Um penálti no último pontapé do jogo, literalmente, deu três pontos sofridos – desesperados! – ao Sporting em Santa Maria da Feira. Uma grande penalidade bem assinalada por Artur Soares Dias e convertida com a maldade do costume por Bas Dost.

A competência do Feirense, colocada em causa apenas na fase inicial do segundo tempo, justificava o empate e a prolongação dos elogios. Nuno Manta criou uma bela equipa e não merecia sair a zeros. É o futebol no seu máximo esplendor.

Reparem bem: o Sporting ganhou uma vantagem de dois golos, perdeu-a quase escandalosamente e salvou-se com um castigo máximo já em cima do minuto 6 do tempo de descontos. Se isto não é emoção, caros leitores, o que é emoção?

A PARTIDA AO MINUTO E A FICHA DE JOGO

Sim, todos pensaram que os leões, com o 0-2 no marcador, jamais voltariam a cair no entorpecimento do primeiro tempo e na apatia incompatível com a ambição desportiva. Mas foi isso mesmo que aconteceu.

João Silva reduziu num cabeceamento forte, aproveitando a marcação displicente dos leões, e Peter Etebo, um avançado entusiasmante, atirou o leão para o poço da depressão num remate rasteiro, colocadíssimo. Mas o filme teria um final ainda mais louco.

O Sporting padeceu de vários problemas. Foi incapaz de coordenar egos até ao intervalo, foi incapaz de movimentar os talentosos executantes que tem, foi incapaz de um lampejo de criatividade, de criar um rombo sério na muralha azul.

Do outro lado, um Feirense de organização germânica e determinação tibetana – sempre paciente e sereno com a bola – criou duas claras oportunidades de golo antes do tempo de descanso.

Numa, o irrequieto Edson Farias atirou a rasar o poste uma bola perdida de forma escandalosa por Mathieu (o francês aparentou uma displicência notável, como se estivesse no Camp Nou a golear um pobre oponente); noutra, Etebo aproveitou um passe de Cris, com a cabeça, para obrigar Rui Patrício a uma excelente defesa.

Não estivemos no balneário leonino, mas é fácil imaginar os berros histriónicos de Jesus ao intervalo. Resultaram.

DESTAQUES DO JOGO: Bas Dost, sim, mas muito Tiago Silva

Até aos 65/70 minutos, vimos a melhor versão do Sporting. A equipa jogou no ponto intermédio entre a realização pessoal e a sobrevivência competitiva, conciliando o brilhantismo individual com a eficácia coletiva. Tudo fez sentido.

William, o regressado William, pegou no jogo e distribuiu com qualidade; Bruno Fernandes, fantástico com a bola no pé, apareceu para finalizar o segundo golo num chapéu brilhante, após simulação primorosa de Bas Dost; Marcos Acuña despertou da letargia que o atacou – pernas pesadas após a presença na seleção? – Gelson decidiu que 45 minutos a bocejar já eram mais do que suficientes.

Dois golos de vantagem, excelente intensidade e… queda. Ressurgiu o Feirense, até ao 2-2 e àquela que já parecia a versão final desta saudável loucura. Nada feito.

Rocha, lançado por Nuno Manta já nos descontos, estragou tudo ao derrubar Coates e a atirar Bas Dost para a marca de penálti. Aí chegado, o holandês sabia que falhar era impossível. Já não havia tempo para uma ‘reprise’. Pobres corações!