Jogo do título. Dérbi do título. Parece abusivo não incluir o FC Porto na equação, mas não é isso que se passa: seria sempre parte interessada indiretamente, por isso foi um dérbi a três. Aquele que era logo à partida o Sporting-Benfica mais importante da temporada pelo impacto que teria para a reta final da época, foi ganho pelos encarnados. É verdade, Rui Vitória ganhou o seu clássico, o primeiro, o único, e talvez o maior do ano. Houve felicidade de uns e infelicidade de outros, como sempre, mas disso já sabem o que se diz...

Houve um golo para sustentar ideias. Num dérbi tão carregado de ansiedade como este, com a bola a queimar de cada vez que chegava aos pés, o Benfica teve a felicidade de aproveitar uma bola perdida na área, depois de ter tabelado em William, para se colocar na frente do marcador. Esse remate certeiro permitiu aos homens de Rui Vitória manter a estratégia de maior contenção com que se muniu para a visita a Alvalade.

Os primeiros minutos tinham mostrado, até aí, um Benfica melhor a apanhar ressaltos e aproveitar os pequenos erros dos rivais, caindo por vezes sobre a área de Rui Patrício. Sem grande perigo, é verdade, mas capaz de tirar sequência à mais trabalhada construção dos rivais. Foi assim que, logo no primeiro minuto, Mitroglou tentou servir Jonas para um duelo perdido com Ewerton, e também depois, aos 8, quando Gaitán obrigou Patrício a sair dos postes mas o cruzamento apanhou um Mitroglou muito marcado.

O golo que caiu no pé «errado»

O golo veio aos 20 minutos. Jonas insistiu sobre a esquerda e cruzou. Mitroglou deixou seguir para Pizzi, que tentou fletir para o meio, mas o máximo que conseguiu foi atrapalhar o suficiente para apelar ao remate de Samaris. O tiro foi mau, frouxo, sem nada que pudesse importunar o guarda-redes da Seleção Nacional, mas desviou em William e isolou o internacional grego. Pé esquerdo e a bola para o fundo das redes.

Os leões demoraram a levantar-se, mas aos poucos foram ameaçando. Aos 40, Jefferson atirou fortíssimo à trave; Lindelöf, logo depois, teve de ceder canto perante a proximidade de Bryan Ruiz. Ao Benfica também estava complicado sair e voltar a ameaçar a baliza rival. Renato Sanches fazia faltas em sucessão e aquela iniciativa inicial parecia estar distante.

Mitroglou continuava, no entanto, a ser porto de abrigo do ataque dos homens de Rui Vitória, segurando muitas bolas e ganhando faltas que permitiam à equipa respirar. A sua durabilidade pela segunda parte dentro seria fundamental, pensava-se já nesta altura, para as aspirações do emblema da Luz.

No fim da primeira parte, um livre direto provocado por mais uma falta de Renato Sanches deu a Adrien a oportunidade de reeditar a cronologia do jogo da Taça neste mesmo estádio: também aí Mitroglou marcou primeiro e o médio do Sporting empatou nos descontos, com a equipa de Jorge Jesus a seguir em frente no prolongamento. Mas o remate, desta vez, saiu por cima. O Benfica chegava ao intervalo a ganhar, algo que ainda não tinha acontecido perante nenhum dos outros candidatos esta época.

Benfica a quebrar fisicamente

O segundo tempo começou com o primeiro amarelo, a Jonas, por travar um contra-ataque, e um remate de Renato Sanches ligeiramente ao lado do poste esquerdo de Patrício. Gaitán, logo depois, tentou surpreender, mas também lhe saiu por cima. O Benfica de ataque acabou aí.

Ederson – que substituiu o lesionado Júlio César – começou a mostrar serviço. Aos 52, tirou um cruzamento de Jefferson da sua zona. André Almeida anulou outro depois da direita de João Mário.

Era a palavra de ordem: cruzar para Slimani ou para as diagonais para o segundo poste, para Bruno César ou João Mário. Com Teo em campo, para o lugar do brasileiro durante a última meia-hora, adivinhavam-se mais dificuldades para os encarnados. Bryan Ruiz falhou uma daquelas que não pode logo depois – e seria só a primeira – , mas estava dado o mote para o que aí vinha.

O segundo falhanço de Ruiz

Mitroglou não iria aguentar até ao fim. Entraria Raúl Jiménez. Parecia haver desgaste também em Pizzi e Renato Sanches. O jovem acabaria o dérbi a coxear.

Ruiz, aos 73, falhou sem ninguém na baliza, depois de a bola ter ressaltado na relva e de Slimani, hoje mais eficaz a tentar assistir, cruzar da direita. Incrível, inacreditável do ponto de vista dos leões.

Ederson, logo depois, negou o golo a um chapéu, novamente, de Ruiz.

No banco também se jogou tudo. Pizzi deu lugar a Fejsa, com Renato a passar para a direita. O sérvio seria importante na consistência defensiva, numa altura em que o músculo começava a quebrar. Depois, seria Salvio para render Jonas, com Renato para o meio. Schelotto e Gelson entravam para ficar com os lugares de Adrien e João Pereira.

João Mário atirou ligeiramente ao lado, e o Sporting também acabaria aí.

O Benfica sai de Alvalade na frente do campeonato. Não foi preciso uma exibição portentosa, apenas aproveitar um erro. O Sporting não conseguiu aproveitar os dos outros.

Os próximos jogos encarregar-se-ão de valorizar ou desvalorizar o dérbi. Este. O maior de todos.