Em dois anos como treinador no futebol profissional, Pepa já se deparou duas vezes com a dura realidade de um mundo onde impera a ditadura dos resultados. 

Depois de, no ano passado, ter sido despedido de um Feirense que acabaria por subir à Liga, iniciou a nova época no Moreirense, equipa que o deixou cair, apesar de nunca ter estado abaixo da linha de água.

Seguiu-se o Tondela, desafio que diz apenas ter aceitado devido a Gilberto Coimbra, presidente de um clube onde já tinha trabalhado e com quem manteve sempre uma excelente relação. 

Maisfutebol – No final do campeonato falou da mágoa que sentiu por, na época passada, não ter tido oportunidade de ficar até ao fim no Feirense e também pela forma como saiu do Moreirense. Não ficar em Tondela deixaria também essa mágoa?

Pepa - «Não, é diferente. Não tem nada a ver. A minha mágoa com o Feirense foi porque vinha de um percurso interessante – fomos campeões e subimos a Sanjoanense do distrital para os nacionais, no segundo ano fizemos uma campeonato muito bom e mantivemos. Depois, fui convidado para o Feirense, que subiu de divisão com um futebol muito positivo e elogiado por todos. E nessa subida, em dez meses, eu só estive fora no último mês e isso deixou-me desolado. Mas tive de reagir a respeitei a decisão.»

MF – Como viveu esse mês?

Pepa - «Fiquei a torcer por fora. E na festa abri uma garrafa de champanhe em casa, sozinho. E gostava de ter estado com eles na rua, a festejar com os adeptos e a viver uma emoção tão grande e única. Fiquei amargurado por não ter sentido aquela alegria e adrenalina de rebentar por sair aquela pressão toda. Eu não vivi isso. Mas fiquei contente pelo clube. E em dez meses, não deixa de ser uma subida de divisão, que me deixou muito realizado pelo trabalho de construção do plantel e do planeamento.»

MF – E em Moreira de Cónegos?

Pepa - «Eu sentia a equipa com uma identidade muito própria, a jogar um bom futebol, só que depois há os detalhes. Uma bola que bate no poste e não entra, falhámos penáltis nos últimos minutos. Lembro-me de o Boateng marcar um golo e ser expulso por tirar a camisola, num jogo que acabámos por perder. Ou seja, as equipas jogavam bom futebol e eu fui surpreendido com os despedimentos das duas vezes.»

MF – O que o fez aceitar a proposta do Tondela?

Pepa - «Eu tinha dito que não ia treinar mais este ano. Que iria estagiar, estudar e evoluir. Até que recebi o telefonema do presidente do Tondela, que é uma pessoa que eu já conhecia. E foi isso que me fez abanar. Olhando só para a classificação, claro que não iria, mas não foi assim e eu não sou pessoa de receios. Fui e tudo o resto foi de uma loucura e dificuldade tremenda. Mas cresci muito em Tondela com estas dificuldades e estes jogadores. Sinto-me muito melhor treinador hoje. Mesmo que tivéssemos descido de divisão.»

Leia também:

«Há alturas em que temos de agarrar os jogadores pelos colarinhos»

«Sou contra a possibilidade de treinar dois clubes numa época»