O Estádio da Luz cobriu-se de encarnado até às orelhas e vestiu o país do mesmo encarnado.

Em cada canto onde existir um benfiquista, imagina-se, e até prova em contrário existem muitos, há um tom de vermelho forte a pintar o mapa de Portugal.
 
A onda benfiquista está imparável, portanto.
 
Está imparável dentro e fora de campo, de resto. Nas bancadas cheias e gordas, por exemplo, só se fala, só se canta, só se exalta o trigésimo quarto.
 
No relvado, por outro lado, a equipa corresponde com as vitórias necessárias e até com uma certa arroganciazinha de campeão: uma sobranceria de quem se sente superior, e que ninguém se atreva a dizer a dizer-lhe o contrário, claro.

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Para utilizar uma metáfora que enche de entusiasmo Jorge Jesus, pode dizer-se que o Benfica parece aquele ciclista que se aproxima do fim da etapa com tamanho avanço que já levanta os braços cem metros antes da meta. Porque pode, obviamente: e esta equipa pode dar-se a imodéstia.
 
A vitória sobre o Penafiel foi disso um exemplo claro.
 
O Benfica entrou em campo lento, arrastado e vagaroso: tanto, aliás, que o Penafiel conseguiu segurar a euforia encarnada até aos oito minutos.
 
Nessa altura acelerou pela direita e marcou: no primeiro remate que fez, marcou.
 
Vale a pena olhar para este golo com cuidado, porque ele representa o que este Benfica consegue ser por estes dias: uma equipa praticamente imparável. O Penafiel até estava a marcar bem, colocava muita gente na zona defensiva e enchia de pernas a tentativa encarnada de sair para o ataque.
 
Mas isso é pouco. Com o Benfica é pouco.


 
Aos oito minutos, por exemplo, os médios deram um metro na marcação e foi o fim: Salvio tocou de primeira para Jonas, que fugiu do espaço para tocar de primeira a soltar Maxi na direita.
 
A organização defensiva do Penafiel estava desfeita, Maxi Pereira cruzou e Lima cabeceou para golo. Tudo simples, tudo perfeito, tudo lindo. Um golo admirável, sem dúvida.
 
Também por aqui se explica a tal arroganciazinha do Benfica. Sempre que quis, e quando quis, esta equipa arruinou o Penafiel: sobretudo pela direita, onde Maxi Pereira e Salvio, com o apoio de Jonas ou de Pizzi, inventavam soluções para baralhar o adversário e encontrar linhas de ataque.
 
Por isso na primeira parte, e em quatro acelerações, fez dois golos, atirou uma bola ao poste e proporcionou enorme defesa a Haghighi, a evitar um golo certo. E foi tudo, sim.
 
A segunda parte, refira-se desde já, trouxe mais do mesmo. O Penafiel continuou a dar tudo e tudo era pouco, porque é realmente uma equipa muito limitada, o Benfica começou por entrar bem, fez o terceiro golo após mais um boa jogada e fez o quarto numa oferta enorme de Romeu, mas depois voltou a reduzir drasticamente a intensidade sobre o jogo.

Lima de gala em vitória fácil que condenou o Penafiel: veja quem se destacou mais
 
Tanto assim, aliás, que o Penafiel quase marcava: Jardel evitou sobre a linha o golo de Rabiola.
 
É claro que também vieram as substituições, Jesus trocou por exemplo os dois extremos - Salvio e Sulejmani - por Talisca e Ola John, pelo que a partir daí o futebol nunca mais foi o mesmo.
 
Feitas todas as deduções à coleta, portanto, o Benfica foi apenas suficiente para golear um Penafiel demasiado frágil. Podiam ter sido mais? Podiam, mas o líder já pode dar-se a estes pequenos luxos.
 
E o suficiente já satisfez quase 60 mil adeptos carregados de entusiasmo. O título está por dias: pode acontecer já este domingo, se o FC Porto perder em casa com o Gil Vicente, mas pode acontecer também para a semana, na visita a Guimarães: e o Benfica seguramente que o preferia.
 
O Penafiel, esse, confirmou o que já estava anunciado: a descida de divisão. Despediu-se da Liga num jogo em que mostrou que não merecia melhor do que este fim.
 
Mas quem quer saber disso neste país que se pinta de vermelho?

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