Nem é preciso recorrer a números para se perceber que a segunda passagem de Lazar Markovic pelo futebol português foi má. O regresso a um campeonato que o catapultou para a Premier League e ao trabalho com um técnico de confiança foram uma aposta falhada para o sérvio. E para o Sporting, que nos últimos dez anos foi quem mais promoveu o regresso de ex-jogadores dos rivais a um grande, o que nem sempre corre bem como veremos.

A transferência de Lazar Markovic causou um fluxo de informação enorme no último dia de mercado. O sérvio tinha chegado menino à Luz , saiu ainda rapaz, mas ídolo de uma equipa que conquistou tudo em Portugal e perdeu a Liga Europa apenas na final.

Como se disse, não é preciso recorrer a números para se entender os últimos meses de Markovic, mas eles servem para perceber a diferença para o primeiro semestre que fez no Benfica.

O único golo que Markovic marcou em Alvalade

O sérvio não esteve em Alvalade em agosto, pelo que o período de comparação terá de ser compreendido entre 1 de setembro de 2013 e 19 de janeiro de 2014. Aí fez 20 jogos pelo Benfica, 13 a titular e apontou dois golos (Académica e Gil Vicente). A estes podem ser somados os que apontou em agosto de 2013, ao mesmo Gil Vicente, na primeira vitória encarnada do tricampeonato, e o golo em Alvalade. O único que lá marcou, já agora.

Em Alvalade, esteve em 14 partidas, jogou de início em metade e celebrou duas vezes: em Guimarães para a Liga e Famalicão para a Taça de Portugal.

A maior diferença está na relação de minutos: 1261 na Luz, 610 em Alvalade. Em meia época, Markovic jogou o dobro no Benfica.

Markovic no Liverpool

Depois da Luz, fez uma época inteira pelo Liverpool. Jogou em 34 ocasiões, marcou três golos e contabilizou 1876 minutos pelo emblema de Anfield. Na época passada realizou 21 jogos pelo Fenerbahçe, atuou 1198 minutos, apontou dois golos e lesionou-se em fevereiro. Só regressou em maio e em 31 de agosto surgiu em Lisboa para representar o leão. Foram 146 dias de verde e branco, menos de meio ano, portanto.

Os outros regressos a um grande de Portugal

Markovic foi o último jogador com passado num grande português a ser contratado por um rival, depois de ter estado num terceiro emblema. Diferente do caso de André Carrillo ou Cristian Rodriguez, por exemplo, que saíram de um clube diretamente para o outro. Ou até Hélder Postiga, que foi negociado.

O último, mas não o único. Zahovic, Simão Sabrosa, Ricardo Quaresma são exemplos de jogadores que voltaram à liga para representar clubes rivais daqueles em que se destacaram primeiro. Uma tendência que, nos últimos dez anos, foi um pouco mais notória em Alvalade, onde também houve vários presidentes em contraste com a Luz e Invicta.

Desde 2006/07, o Sporting contratou seis jogadores que jogaram em Benfica ou FC Porto, saíram, passaram pelo estrangeiro e acabaram em Alvalade.

Para além de Markovic, havia no plantel desta época João Pereira e ainda há Bruno César e Beto (formado em Alvalade, mas com títulos no FC Porto). Antes deles, houve Maniche, Pedro Mendes e Carlos Paredes.

O Benfica fez isso mesmo com três futebolistas: Derlei, Carlos Martins e Yannick Djaló, que foi o último a chegar nessas condições à Luz, depois de uma confusa história com o Nice em 2011/12.

Kelvin deu um título ao FC Porto e uma boa lembrança de Liedson de azul e branco

Resta o FC Porto, que entre 2006/07 e 2016/17 foi buscar dois nomes com passado no Sporting e que entre Alvalade e o Dragão estiveram no estrangeiro em determinada altura: Silvestre Varela e Liedson. O levezinho teve uma passagem brevíssima pelos azuis e brancos, tal como Markovic em Alvalade, mas a envolvência no lance de Kelvin frente ao Benfica desequilibra a favor do brasileiro.

Voltar aonde se foi feliz

Também houve regressos ao próprio clube, mas aí foi o FC Porto quem mais usou essa estratégia nos últimos dez anos: voltaram Nuno Espírito Santo (como jogador, obviamente), Hélder Postiga, Lucho Gonzalez e Aly Cissokho.

O Sporting conseguiu Marco Caneira e Nani e o Benfica o longo e ansiado retorno de Rui Costa, aos 35 anos.

Sem estar no estrangeiro e com jogos na equipa principal de dois clubes, voltaram a um grande Evaldo (jogara no FC Porto, o Sporting contrato-o anos mais tarde), César Peixoto (primeiro a Invicta, depois a Luz) e Luís Filipe (o Benfica depois do Sporting).

Em resumo, o caso de Markovic não é único. Tão pouco na aposta ao regresso a um campeonato, muito menos no insucesso: Djaló e Derlei não renderam no Benfica, Cyssokho também não e até já conhecia o Dragão.