O Benfica superou um dos obstáculos mais difíceis na perseguição ao 36 e mantém-se na liderança da Liga portuguesa, respondendo a nova ameaça do FC Porto. Mitroglou resolveu uma questão bicuda, com dose de felicidade, em Braga (0-1).

Um golo solitário do avançado grego, em lance individual de insistência e perseverança, fez saltar de alegria mais de dez mil benfiquistas no Minho. Não são números exagerados. Entre os 24.836 espectadores, perto de metade seriam do visitante. Grande ambiente.

Com apenas quatro remates à baliza do Sp. Braga, registo pouco habitual, o Benfica chegou à importantíssima vitória.

Ao intervalo, um adepto do Sp. Braga contou com a ajuda do clube para surpreender a sua cara-metade. Um pedido de casamento em alta voz, com vinte e cinco mil almas como testemunhas de uma celebração de amor.

O casal foi ao centro do relvado, ouviu-se música romântica, aqueceram-se corações. Foi bonito. Esqueceram-se os incidentes entre adeptos no exterior do estádio, as polémicas recorrentes, os árbitros, os jogos de bastidores.

Futebol não é isso. Não deve ser. O futebol é na sua essência uma história de amor entre 22 homens e uma bola de futebol. Quem a tratar melhor tem mais possibilidades de sucesso.

A fórmula é complexa, nem sempre científica e merecedora de avaliações distintas. Jorge Simão, por exemplo, fugiu à banalidade com a história da longa conversa com uma rapariga no bar. Teve-a por mais tempo mas de nada valeu quando um intruso a levou de rompante, direto ao assunto. Aconteceu-lhe algo semelhante este domingo.

Mitroglou levou a rapariga no final

Jorge Simão podia recorrer a um pedido de casamento, como fez o corajoso adepto do Sp. Braga, mas essa não é a moral da história. O conto girava em torno da posse de bola e essa foi sempre favorável ao Benfica.

O Benfica teve mais bola no Minho mas cometeu erros ao longo do diálogo e o Sp. Braga demonstrou o que era mais importante: seguir para a balizar e rematar. Rematar muito. Quase sempre mal.

No final, a rapariga foi conquistada por um Deus grego, um brutamontes com espírito de missão e uma confiança inabalável. Foram oitenta minutos de um galanteio inconsequente e, de repente, Mitroglou abre uma porta onde parecia nem caber para resolver o assunto.

De nada valeu, portanto, o maior número de investidas do Sp. Braga.

Ao intervalo, por exemplo, a formação arsenalista tinha oito remates contra apenas dois do tricampeão. Com uma hora de jogo registava-se um 10-3. No final, um 12-4. Pedro Santos foi o protagonista infeliz dessa saga, com uma mão cheia de ensaios sem real perigo para Júlio César.

Tudo espremido, a primeira metade findou com uma oportunidade flagrante para cada lado: à meia-hora, Marafona incomodou Mitroglou e este, a cruzamento de Rafa, desviou por cima da baliza. Pouco depois, na sequência de um pontapé de canto, Battaglia cabeceou ao poste. Ajustava-se o empate.

Benfica sem conforto na posse de bola

Neste entretanto o Benfica teve mais bola, repete-se, mas cometeu um inusitado número de erros. Isso tornou-se evidente no setor defensivo, pouco confortável na saída em posse, cedendo perante a pressão forte de um bom Sp. Braga.

A equipa de Rui Vitória não deixou ainda assim de rodear a área bracarense, ficando a protestar em três lances: duelo entre Salvio e Rosic, golo anulado a Mitroglou, bola e braço de Ricardo Ferreira. Avaliação positiva para Tiago Martins, embora o lance entre Salvio e Rosic pudesse ser suscetível de castigo máximo, em nosso entender.

Na segunda metade, já com o jovem Artur Jorge no lugar de Ricardo Ferreira, a defensiva arsenalista foi sendo confrontada com maior dose de trabalho, embora o registo de ensaios tenha sido confrangedor: um para cada lado até aos derradeiros instantes do encontro.

A diferença esteve assim no pormenor, na qualidade, na sede de conquista dos protagonistas. Ao minuto 78, Battaglia (grande jogo) foi por lá fora e deixou Rodrigo Pinho com a baliza à sua mercê. Saiu-lhe um remato fraco, à figura de Júlio César.

Vitória pelo buraco da agulha

O Benfica, com Carrillo e Raúl Jiménez nos lugares dos pouco inspirados Salvio e Zivkovic, tirou máximo proveito de um goleador de qualidade ímpar. Tudo começa numa perda de bola de Assis, provocada por Pizzi. Jiménez lança Mitroglou no limite do fora-de-jogo e o grego faz o resto.

Mitroglou entrou na área pela direita, rodeado de adversários. De repente, decide arriscar. Um ressalto com Pedro Santos, outro com Goiano. Assis corre para trás e tenta o encosto. Em vão. O Deus grego descobre o buraco da agulha, por entre uma dezena de pernas e desbloqueia o jogo.

A equipa de Jorge Simão já não teve pulmão para reagir. Teve ainda uma boa oportunidade, quando Artur Jorge surgiu para desviar de cabeça na área, mas saiu novamente um remate fraco, sem convicção.

Felicidade do tricampeão, é certo, mas a história também se faz de capítulos assim, em que fica o resultado e não a exibição. Levou o essencial: a rapariga.