Para Jardim e os seus, a opinião conta pouco, entre os habituais gritos de «Viva o Sporting» que a instalação sonora atira no final da partida. Mas a verdade é que o Vitória Guimarães merecia mais. A forma como controlou o jogo, o adversário e até foi capaz de acabar por cima na partida justificavam um ponto como prémio. A felicidade desta vez caiu para o lado dos leões, que se mantêm firmes no seu caminho de jogo a jogo manter a pressão para os rivais. Desta vez, não houve Slimani. Houve Rojo e um ressalto traiçoeiro. E chegou!

Um Vitória enervante. Ou pelo menos, com aspirações a isso, a exemplo do que já tinha feito em jogos anteriores de elevado grau de dificuldade. O treinador montou a sua equipa assente num estilo misto, que tanto procurava bolas longas para Tomané ou os seus extremos como tentava sair a jogar do meio-campo, com trocas curtas entre essas unidades, ganhando metros em progressão e passando as zonas de pressão dos verde e brancos. Na prática, os minhotos tanto soltavam bolas longas e evitavam ser apanhados com falhas em transições - algo que os leões até constumam apreciar com requinte - como se permitiam, de tempos a tempos, embalar para a baliza de Patrício, como na fantástica jogada de Crivellaro, aos 14 minutos. Valeu nesse belo momento, em que tudo funcionou nos de Guimarães, um ligeiro desvio que não só tirou a bola de Patrício como da própria baliza, esgueirando-se esta pela linha final.

As dificuldades dos leões

Este Sporting, por seu turno, não costuma ganhar por esmagamento. E, enquanto o Vitória Guimarães se manteve mais ou menos equilibrado, teve muitas dificuldades em construir. Sem «partir» as transições no início do seu meio-campo e mesmo no do rival, o leão criou pouco. Teve mais momentos de perigo, é verdade, mas tudo somado, nos primeiros 45 minutos, as oportunidades nem enchem uma mão. Houve aquela, aos seis minutos, em que William Carvalho acrescentou mais um passe vertical de grande qualidade ao seu currículo e Slimani levou a bola, girou e fugiu a Douglas, que se esticara. O árbitro viu simulação, mostrou amarelo, o mesmo amarelo que deixou no bolso, na segunda parte, aos 50 minutos, quando o argelino tentou expulsar o último homem dos minhotos. Nuno Almeida lavou as mãos, viu a queda e mandou o avançado levantar-se. Apenas. Uma atuação fraca da equipa de arbitragem, que teve como ponto mais baixo a anulação de um golo limpo a Montero, por fora de jogo, pouco depois. Nem o colombiano nem Jefferson, o autor do cruzamento, estavam deslocados.

Mas isso foi na segunda parte, e já lá vamos. Na primeira, há a registar uma defesa mais difícil de Douglas a um livre de Jefferson (8), e Slimani a cabecear contra Moreno num lance para golo, depois de bom cruzamento da esquerda de Capel (38). E ainda as dificuldades do lateral-esquerdo Luís Rocha perante a irreverência de Mané e Heldon em duas jogadas praticamente seguidas.

A entrada de Montero e o golo de Rojo

A primeira acção de Jardim para acabar com o nulo foi pôr em jogo Montero, ao intervalo. Heldon foi o sacrificado no regresso do 4x4x2. A verdade é que, antes de se perceber se iria ou não funcionar, o Sporting marcou, três minutos depois. Insistência de Jefferson que tinha ficado na direita depois de marcar o canto, o cruzamento saiu estranho, aparentemente inofensivo, até chegar a Rojo. O central rematou, a bola bateu em Moreno e traiu Douglas. O mais difícil parecia, como tantas vezes antes, conseguido.

Rui Vitória reagiu, e com ele a sua equipa, terminando bastante bem a partida. Antes de Malonga e Tiago Rodrigues entrarem (e, mais tarde, Maazou), Maurício ainda teve de salvar um erro de Rojo sobre a linha final e que Tomané quase não transformou numa assistência para um colega. Seguiram-se dois cabeceamentos perigosos de Tomané, remates às malhas de Tiago Rodrigues e Malonga, e a sensação de que o resultado mais justo, mesmo contando com aquele erro arbitral, seria o empate e não o 1-0. Em termos concretos, o que os minhotos conseguiram foi mais uma manifestação de qualidade, semelhante à conseguida perante FC Porto e Benfica.

Do lado dos leões, objetivo cumprido. Triunfo, de novo a pressão atirada para cima do Benfica, que visita Braga, e a distância mantida de segurança para o FC Porto na luta pelo acesso à Champions. Mas, ao contrário de outros jogos, foi evidente que desta vez os «processos» de que Jardim tanto gosta não funcionaram assim tão bem.