Ainda não é matematicamente garantido, mas deverá estar muito perto de se confirmar: o Boavista, na época de regresso à Liga, vai concretizar uma espécie de… milagre da salvação.

Com 28 pontos (fruto de oito vitórias, quatro empates e 14 derrotas), em 13.º lugar, o conjunto axadrezado tem nove pontos à maior na fuga à despromoção.
 
Este sábado, em Penafiel, uma possível vitória boavisteira colocará a formação de Petit acima dos 30 pontos.
 
Diz quem faz ao pormenor estas contas que isso significará a garantia de permanência na Liga principal: e ainda ficarão a faltar sete jornadas.
  
Há precisamente um ano, no início de abril de 2014, era decretada a reintegração do Boavista na Liga, depois de um período extremamente difícil para o clube do Bessa, que durou seis anos, desde que, em maio de 2008, o processo «Apito Final» arrastou os axadrezados para a II Liga, tendo depois descido (desportivamente) à então designada II Divisão B (terceiro escalão).
  
O Boavista ainda viria a cumprir dois meses fora dos escalões profissionais, mas foi, a partir daí, que a verdadeira «ressurreição» da pantera.
 
Mas  sejamos claros: a ideia dominante, entre homens do futebol, dirigentes, treinadores, jogadores, jornalistas, era, até há uns meses, a de que «este Boavista não vai ter hipóteses».
 
Peixe fora de água -- tão longe dos patamares atingidos quando foi campeão nacional em 2001 e chegou longe na Europa em várias épocas -- o Boavista 14/15 iniciou a temporada com plantel de nomes praticamente desconhecidos e jogadores inexperientes. 

De volta ao topo, mas ainda sem qualquer indemnização compensatória dos anos fora dos campeonatos profissionais (o Boavista exige 24 milhões à FPF), a sentença antecipada de «descida à II Liga» era quase unânime.

Da condenação antecipada à surpresa gradual

Até se faziam apostas sobre quem iria acompanhar o Boavista nessa despromoção, num cenário, um pouco bizarro, de haver apenas uma «vaga» na indesejada lista de clubes a cair do escalão principal.
 
Qual quê: o Boavista foi fazendo o seu caminho, não começou bem, precisou de quatro jornadas para somar os primeiros pontos ( vitória 1-0 sobre a Académica, a 14 de setembro), mas logo a seguir, na jornada 5, teve a primeira grande prova de que poderia surpreender os mais céticos: empate no Dragão, em jogo atípico, muito marcado pelo estado do relvado em noite de temporal na invicta e pela expulsão precoce do portista Maicon. 

Os meses seguintes confirmaram o crescimento boavisteiro, sobretudo nos jogos em casa. O triunfo sobre a Académica não foi exceção pontual. Teve repetições pouco depois frente ao Gil Vicente ( 3-2, 28 de setembro), Penafiel ( 1-0, 9 de novembro), Arouca ( 3-1, 4 de janeiro), Sp. Braga ( 1-0, 25 de janeiro), V. Guimarães ( 3-1, 8 de março) e Belenenses ( 1-0, 22 de março).

São já sete vitórias no Bessa para a Liga (à qual se soma o único triunfo fora de portas, em Setúbal, 0-1, a 12 de dezembro).

O fator Bessa

Haverá um «fator Bessa» a explicar esta espécie de... milagre boavisteiro? 

Litos, capitão do Boavista na fase áurea dos axadrezados, antigo central que depois dos anos de ouro no Bessa atuou no Malaga e na Académica (terminou a carreira em 2008), comenta à Maisfutebol Total: «Os jogos no Bessa têm uma carga especial. Pelo estádio que é, pelo apoio do público. E depois porque a forma como o Petit tem preparados as partidas, ele já conseguiu incutir no grupo a força de jogar no Bessa».

O Boavista é a única equipa das ligas a atuar em casa em relvado sintético. Será esse um fator extra para os jogos em casa, nem que seja por uma reação psicológica dos adversários? Litos acha que não: «Qualquer profissional está preparado para jogar num sintético. Ganha lá quem for melhor, tal como acontece nos outros relvados. É certo que os jogadores do Boavista estão mais habituados, mas não é isso que tem sido decisivo. O Boavista é muito forte no Bessa porque o Petit conseguiu transmitir à equipa a identidade do clube».

A raça de Petit

Esta ideia de Litos remete-nos para outra explicação forte para o «milagre boavisteiro» desta época: Petit, solução que gerou reservas e desconfianças em muita gente, está a provar que foi escolha certa para levar o Boavista à permanência nesta época de regresso ao futuro.

«Ele está a provar que pode ser um bom treinador. É alguém que tem pefeito conhecimento do que é o Boavista. E que conseguiu transmitir ao plantel o que é jogar num clube de referência, que passou por dificuldades, mas que continua a ser uma referência no futebol português», aponta Litos.

O capitão do Boavista no ano do título especifica: «Este Boavista do Petit é uma equipa de pressão e garrra. De raça, à imagem do Petit. Os jogadores dão tudo, correm muito, vão a todas as bolas...»

Menos qualidade mas algumas surpresas

Este Boavista está a fazer um milagre, mas a qualidade do plantel fica a léguas do que havia há uma década no Bessa.

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Litos contextualiza: «São outros tempos, é outra realidade. Haverá menos qualidade, sim, mas há juventude e alguma inexperiência. Ainda assim, há jogadores que têm mostrado muito valor. Já disse ao Petit que aquele lateral, miúdo que veio do Braga, o Afonso Figueiredo, tem muito potencial, há que apostar nele».

Destacado o jovem talento, Litos recentra o que considera essencial: «Este Boavista vale pelo coletivo. É um bloco. O espírito de equipa é o seu ponto de forte».

Por tudo isto, Litos não fica surpreendido com a quase salvação do Boavista com ainda oito rondas a disputar: «Há uma vontade muito grande do Petit, dos jogadores, dos responsáveis pelo clubem, em agarrar esta temporada de regresso, garantir a permanência o mais depressa possível. Uma vez conseguido esse objetivo, aí sim, haverá condições de pensar numa próxima temporada já com outros objetivos».

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