«Rei morto, rei posto» foram as palavras proferidas pelo presidente do V. Guimarães, Júlio Mendes, na altura de anunciar Armando Evangelista como sucessor de Rui Vitória no comando técnico do clube vimaranense.

Não se trata propriamente de uma sucessão ao trono, mas o novo treinador do V. Guimarães herda um pesado legado. Rui Vitória foi o técnico que mais tempo esteve de forma ininterrupta no banco de suplentes do clube e deixou a sua marca na Cidade Berço antes de rumar à Luz.

O presidente Júlio Mendes, que vai no segundo mandato, não contratou qualquer treinador para a equipa principal: já encontrou Rui Vitória no comando técnico e assegurou a continuidade do treinador.

Em dia de pontapé de saída do V. Gumarães para a temporada 2015/2016, nesta quinta-feira, o Maisfutebol traça-lhe o perfil de Armando Evangelista e apresenta-lhe o novo técnico dos minhotos. Eduardo Guimarães, atual presidente do Vizela, e Luís Ferraz, capitão do clube vizelense, falam do técnico que deixou saudades na cidade termal.

A escalada dos infantis até à equipa principal

Natural de Guimarães, onde nasceu a 3 de novembro de 1973, Armando Evangelista teve uma carreira de pouco brilhantismo enquanto jogador. O seu momento alto acontece ainda na formação, ao conquistar o título de Campeão Nacional de Juniores ao serviço do V. Guimarães, em 1991.

Curiosamente, foi campeão tendo Manuel Machado como treinador. Depois de completa a formação, passou por clubes como o Joane, a Naval 1º de Maio, o Fafe, o Sp. Espinho, o Moreirense e o Lixa. Ao serviço do Moreirense, quando era colega de balneário de Flávio Meireles, teve oportunidade fazer onze jogos no principal escalão do futebol português.

Terminada a carreira de jogador, Armando Evangelista voltou ao seu clube, ao V. Guimarães, para aí orientar a equipa de infantis, dando assim início ao percurso enquanto técnico. Dos infantis passou para a equipa de juniores, de onde saiu para aquela que foi a sua única aventura enquanto técnico fora do Vitória.

Esteve uma época em Vizela, no Campeonato Nacional de Seniores, para depois regressar a casa: foi para a equipa B do V. Guimarães ainda antes do final da temporada. Saiu do Vizela a três jornadas do fim deixando os vizelenses num honroso quarto lugar numa época de reformulação profunda.

O resto da história é conhecido. Armando Evangelista não conseguiu evitar a descida do já praticamente condenado Vitória B e arquitetou o regresso ao segundo escalão depois de garantir a subida no Campeonato Nacional de Seniores, orientando jogadores como Josué, Cafú, Bernard, Alex e Tomané.

Foi uma verdadeira escalada até ao topo, que em sete anos levou Armando Evangelista dos infantis do V. Guimarães até à equipa principal. Sempre em ascensão: dos infantis para os juniores, passando depois para o CNS no Vizela e no V. Guimarães, para culminar na II Liga na temporada seguinte.

«Podia potenciar jovens e ajudar a equipa do Vizela a crescer»

Eduardo Guimarães, presidente do Vizela, proporcionou a Armando Evangelista aquela que foi a sua única experiência enquanto técnico fora do V. Guimarães. O líder máximo dos vizelenses aponta as características do técnico apresentando algumas semelhanças com Rui Vitória.

«Na altura, foi o nosso homem forte do futebol quem o indicou. O que vimos no Armando é que podia ajudar no nosso projeto uma vez que tínhamos uma equipa bastante jovem. E, vindo ele dos juniores do Vitória, podia ajudar a crescer a nossa equipa através do aproveitamento dos miúdos», refere o líder máximo do Vizela ao Maisfutebol.

O presidente diz que o cenário que Armando Evangelista encontrou era semelhante ao do V. Guimarães, ainda que em escalas diferentes: «O Vizela estava numa situação financeira muito má, parecida com a do Vitória, e por isso tivemos que fazer essa aposta nos jovens. Ele podia potenciar jovens e ajudar a equipa do Vizela a crescer».

