa.

Esmagado por este percurso dantesco, catastrofista, está José Peseiro. E vale a pena falar um pouco do treinador.

Recebeu um plantel que não era seu, mas agora é; recebeu uma equipa habituada a uma filosofia distinta, mas que agora pratica a sua; herdou um grupo aquém do esperado na luta pelos objetivos normais, mas agora despedaçou-os.

Peseiro não é o principal culpado desta lengalenga miserável que é a época 2015/16 do FC Porto. Mas, e há sempre um mas, é protagonista importante nos derradeiros volumes, quiçá os piores. A mensagem não está a passar e a imagem de José Peseiro desgasta-se jogo após jogo.

O Paços vence o segundo jogo nas últimas 12 jornadas e reentra na luta pelo acesso à UEFA; o FC Porto, apesar das tentativas embaladas pelo desespero nos últimos minutos, perde o sexto jogo nos últimos 12 compromissos oficiais.

«Vocês são uma vergonha», continua a entoar a claque no final dos jogos. Até quando? O FC Porto bateu no fundo e agoniza, inerte, num lugar escuro.