O FC Porto parece gostar de viver no limite. É amigo do masoquismo e aprecia a autoflagelação. Aparenta manter uma estranha relação com o perigo e, como é natural, por vezes consegue superar-se. Outras tantas, acaba automutilado.

Na semana passada salvou-se em cima do apito final, hoje não houve direito a ressurreição. Os campeões nacionais acabaram travados pelo Vitória, cederam os primeiros pontos na Liga e não retiraram benefícios do dérbi da capital.

Logo de início, o Vitória mostrou-se capaz de dificultar a organização ofensiva dos portistas. Luís Castro montou duas linhas de quatro homens e deixou Welthon um pouco entregue à sua sorte entre Felipe e Diogo Leite. O quarteto ofensivo azul e branco raras vezes tinha oportunidade para jogar entre linhas, ao mesmo tempo que a defensiva vitoriana controlava as incursões de Telles pela esquerda.

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Assim, as únicas oportunidades dos dragões surgiram de fora da área ou de bola parada. Tanto Herrera (7’) como Felipe (21’) viram Douglas voar para evitar o primeiro golo da noite. Quando o guarda-redes não se agigantou, apareceu João Afonso a roubar um golo feito a Aboubakar (35’).

O FC Porto suspirava por inspiração. Então apareceu Brahimi, o mago da equipa: tabelinha com André Pereira e remate indefensável para Douglas (37’). O nó estava, aparentemente, desatado e o castelo dava sinais de começar a ruir. Quase ficou em escombros decorridos seis minutos. André Pereira partiu de posição irregular – houve falha técnica do VAR - e fez o 2-0, na sequência de livre de Telles.

45 minutos e o Vitória parecia entregue, castigado por ter abandonado os seus princípios. Ao intervalo, Luís Castro reergueu pedra a pedra, muralha a muralha, o castelo. Aguentou o ímpeto dos dragões na fase inicial e encarou o rival de frente. Em menos de meia hora, conseguiu uma reviravolta histórica.

Tudo começou numa displicência de Sérgio Oliveira. Ola John, acabado de entrar, procurou a linha do fundo e, o médio, decidiu fazer um carrinho, acabando por cometer grande penalidade. André André reduziu (63’) e alimentou a esperança do Vitória.

Brahimi já não estava em campo – deu lugar a Corona ao minuto 51 – e Conceição lançou Marega. O franco-maliano recebeu assobios e aplausos do tribunal do Dragão. Com o decorrer dos minutos, o FC Porto sem capacidade para gerir a bola e o tempo, permitindo ao Vitória crescer.

Agarrados ao estilo do seu treinador - ainda não é o da equipa - os minhotos começaram a tocar a bola e a jogar em toda a largura. Não descuraram a profundidade e aproximaram-se da baliza de Casillas. O empate surgiu, digamos, com alguma naturalidade face ao que se passava no relvado. O cruzamento de Florent encontrou Tozé na direita e, o jogador formado no FC Porto, atirou cruzado, sem hipóteses para Casillas (73’).

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Nos restantes minutos, aplicou-se a Lei de Murphy: qualquer coisa que possa correr mal, correrá mal. Lançamento de linha lateral para o Vitória, com Welthon a ter tempo para dominar e assistir Davidson (88’) para a reviravolta. O campeão nacional reequilibrou-se e foi atrás do empate. Houve oportunidades para restabelecer a igualdade, mas lá está, a Lei de Murphy não largou o tapete verde.

O FC Porto viu Douglas roubar-lhe o empate por duas ocasiões – a remates de Óliver e Marega. Poucos segundos depois, o poste devolveu um remate de Herrera.

O masoquismo resultou na primeira derrota de Conceição para a Liga em casa. Já o Vitória de Luís Castro, treinador que venceu pela primeira vez o clube onde passou dez anos, arrancou os primeiros pontos no campeonato.