Luís Ferraz foi orientado pelo técnico em Vizela, onde é atualmente o capitão e um dos jogadores mais experientes, e corrobora da opinião do presidente. «O Armando veio para Vizela numa fase complicada. Começaram as equipas B e o Vizela era satélite do Braga, tendo saído muitos jogadores. O trabalho que ele fez, com 20 jogadores novos, é de louvar e fala por si», diz o médio.

Eduardo Guimarães indica a justiça como uma das principais características do novo técnico do clube vimaranense. «É um homem muito justo em termos de opções. Com ele, quem joga é quem merece estar na equipa. Não olha para a fama nem para o nome dos jogadores. É muito exigente e profissional naquilo que faz», refere o dirigente.

O responsável máximo pelo Vizela não esconde a mágoa pela partida precoce do treinador: «Foi fácil lidar com ele porque é uma pessoa muito acessível e aberta, que não nos colocou entraves a nada. É do tipo de pessoas que os presidentes gostam. Foi com tristeza que o vimos sair ainda antes do final da época porque, sinceramente, já lhe augurávamos um futuro de sucesso.»

«Métodos de treino modernos em que estamos sempre motivados»

Voltando a Luís Ferraz, o jogador aponta a serenidade como um dos principais elementos caracterizadores de Armando Evangelista.

«É um treinador bastante sereno, que passa bem a sua mensagem. É muito ambicioso e consegue tirar o melhor de cada jogador. Prova disso é o que tem feito com os jogadores do V. Guimarães que já passaram por ele. Percebe as características de cada jogador e potencia-as ao máximo. Como jogadores, percebemos que estamos a evoluir», diz o capitão do Vizela.

Desta serenidade sobressai a capacidade comunicativa: «Não passa a vida a falar, mas fala acertado e percebemos que é para o nosso bem: dos jogadores e da equipa.» «Connosco, sabia ser líder sem falar muito, falando pouco mas bem», acrescenta o jogador.

Em relação aos métodos de treino, Luís Ferraz destaca a motivação com que os jogadores encaram os treinos de Armando Evangelista.

«Ele tem métodos de treino em que estamos sempre com vontade de treinar. Métodos modernos, os treinos são muito diversificados e os jogadores têm muita motivação. Em termos táticos, acima de tudo, prepara muito bem a sua equipa e, depois, demonstra um grande conhecimento dos adversários», descreve Luís Ferraz.

Um dos jogadores mais experientes do Vizela, o capitão Luís Ferraz recorda Armando Evangelista como um «líder tranquilo e sereno, que dá sempre a cara e que reage bem aos resultados». «Ele não põe tudo em causa com uma derrota e reconhece o que foi bem feito. Como não se deixa levar pelos triunfos apontando sempre aquilo que foi mal feito e que há a melhorar», revela o médio.

Um sócio especial do V. Guimarães, mas que vota com os outros

Aos 41 anos Armando Evangelista dá aquele que é o maior passo da sua ainda curta carreira. A terminar o nível IV do curso de treinadores, o técnico tem pela frente a estreia no principal escalão do futebol português e ainda a missão de levar o clube à fase de grupos da Liga Europa – o seu clube.

Armando Evangelista é associado do V. Guimarães desde longa data tendo ido às urnas nas últimas eleições para exercer, como é seu costume, o direito de voto para a eleição dos órgãos sociais do clube.

Já como treinador da equipa B, foi convidado a passar à frente dos restantes associados do clube na fila das bilheteiras do Estádio D. Afonso Henriques. Evangelista referiu tratar-se de um associado como os outros e esperou pela sua vez para regular a respetiva quotização não usando os serviços do clube enquanto treinador, mas sim como associado.

Esta quinta-feira, o associado que se formou enquanto jogador no Vitória e foi Campeão Nacional de Juniores inicia uma nova era na Cidade Berço enquanto treinador: assume a continuidade do projeto de um V. Guimarães formador e em contenção de custos que foi iniciado por Rui Vitória. Armando Evangelista dá início a uma nova era: sem Vitória no nome, mas com o Vitória no sangue.