A FIGURA: Quaresma

Toma lá e marca. Se os centros de Quaresma esta noite dissessem alguma coisa seria isto. Primoroso mas nada previsível. Quaresma parece sempre conseguir encontrar um caminho diferente para fazer o que todos percebem que está a pensar. E, quase sempre, tem sucesso. Esta noite foi assim. Se excetuarmos o penálti convertido com sucesso, tudo o resto foi classe por linhas nada habituais. Ao seu estilo. Descobriu no segundo poste o ponto mais fraco do apático Estoril do primeiro tempo e inventou os dois golos desse período. As finalizações de Oliver e Aboubakar não foram simples, claro, pelo ângulo difícil, mas o velho chavão do «passe que é meio golo» foi inventado precisamente para estas alturas. Diferente também o golo que fechou o marcador: roubo de bola (em falta, pareceu), drible em Vagner e finalização. Dois golos, duas assistências. Noite mágica, em suma.
 
O MOMENTO: um hino em forma de golo (4-0)

Minuto 70. Não fosse esta obra de arte e o golo inaugural seria, certamente, o momento que mais marcou o FC Porto-Estoril. Mas é impossível ficar indiferente ao que fizeram Danilo, Aboubakar e Hernâni no 4-0. Danilo arrancou, tabelou com Hernâni, depois deu a Aboubakar que o isolou de calcanhar no momento mais precioso. Depois foi finalizar com frieza para a festa.
 
NEGATIVO: Estoril

Por mais adepto estorilista que possa ser, certamente ninguém exigia que a equipa da Amoreira jogasse de olhos nos olhos com o FC Porto ou, até, repetisse a vitória do ano passado. Mas deixar o Dragão sem um único remate à baliza (o único foi de Tozé e foi intercetado) é de uma pobreza nada habitual nesta equipa nos últimos anos. Convém mudar o cenário negro atual, porque ainda faltam vários jogos para o final da Liga e a matemática não garante a manutenção.
 
OUTROS DESTAQUES
 
DANILO

Capitão pulmão. No primeiro jogo depois de confirmada a venda ao Real Madrid, Danilo voltou ao vaivém pelo flanco direito a que tem habituado os adeptos portistas. Entendeu-se muito bem com Quaresma, ofereceu um golo a Aboubakar que Bruno Miguel tirou já com Vagner fora dos postes, e foi mais perigoso e dinâmico do que Alex Sandro na generalidade do tempo. Brilhante no 4-0: duas tabelas e finalização certeira. Voltou cheio de gás.
 
ABOUBAKAR
Só perdoa uma vez. Podia (devia) ter festejado mais cedo, quando Danilo lhe deu um golo feito e já sem Vagner na baliza. Mas redimiu-se com um toque de classe. O que usou para desviar o centro de Quaresma quase do mesmo local onde Oliver abrira o ativo. A classe voltou a fazer parte do seu menu no melhor golo da noite, o de Danilo. O calcanhar que isolou o colega é delicioso.
 
BRAHIMI
No final do jogo, e dado o resultado, poucos se lembrarão, mas antes do golo de Oliver, o perigo portista teve unicamente a sua assinatura. Colado à esquerda e apesar da marcação cerradíssima (chegou a ter três estorilistas em cima), foi animando o jogo e agitado as bancadas. Desperdiçou a primeira ocasião, no fecho do primeiro quarto de hora, depois de entrar de rompante na área, a passe de Danilo. Vagner tapou-lhe o espaço. Apagou-se quando o FC Porto ficou por cima, confirmando a ideia que é um jogador de momentos, mas voltou a surgir em alta no início da segunda parte: primeiro ficou a centímetros de um golaço, depois sofreu o penálti que valeu o 3-0. Deu o lugar a Hernâni pouco depois.
 
OLIVER TORRES
O ombro bom desbloqueou o jogo. O baixinho Oliver fugiu aos centrais contrários ao minuto 33 e abriu o ativo, num golpe de ângulo reduzido a meias entre a cabeça e o ombro direito. O ombro a dar motivos para sorrir, quando o contrário, o esquerdo, já o deixou em lágrimas duas vezes esta época.

CASEMIRO
Se o Estoril pouco criou ofensivamente, a culpa também é dele. Fechou todos os caminhos possíveis, com uma pujança física incrível. Continua em bom momento.