Foi bem mais difícil do que, a certa altura, pareceu que ia ser. O Rio Ave bateu o Nacional por 2-1 e segue só com vitórias no reinado de Luís Castro. São quatro seguidas, que luxo. Mas esta tarde sofreu muito para segurar estes três pontos, num duelo em que deixou o rival entrar no jogo e reerguer-se quando parecia estar arredado de vez. Um susto que os de Vila do Conde encararam e conseguiram ultrapassar levando a nau a bom porto por entre a intempérie.

Num jogo que só mudou de figurino quando o Nacional marcou, a tendência, até lá, foi clara. Rio Ave com mais iniciativa e Nacional a defender e contra-atacar. Há jogos difíceis de explicar, mas este não foi um deles. Porque foi quase sempre assim, sobretudo na primeira parte, mas, acima de tudo, porque ambas as equipas queriam que assim fosse.

A jogar em casa e moralizado por três vitórias seguidas, o Rio Ave queria mandar. O Nacional, com várias ausências (jogou com Ricardo Gomes adaptado a ponta de lança), e numa zona mais delicada da tabela nunca se mostrou muito desagradado com a possibilidade de sair de Vila do Conde só com um ponto.

Primeiro quando o quis segurar, depois quando lutou por ele de coração nas mãos. Transformou contenção em vertigem mas não foi a tempo.

Do outro lado havia, então, o futebol mais pensado. Mas a imaginação não era muita. Até ao intervalo, de resto, a melhor ocasião até veio da cabeça de um rival. César quase fez autogolo ao minuto 35. Já nos descontos da primeira parte, dois lances que poderiam ter outro desfecho facilmente: primeiro Guedes cabeceou a rasar a trave, com desvio pelo meio, valendo canto; e na conversão a bola passeou paralela à linha sem que ninguém, vila-condense ou insular, a desviasse.

Dois minutos de sonho e um deslize que mudou tudo

Ao intervalo, Luís Castro tirou Tarantini e lançou Filipe Augusto. A saída do brasileiro do onze foi uma das surpresas preparadas pelo técnico para este jogo: as outras foram as trocas de Pedrinho por Lionn e de Ruben Ribeiro por Krovinovic.

A verdade é que foi no pé esquerdo de Filipe Augusto que o Rio Ave começou a decidir o jogo. Três minutos após o reatamento, o brasileiro cobrou um canto muito chegado ao primeiro poste e, com a pressão de Wakaso e Roderick, Aly Ghazal acabou por desviar para a própria baliza.

Ainda atarantado pelo golo sofrido, o Nacional... sofreu outra vez. Perda de bola, ataque rápido, Heldon descobre Krovinovic e o croata remata ao ângulo para um belo golo.

E o nó desatou, claro. Era preciso uma radical mudança de figurino para que o embate não tivesse ficado decidido naquele par de minutos. A lógica imperou, mas o jogo mudou com aquilo que, muitas vezes, é preciso para que haja mudança: golos. Mas a que houve não foi suficiente para mudar o dono dos três pontos.

O golo que abanou com o Rio Ave teve génese numa bola parada. Centro de Victor Garcia e desvio de Willyan, um dos homens entretanto lançados por Manuel Machado, ao lado de Bonilla e Vítor Gonçalves, para o fundo da baliza..

Havia vinte minutos ainda para jogar. E, já se sabe, o 2-0 é um resultado perigoso quando o rival consegue reduzir. Ainda por cima um adversário que vinha de virar um 2-0 para um 3-2 na semana passada...

Foi mais do que normal ver o Nacional fazer o que ainda não tinha feito: lançar-se de corpo e alma para o ataque. E poderia mesmo ter empatado, com Bonilla em destaque em dois lances. Primeiro chegou tarde a um centro de Salvador, depois caiu na área em luta com Pedrinho e Roderick. O lateral joga a bola, é certo, mas também derruba o rival. Soares Dias poderia ter marcado grande penalidade.

Não o fez, o Nacional irrompeu em protestos e o coração tomou conta do seu jogo. O Rio Ave, já com Ruben Ribeiro em campo, tentou ter a bola mais tempo, nem sempre com sucesso.

Mas, enquanto isso, os minutos passaram até ao apito final e o Rio Ave não largou mesmo os três pontos. Tem, agora, 23 e está no sexto lugar. O Nacional continua com 11 e aprendeu a lição: a história nem sempre se repete. Dar dois golos de avanço não costuma ter final feliz. Por muito que se acredite e tente depois disso.