Bruno de Carvalho anunciou esta segunda-feira, num artigo publicado no Diário de Notícias, a compra de VMOC no valor de 17,5 milhões de euros, mantendo desta forma o controlo maioritário da SAD. Cada VMOC será adquirida a 30 cêntimos.

Ora as VMOC são Valores Mobiliários Obrigatorivamente Convertíveis, ou seja, valores que podem ser transformados pelos bancos em ações da SAD, o que colocava em risco a manutenção do controlo da sociedade desportiva.

O prazo de maturidade das VMOC estava adiado, segundo a última reestruturação financeira, para 2026, pelo que o Sporting tinha até então para as adquirir, ou estas transformar-se-iam em ações e o clube perderia o controlo da SAD. O preço de cada VMOC em 2026 seria da média do preço das ações nos últimos seis meses, mais 20 por cento dessa média.

Hoje em dia, por exemplo, o preço médio das ações nos últimos seis meses é de 70 cêntimos, o que significa que o preço de cada VMOC estaria fixado em 84 cêntimos: 70 cêntimos acrescido de 20 por cento.

O Sporting, no entanto, comprou-as a 30 cêntimos, ao abrigo de um novo acordo de reestruturação financeira, através do qual o clube negociou com o Novo Banco e o BCP a compra de toda as VMOC a um preço mais baixo. Ou seja, o Sporting comprometeu-se a comprar as VMOC todas anticipadamente, permitindo aos bancos receber o dinheiro antes de 2026, mas em contrapartida só paga cada uma a 30 cêntimos.

Ora para já, até ao início da próxima época, o Sporting vai comprar 17,5 milhões de euros em VMOC, ficando depois com a obrigatoriedade de comprar os restantes 23 milhões que ainda ficam na posse dos bancos. 

Comprando as VMOC, que tinham sido vendidas a um euro, por 30 cêntimos, o Sporting transforma uma dívida total que inicialmente era de 135 milhões de euros em, nesta altura, 40,5 milhões.

LEIA TAMBÉM: Sporting faz nova reestruturação financeira para compra das VMOC

E como é que o Sporting compra as referidas VMOC? Basicamente através do dinheiro na conta reserva.

A conta reserva foi um depósito aberto em 2013, ao abrigo da primeira reestruturação financeira feita por Bruno de Carvalho, que obrigava o Sporting a depositar 17,5 por cento de todas as receitas financeiros na referida conta.

Refira-se, já agora, que a reestruturação financeira obrigava também o Sporting a reservar mais 17,5 por cento de todas as receitas (com vendas de jogadores e prémios da UEFA) para abater a dívida bancária. Ou seja, 17,5 por cento das receitas iam para a conta reserva e outros 17,5 por cento iam diretamente para os bancos para abatar a dívida.

Mas o que interessa para este artigo é que 17,5 por cento de todas as receitas tinham de ser transferidos para a conta reserva e é através dessa conta reserva que o Sporting vai comprar as VMOC. Nesta altura, o referido depósito tem cinco milhões de euros, até início da próxima época terá os 17,5 milhões necessários para comprar as primeiras VMOC.

Depois disso começa a receber novamente depósitos decorrentes de futuras vendas, sendo que o Sporting está obrigado a ir gastando esses depósitos na compras de masi VMOC até as comprar todas.

O Sporting, como de resto farão Benfica e FC Porto em breve, está a aproveitar a abertura dos bancos para negociar em baixo a dívida de clubes que possuem, uma vez que há vontade dos próprios bancos (particularmente Novo Banco e BCP) de deixarem de estar expostos financeiramente aos referidos clubes.