Deram-lhes o maior palco possível para fecharem o ano. A Luz, o maior estádio do país, vai receber o último jogo de 2016 com um confronto de dois campeões. Benfica e Rio Ave abrem o que resta da jornada 15 da Liga (o FC Porto-Marítimo foi antecipado), com Rui Vitória de um lado e Luís Castro do outro.

São eles, claro, os campeões de quem se fala: um nacional, outro da II Liga. Títulos ainda válidos de dois técnicos que vão, ao fim de 12 anos, jogar um pequeno tira-teimas.

Subiram a pulso

O percurso de Rui Vitória e Luís Castro tem algumas semelhanças. Ambos fizeram, praticamente, carreira de futebolista nos escalões secundários do futebol nacional. E foi por aí que começaram a segunda parte da vida profissional. O treinador do Rio Ave mais cedo, Vitória mais tarde, até porque é mais novo.

Os dois passaram também pela formação de um clube grande do futebol nacional e depois pelo banco principal. Ainda assim, nunca se defrontaram na Liga. Ou seja, este será o primeiro confronto entre ambos no futebol dito profissional. Porém, há um passado aqui.

Luís Castro estreou-se na Liga pelo Penafiel

O FC Porto era líder nacional naquele fim de semana de outubro de 2003, a Sanjoanense ia na frente da II Divisão B, zona centro. Era orientada por Luís Castro, que recebeu Rui Vitória e o Vilafranquense. É o registo mais antigo de um confronto entre ambos. Venceu Castro por 3-1.

A 6 de março de 2004, o FC Porto continuava líder do campeonato nacional, mas a Sanjoanense já tinha caído para o quarto lugar no terceiro escalão. E Rui Vitória vencia Luís Castro no segundo duelo: Vilafranquense-Sanjoanense, 3-1. A época ia acabar com os de São João da Madeira no terceiro posto e os de Vila Franca no 10º.

V. Guimarães: um elo que também os liga de certa forma

Enquanto Rui Vitória chegava à formação do Benfica, Luís Castro vencia pela primeira vez na carreira os encarnados, pelo Penafiel, na Liga. O treinador de Vila Real ascendeu ao campeonato principal em 2004/05, mas depois de duas temporadas no 25 de abril foi trabalhar para o FC Porto em 2006/07. Após aquele jogo de Vila Franca, os dois nunca mais se cruzaram no banco, portanto. Por isso, mesmo que seja coisa menor, que não passa da curiosidade, o Benfica-Rio Ave é um pequeno tira-teimas daquela época de 2003/04.

Rui Vitória foi treinador principal do Benfica na época passada, Luís Castro foi o dono do banco portista em 2013/14. Os resultados do técnico de Alverca do Ribatejo no V. Guimarães levaram-no à Luz e a Luís Castro à responsabilidade de assumir-se como treinador principal no Dragão.

Marco Matias marca e fixa o resultado final em V. Guimarães-FC Porto, 2-2

O destino do agora líder do Rio Ave foi traçado, em 2013/14, pelo V. Guimarães-FC Porto. Rui Vitória dizia que podia ter ganho o jogo, Luís Castro ganhou mesmo o lugar de Paulo Fonseca, que saiu após um 2-2 na Cidade Berço. Num claro exagero, assume-se, foi Vitória quem abriu a oportunidade a Castro.

Na derradeira curiosidade entre ambos, venceram campeonatos na mesma época.

Luís Castro: só Jesus o bate

O técnico dos vilacondenses é um dos poucos treinadores no campeonato que sabe o que é vencer o Benfica. E só um faz melhor do que o treinador do Rio Ave em toda a Liga: Jorge Jesus venceu os encarnados seis vezes numa já longa carreira.

Luís Castro tem o mesmo registo de Pedro Martins e Augusto Inácio. Todos bateram o Benfica por três vezes, mas o técnico que foi campeão com o FC Porto B tem incomparavelmente menos jogos (8) frente aos encarnados do que os restantes (16 para o técnico do Vitória, 20 para o do Moreirense).

O treinador de Vila Real já deu grandes apreensões ao povo da Luz. Em 2004/05, uma jornada antes de Luisão marcar um golo decisivo ao Sporting, o Penafiel de Luís Castro tinha batido o Benfica, que partiu para o tal dérbi em igualdade de pontos com o rival de Lisboa. Esse foi o momento mais feliz de Castro frente ao Benfica.

Isto porque os outros triunfos pouco significaram em termos de resultados práticos. Ambos foram alcançados quando Luís Castro assumiu a equipa principal do FC Porto, o tal pós-Paulo Fonseca. Os dragões venceram um Benfica já campeão e a pensar numa final europeia em Turim na última jornada da Liga 2013/14.

Antes disso, o 1-0 com que os azuis e brancos venceram no Dragão, na meia-final da Taça de Portugal, seria anulado na Luz por André Gomes: mesmo reduzido a dez, o Benfica foi à final graças ao 3-1 do médio agora do Barcelona. De resto, há mais um empate: 0-0 na semifinal da Taça da Liga, com os encarnados a passarem nos penáltis.

No banco do Rio Ave está alguém que não quer olhar o passado. Assim, veja-se o presente. E isso diz que a equipa de Luís Castro é, a par do FC Porto, aquela que está em melhor forma na Liga: as únicas a viver uma sequência de quatro triunfos consecutivos, embora os portistas tenham mais um jogo.

Para se ter noção do que isso significa, é a melhor marca do clube dos Arcos, mas também uma das melhores da Liga.

Frente ao Paços, na jornada 9, o Benfica somou a sétima vitória seguida na Liga

Neste aspeto, Luís Castro colocou o Rio Ave entre grandes, pois o FC Porto e o Sporting alcançaram o mesmo número e apenas o Benfica, rival desta noite, conseguiu sequência com mais triunfos consecutivos no campeonato, com sete.

Como já é sabido, se vencer na Luz, o Rio Ave e Luís Castro fazem história. O problema é que nem clube nem treinador lá venceram alguma vez. Dos palcos dos três grandes, o estádio do Benfica é aquele em que os vilacondenses nunca conseguiram festejar até agora. Bateram o FC Porto nas Antas uma vez, venceram duas em Alvalade.

Rui Vitória: a maior derrota de toda a carreira

O treinador do Benfica não quer fazer balanços, mas será inevitável dizer que 2016 foi um ano bom para Rui Vitória. Venceu títulos, foi campeão nacional e termina a Liga na liderança. Obviamente, quererá voltar a ter quatro pontos de diferença para o FC Porto e isso passa por vencer o Rio Ave.

Há uma curiosidade do técnico do Benfica frente ao rival desta noite. Por 14 ocasiões o atual técnico das águias defrontou os de Vila do Conde. Venceu sete, empatou três e perdeu quatro.

Os 6-1 do Rio Ave ao Paços de Vitória: Pizzi também lá estava

O saldo é positivo, mas 10 de abril de 2011 marca um dos maiores «pesadelos futebolísticos» de Rui Vitória: a derrota mais pesada da carreira em números.

Nem Benfica, nem FC Porto, nem Sporting. O Rio Ave aplicou incríveis 6-1 ao Paços de Ferreira, na Mata Real, o que é o pior registo de Rui Vitória, desde Vilafranquense, juniores do Benfica, Fátima, Paços, V. Guimarães e equipa principal das águias. E o Paços estava a vencer ao intervalo, já agora.

Vitória argumentou que era preciso uma reação à campeão. Como aqui está e é um, como Luís Castro, é sinal de que pelo menos ele a terá tido.