Grande ambiente, rivais em estado de alma diferentes. O Benfica a poder jogar um pouco mais com a hipótese-empate mas sem o querer fazer; o FC Porto a precisar mais que nunca de recuperar distâncias, o que só seria possível com os três pontos de uma vez. Conseguiu-os, graças a erros defensivos do rival, à sua pouca eficácia e a um nome que até nem tem sido consensual nos últimos tempos: Iker Casillas.

Os dragões começaram melhor, o Benfica conseguiu crescer, responder, chegar ao golo numa bela jogada e depois reagir ao empate, algo consentido com o espaço dado a Herrera em zona frontal e com ângulo para o seu pé direito. Terminou por cima na primeira parte, não sem um outro susto – o mexicano voltou a ter aqueles quatro metros quadrados para atirar, desta vez torto – e naquele estilo de toca-e-foge chegou a empolgar as bancadas.

Nesses primeiros 45 minutos, o FC Porto tentou jogar com inteligência mais do que com intensidade, e chegou até a dar a ideia que, à falta de algo melhor, comprava o empate. Ou que adiava a decisão para mais tarde. Como acabou por acontecer.

Os primeiros sinais

O FC Porto preencheu melhor o miolo e teve ascendente nos minutos iniciais. Brahimi surgiu em espaços interiores, por vezes muito perto de Aboubakar, caindo para a esquerda quando solicitavam a sua presença. Noutras vezes, bastava a profundidade de Layún, com André André por perto, para criar alguns problemas a André Almeida e Lindelof.

Os dragões tiveram mais bola e recuperavam-na com relativa facilidade, faltando-lhes depois mais presença sobretudo na área e na direita, onde morava um Corona apagado e muito a depender de Maxi para se pôr em jogo. Aboubakar, com uma receção falhada no momento em que André André o isolava, dava os primeiro indícios de que não estava a ser propriamente bem vigiado.

Não durou muito tempo. Os encarnados, com Pizzi mais concentrado e Samaris a encostar mais à frente, e com as descidas de Mitroglou, sempre pronto para jogar como pivot, ganhou metros e começou a criar perigo com relativa à-vontade.

Dois minutos antes do 1-0, a equipa de Rui Vitória já tinha estado muito perto do golo. Eliseu ganhou a bola a Aboubakar na sua área, lançou-a para Renato, que a colocou em Jonas. O brasileiro esperou a entrada de Pizzi e ofereceu-lhe o golo, mas o internacional português só viu Casillas à frente. Na recarga, assumiu outra vez e atirou ao lado.

O golo chegou aos 18. Lindelof na primeira fase de construção a meter em Jonas, que atrasou para Renato. O jovem médio dominou de peito e colocou à frente de Mitroglou, com Maxi Pereira e Indi a chegarem atrasados ao movimento do grego, que já deixara para trás o jovem Chidozie.

Golo não abalou Dragão

Pela forma como o FC Porto reagiu percebeu-se que não tinha ficado abalado. Voltou a subir linhas, a querer entrar com a bola controlada pelo meio-campo rival. Aos 29, foi premiado com espaço a mais. Layún colocou para trás e Herrera não esperou muito tempo para rematar. A bola rasteira surpreendeu Júlio César.

Os encarnados voltaram a ter de crescer, e conseguiram-no. Jonas obrigou Casillas a grande defesa aos 35 minutos, Mitroglou falhou a emenda aos 40 já com o espanhol batido, Samaris a fechar não acertou na baliza depois de brilhante jogada de envolvimento. O FC Porto respondeu com mais uma jogada de Herrera, aquela segunda de que falámos antes, que mais parecia decalque do golo do empate (43).

A reviravolta e o desperdício

No regresso, o FC Porto voltou a começar melhor, com largos minutos no meio-campo do Benfica. Só que, quando conseguiam sair, os encarnados ameaçavam o golo. Aos 52, Pizzi ofereceu-o a Gaitán, que permitiu mais uma grande defesa a Casillas. Jonas, no canto, voltou a ficar perto, atirando por cima.

O primeiro a mexer foi Peseiro. Corona estava a ser curto, fez entrar Marega.

Aboubakar assinou bom momento, aos 62, com a bola a passar perto do poste direito. E, três minutos depois, o camaronês completou mesmo a reviravolta. Jogada de insistência, com os encarnados a consentirem a entrada da bola entre os dois centrais e com Jardel a não conseguir tapar o movimento do avançado, que rematou de pé esquerdo para o 2-1.

Casillas continuou a sua mostra de grandes defesas, e até negou um autogolo a Indi. Mitroglou voltou a falhar outra vez, na pequena área. Era mais do mesmo.

Peseiro acabou o jogo a gerir (André André por Rúben Neves primeiro; Brahimi por Varela a acabar) e as mexidas de Rui Vitória pouco impacto tiveram. Talisca e Carcela entraram mal, Salvio trouxe consigo sobretudo uma injecção de moral. Seria pedir-lhe sempre de mais que já movesse montanhas. Começaram a falhar-se passes, receções e o tempo pareceu correr mais depressa para os homens de Vitória.

Derrota vai pesar ou não?

O Benfica volta a perder, e deixa quebrar-se um ciclo muito bom. Poderá ficar a três pontos do Sporting, com mais três do que o FC Porto, mas já perdeu os dois jogos com o rival de hoje e ainda vai Alvalade, com os desfechos anteriores que todos conhecem. Vai enfrentar a pressão de não poder perder. Os dragões continuam vivos e, se antes foi réu, hoje têm muito a agradecer a Casillas.