Um Benfica a testar variações valeu-se do goleador da temporada para segurar a liderança da Liga e pensar na Champions, enquanto os rivais vão jogar no campeonato. Um golo de Talisca passou a bola para os outros candidatos, numa noite em que pela primeira vez, na Luz, passou para o relvado aquilo que vinha no papel: as experiências de Jesus no Seixal, com Enzo a 6, Pizzi ao meio e Talisca em três lugares durante o jogo. O Rio Ave foi controlado no primeiro tempo, mas ameaçou no segundo e chegou a ter um golo anulado, numa fotocópia do 1-1 de Braga. O triunfo é pela margem mínima e explica-se, sobretudo, num ponto: a péssima definição dos encarnados no momento ofensivo.
 
A lesão de Eliseu obrigou desde logo Jorge Jesus a mexer na equipa. O treinador do Benfica fez mais alterações por opção. Assim, Júlio César foi para a baliza, Jonas para o ataque e o faz-tudo-do-meio-campo-para-trás-André-Almeida foi para lateral-esquerdo. Herói noutras noites, Talisca vestia a capa de Nico Gaitán.
 
O Benfica andou praticamente ao ritmo de Enzo Pérez no primeiro tempo. A melhor exibição do argentino pós-Mundial tinha sido na Supertaça e, perante o mesmo Rio Ave, foi o mais esclarecido e aquele que colocou melhor a técnica ao serviço do coletivo. Aqui, um asterisco: para Jonas, que o seguiu nesse aspeto. Outro para Samaris: mais bem posicionado, pecou no passe e tirou alguma capacidade de a equipa insistir na posse.
 
Assim foi o AO MINUTO do Benfica-Rio Ave, 1-0

Assim, os encarnados controlavam o jogo, mas só aos 16 minutos surgiram com ocasião de golo. Cássio defendeu um grande remate de Lima, embora o árbitro lhe tenha tirado a defesa. O guarda-redes dos vila-condenses acabou o primeiro tempo com várias ações: a remate de Enzo, a cabeçada de Lisandro e outra tentativa de Lima. Do outro lado, Júlio César aplicou-se a uma de Wakaso.
 
Em suma, no primeiro tempo, Enzo Pérez deu qualidade ao jogo do Benfica. Foi um Enzo muito próximo do voluntarioso médio que encantou a Luz nas duas últimas épocas, mas que, consequência da ordem de Jesus, ia perder influência ofensiva no segundo tempo. Porquê? Porque Jesus quis lançar Gaitán, para ver se alguém conseguia, por fim, ter uma melhor decisão no ataque: Salvio tentou muito, mas raramente esteve bem nesse aspeto; Lima teve dois remates e pouco mais conseguiu: de Talisca não é preciso dizer muito, apenas que não é Gaitán ali.
 
O segundo tempo trouxe, então, uma nova solução: Enzo passou para médio-defensivo, o brasileiro ex-Bahia para o meio e com o camisola 10 da Luz na esquerda a entrada no segundo tempo foi boa: entre os 47 e os 49 minutos o Benfica podia ter chegado ao golo.
 
Do outro lado, Diego Lopes começava a emergir. E isso foi um ponto fundamental no jogo. O 10 do Rio Ave teve grandes momentos no segundo tempo e por isso os vila-condenses também causaram perigo. O jogo estava melhor, definitivamente, com o Benfica a correr mais riscos.
 
Ora, como se disse, com o recuo, Enzo Pérez não pôde emprestar lucidez e a capacidade de transpor linhas na manobra atacante. Ainda se está para se perceber melhor se isso é um preço que o Benfica pode pagar. É certo que os encarnados chegaram ao golo pelo pontapé fantástico de Talisca, mais uma vez um DArtagnan de capa e espada, para usar uma expressão de Jesus sobre o ex-Bahia, mas o melhor Enzo «escondeu-se», ainda que tenha colocado esforço nas ações e tenha deixado promessas de que está de volta a um bom momento. Mas, em resumo sobre este ponto, o Benfica perde cérebro onde muito precisa de tê-lo.
 
Os destaques do Benfica-Rio Ave, 1-0

O Rio Ave, por exemplo, tinha um belíssimo pensador. Diego Lopes. Num canto para o Benfica, o brasileiro ficou com a bola, lançou um colega pela direita e Esmael terminou a festejar um golo que não foi, devido a um fora de jogo milimétrico. O Rio Ave sentiu a ferida do golo e atacou a baliza encarnada: terminou com mais situações, mas não foi feliz na finalização.
 
Por outro lado, Jesus mostrava outra solução: Pizzi à frente de Enzo, Talisca como 9,5. O Benfica teve momentos em que podia ter acabado com a dúvida do jogo, mesmo que não chegasse a rematar com perigo. Porquê? Porque nunca chegou a definir bem, na área, ou à entrada dela, porque Lima e Jonas atrapalharam-se num momento, porque Gaitán passou mal, quando o costuma fazer bem, porque Lima não está em forma e Salvio não conseguia terminar as jogadas.
 
O Benfica venceu e é líder, esse é o dado mais relevante na partida. Mas com tanta conversa sobre Samaris, Cristante ou Enzo Pérez, também convém a Jesus olhar para a frente de ataque: a vitória é justa, mas tanta má decisão levou a que a noite fosse sofrida. Valeu a espada de Talisca, melhor marcador do campeonato.