Choque de ideologias no D. Afonso Henriques a abrir a jornada 29 da Liga. O pragmatismo atropelou o romantismo, com um V. Guimarães vertical a conseguir o triunfo mais folgado da época (3-0) frente ao romântico Rio Ave. Dois golos de pontapé de canto e outro de Rafael Martins carimbaram o regresso aos triunfos do Vitória.

O futebol rendilhado do Rio Ave, com a identidade que lhe é característica desde o início da época, apresentou-se na Cidade Berço de peito aberto, ameaçou nos instantes iniciais, mas foi apenas uma questão de tempo até a equipa de José Peseiro organizar convenientemente as zonas de pressão.

Seguiu-se uma série de erros defensivos da equipa vila-condense, provocados pelos vimaranenses, que foram suficientes para o Vitória arrumar com a questão ainda na primeira parte. Depois da derrota na Luz, os vimaranenses voltaram a vencer em casa, conseguindo o segundo triunfo caseiro consecutivo, o que acontece apenas pela segunda vez esta temporada.

Dois cantos a fazer a diferença e o melhor para o fim

A primeira ocasião de golo iminente pertenceu ao Rio Ave, logo aos cinco minutos. Intervenção destemida de Miguel Silva a suster o cabeceamento à queima-roupa de Guedes para ser depois Jubal a evitar que a bola ultrapassasse a linha de golo. Entrada prometedora do Rio Ave, a assumir a posse de bola e a intimidar.

As linhas da equipa da casa subiram, a pressão começou a ser feita junto à área de Cássio e a partir daí o domínio do encontro passou para os vimaranenses. De forma vertical, a aproveitar o erro e a jogar com o foco na baliza adversária perante um Rio Ave que teimava em jogar de pé para pé no setor mais recuado.

Em cima do adversário, o V. Guimarães construiu lances de perigo e em sete minutos marcou dois golos na sequência de pontapés de canto. Lances tirados a papel químico, primeiro foi Heldo a cruzar tenso da esquerda, depois foi Mattheus no lado direito. Nas duas ocasiões a bola saiu ao primeiro poste, sendo que primeiro foi Marcelo a desviar para a sua própria baliza e depois foi Jubal a fazer o desvio certeiro.

Desmontado o figurino do Rio Ave, o Vitória partiu para uma prestação tranquila e ainda mais confortável para jogar no erro de quem tinha de correr atrás do resultado. Para o último suspiro do primeiro tempo a equipa de Peseiro reservou o melhor. Bom golo de Rafael Martins a corresponder a um excelente trabalho de Heldon na esquerda, a fechar a primeira metade com uma margem difícil de perspetiva.

Gestão até ao final

Depois do período de descanso a qualidade de jogo caiu muito. Se é verdade que na primeira parte o confronto foi aberto, com as duas equipas a esgrimir argumentos, na segunda parte as emoções ficaram nas cabines.

Os três golos revelaram-se uma desvantagem demasiado pesada para que se registasse uma reação enérgica dos vila-condenses, que passaram também a ter mais cautelas na primeira fase de construção de jogo. Com o Vitória tranquilo a gerir o resultado e a espreitar o erro alheio e com o Rio Ave a redobrar cautelas, o cronómetro evoluiu divorciado de incidências dignas de registo.

Triunfo do pragmatismo da equipa de Peseiro, a encurtar para sete pontos a diferença para o Rio Ave, atual dono do último lugar que pode dar acesso às competições europeias. Sexta deslocação consecutiva a perder do Rio Ave, a beliscar a ideologia adotada por Miguel Cardoso, que abdicou de duas substituições.

Por força da adaptação feliz ao encontro, o V. Guimarães assinou momentos alegres, desinibiu-se e partiu para uma prestação que justifica a conquista dos três pontos. Uma face pouco vista esta época.