Aquele Benfica que conquistou o bicampeonato nacional parece ter ficado no passado, guardado na memória coletiva, sujeito a um processo de reformulação que não transmite uma noção de tranquilidade e confiança inequívoca aos adeptos do clube. Mas há futuro, por certo. E ele passa por Renato Sanches.

Neste sábado, perante um Vitória que equilibrou a partida durante uma hora, foi o jovem médio a resolver o problema. A pontapé. Com personalidade, garra e vontade de afirmação (0-1). É um novo Benfica, ainda à procura de identidade plena, assente na inspiração de talentos como este médio lançado por Rui Vitória.

Objetivo conquistado com mácula e garantia de aproximação à dupla da frente, que entra em confronto no Estádio de Alvalade.

Sete meses se passaram desde a festa encarnada na Cidade Berço, fruto de um empate (0-0) na penúltima jornada da Liga 2014/15 e o contributo à medida do Belenenses perante o FC Porto.

O que mudou neste bicampeão nacional? Jorge Jesus, desde logo, a par das saídas de Maxi Pereira e Lima. Recordando o onze que conquistou o ponto decisivo em Guimarães, riscam-se ainda os nomes de Luisão e Salvio por lesão.

Rui Vitória regressou ao D. Afonso Henriques e impos voz grossa, a si e aos seus, afastando a ideia de um equilíbrio emocional que deve ser a marca dos campeões. Ao deixar-se levar pela tentação do confronto, num jogo mal dirigido por Carlos Xistra, o Benfica perdeu tempo precioso para chegar ao triunfo. Resolveu a questão a tempo, ainda assim.

Neste final de tarde jogaram André Almeida, Lisandro López, Renato Sanches e Raúl Jiménez. Por comparação, a equipa está pior. Pelo menos mais jovem e inexperiente. É um facto. Nesse processo perdeu maturidade competitiva e discernimento, embora continue a demonstrar argumentos de qualidade superior.

Em Guimarães, por exemplo, enfrentou um Vitória que mudou bem mais que o próprio Benfica. Se os encarnados repetiram sete jogadores em relação a esse encontro em maio, a equipa da casa repetiu apenas três: Luís Rocha, Josué e Otávio.

Sérgio Conceição, o sucessor do sucessor de Rui Vitória, manteve a aposta na juventude vitoriana e viu Alexandre Silva (filho do inconfundível Quinzinho) moer o juízo à defesa encarnada na primeira metade. Do outro lado do campo, o guarda-redes-adepto Miguel Silva voltava a agigantar-se para negar o golo ao Benfica. Equilíbrio total.

Escrevemos preferencialmente sobre futebol, procurando deixar numa prateleira a sucessão de pequenos conflitos e decisões sofríveis de Carlos Xistra. Olhamos sobretudo para os bons lances que surgiram pelo meio.

Na etapa inicial sobrou pouco tempo para lances de qualidade. Ainda assim, o golo podia ter surgido em qualquer uma das balizas. Ao minuto 35, Alexandre Silva ensaiou uma finta soberba sobre Lisandro López e cruzou de trivela para Licá. O avançado cedido pelo FC Porto adiou o remate, sentiu Eliseu e acabou por deixar o lance perder-se.

Em cima do intervalo, seria Jonas a colocar Miguel Silva à prova com um desvio que levava selo de golo, após belo trabalho de Renato Sanches na esquerda.

O Benfica recuperou – uma força de expressão, já que o argentino não parecia estar a cem por cento – Nico Gaitán para uma jornada importante e assentou o seu jogo na visão dos seus flanqueadores. Ao pé esquerdo de Nico juntou-se o direito de Pizzi, que assinou uma exibição de grande qualidade.

O Vitória de Guimarães entrou melhor na etapa complementar e Carlos Xistra teve o seu maior equívoco nesse período, mostrando um amarelo a Cafú quando Gaitán se lesionou sozinho. O árbitro corrigiu o erro e o argentino viria a sair ao minuto 68, sem um rosto de satisfação.

Por essa altura a equipa de Rui Vitória impunha claramente a sua superioridade – como não tinha feito até então. Pizzi, o mais ativo, entrou na área com um grande gesto mas perdeu o duelo com Miguel Silva. Logo depois, o médio atirou cruzado ao lado.

O talento individual sobrepunha-se ao coletivo e seria o porta-estandarte da nova vaga (por sinal aquele que denota maior potencial) a fazer voz grossa para sair do Berço com três pontos.

A quinze minutos do final, Renato Sanches surgiu à entrada da área. Rematou uma vez. Depois outra, cruzado, com demasiada força para permitir a resposta eficaz de Miguel Silva. Glória encarnada.

O Vitória de Guimarães perdera demasiado vigor após a hora de jogo e não mais recuperou. Triunfo importante e tangencial do Benfica, assente na exibição superior de Pizzi e no talento inato de Renato Sanches, para além de um Júlio César a impor a sua presença em momentos decisivos.