Alvalade viveu mais um Dia de Sporting em todo o seu esplendor.

Um dia em que o Sporting foi muito Sporting, tanto Sporting aliás que os adeptos não conseguiram suportar uma vez ou outra a vertigem por assobiar tantos vestígios desse sportinguismo recente.

Um sportinguismo, vamos chamar-lhe, 2.0. Uma coisa contemporânea, recente, moderna.

É no fundo aquela tendência para nenhuma vitória ser tranquila até ao apito final, para nenhuma noite ser sossegada, para nenhum jogo ser sereno. A formação leonina tem repulsa pelos bocejos e é imprópria para adeptos com problemas de coração: o ritmo cardíaco, acreditem, vai aumentar.

Confira a ficha de jogo e as notas dos jogadores

Por isso, e porque os criativos leoninos decidiram criar o slogan, Dia de Sporting tornou-se sinónimo de impaciência, desassossego e ansiedade.

Esta noite, e pela primeira vez nos últimos oito jogos, o Sporting até fez mais do que um golo. Mas nem isso foi suficiente: a meia hora do fim, uma falha de marcação terrível na defesa, sobretudo provocada pelo facto de Bruno César ter ficado pregado ao chão, permitiu a Platiny relançar o jogo.

Um golo, pensará o leitor, não justifica este tom crítico.

É mentira.

É mentira sobretudo porque o golo surgiu praticamente do nada. Um remate de Cris contra o peito de Ricardo Esgaio tinha sido o melhor que o Feirense conseguira fazer até então. O que é praticamente nada, portanto.

O Sporting entrou forte no jogo, entrou a jogar bem, a dominar e a criar ocasiões de perigo. Bas Dost, por duas vezes nos primeiros vinte minutos, capitalizou esses bons princípios em golos.

A partir daí a equipa não se retraiu e manteve a tendência ofensiva. Contou, por exemplo, com um Alan Ruiz endiabrado, que inventava futebol e linhas de passe para empurrar a equipa para a frente.

Com o argentino em campo a formação leonina não joga com dois avançados, porque Alan Ruiz raramente aparece em zonas de finalização, mas adquire um craque com a bola nos pés, que cria assistências, imagina espaços, produz futebol e deixa os colegas sempre de frente para o perigo.

O Sporting estava portanto forte: estava muito bem no jogo.

Dominava territorialmente, não deixava o adversário sair, tocava pelos flancos, aparecia em zonas interiores, virava o flanco do jogo, enfim, tinha todos aqueles bons princípios que o treinador gosta. O treinador que, curiosamente, não esteve no banco, cumpriu castigo e viu o jogo ligado ao telefone de um camarote, mas não havia problema: Jesus está em todo o lado e o futebol dele estava no relvado.

Infelizmente para ele, e para todos os sportinguistas, não esteve para sempre.

A segunda parte começou curiosamente com a mesma tendência, Nuno Manta trocou cedo dois jogadores mas o Feirense pouco ameaçava. Até que de um centro saiu o tal golo que tudo mudou.

Bas Dost roubou o protagonismo a Alan Ruiz: veja os destaques do jogo

A partir daí a ansiedade tomou conta de Alvalade e o Feirense sentiu-se confortável no jogo. Não criou nenhuma ocasião clara de golo, é verdade, ao contrário aliás do que fez o Sporting num lance em que Bryan Ruiz surgiu isolado, não criou nenhuma ocasião clara de golo, dizia-se, mas colocou várias bolas na área que encheram de nervosismo o estádio leonino.

Nessa altura foi impossível não pensar em Adrien Silva.

O capitão lesionou-se ainda na primeira parte, saiu de campo de maca, com um cordão cervical ao pescoço e direto para o hospital. O Sporting sentiu provavelmente a falta de uma voz como a dele.

Até que o último apito de Bruno Esteves despejou serenidade sobre Alvalade. Fez-se silêncio e a quietude voltou ao estádio.

Afinal de contas foi só mais um Dia de Sporting.