Cidade-Berço incorruptível, temerária, à prova de forasteiros indesejados, sejam eles leões de garras ameaçadoras ou meros impostores de sorriso fácil. Na casa do Vitória manda um xerife altivo, corajoso, em forma de equipa de futebol. O Sporting acabou atrás das grades, sem escape.

Quem é o xerife? O leitor pode escolher. O gigantesco André André, a serpente Hernâni, o genial Bernard ou o homem por trás de todo o plano, Rui Vitória.

O Vitória Guimarães algemou a pior versão do Sporting 14/15, aplicou-lhe três golos e, não há qualquer exagero, podiam ter sido muitos mais.

Muito intenso na pressão sobre a bola, mais rápido do que a própria sombra na transição ofensiva – Bernard exímio a lançar, Hernâni tremendo no um para um -, seguríssimo na proteção defensiva e mortífero nos lances de bola parada.

A exibição do Vitória foi perfeita. E foi assim do princípio ao fim.

FICHA DE JOGO DO V. GUIMARÃES-SPORTING

O meio-campo do Sporting, por exemplo, foi incapaz de ter bola e fazer o que fez no Dragão. João Mário nunca apareceu entre linhas, William Carvalho – apático e inseguro – não distribuiu nem organizou, Adrien abateu-se a si próprio em correrias tão generosas quanto inúteis.

E se falarmos do quarteto defensivo… ninguém se salvou, mas Maurício e Jonathan Silva foram francamente maus.

A leitura do jogo é esta, com um toque de Old West, tal o ambiente selvagem, até sanguinário, que o Vitória colocou em campo.

Há mais para dizer, porém. Os dois primeiros golos minhotos surgem através de cruzamentos na direita e um homem a ganhar ao segundo poste. O Sporting nunca percebeu isso.

No primeiro, aos 16 minutos, Bouba Saré empurrou para o golo, no segundo [talvez em fora-de-jogo] João Afonso ganhou nas alturas e Maurício confirmou que a bola entrava mesmo na baliza de Rui Patrício.

OS DESTAQUES: tanto por onde escolher

Como tentou Marco Silva solucionar os problemas? Juntou Slimani ao desaparecido Montero no ataque, lançou Capel para a esquerda, abdicou de Carrillo e João Mário. Tudo ao intervalo.

Consequências? Zero. Aumentaram o número de cruzamentos para a área de um convicente Assis, manteve-se o Vitória francamente superior, embora ligeiramente distinto.

A equipa que teve mais bola e mandou na primeira parte passou a ser uma equipa de contra-ataque, perigosíssima. E a baliza de Rui Patrício nunca mais descansou.

Reparem: Hernâni, aos 47 e aos 50 minutos, obriga Rui Patrício a defender; o mesmo Hernâni, aos 54, finta para o meio e obriga Rui Patrício à defesa da noite; Bernard, aos 70, responde com um tiro a uma arrancada de André André; Hernâni, outra vez, atira ao ferro uma bomba…

No meio destes tiros - um verdadeiro pelotão de fuzilamento ao leão -, André André fez de penálti o terceiro do Vitória e deu mais justiça a um marcador que podia ter sido ainda mais pesado para o Sporting.

Está a nascer em Guimarães uma excelente equipa. A humilhação podia ter atingido uma dimensão histórica, tal a diferença de qualidade colocada no relvado.

De um lado esteve um punhado de xerifes intratáveis; do outro, 11 jogadores que por uma noite pareceram os irmãos Dalton, perdidos e atormentados numa aventura de Lucky Luke.

O Vitória tem mais quatro pontos do que o Sporting na classificação.