Podia ter sido uma goleada retumbante, mas foi “apenas” 2-0.

Não há como começar esta crónica sem fazer referência a um dos maiores festivais de oportunidades de golo desperdiçadas de que há memória no Estádio do Dragão.

O jogo era de um desequilíbrio evidente: há 26 anos que o Vitória não vence em casa dos azuis e brancos. Há 12 que só perde.

Mais: mesmo depois de ter perdido a oportunidade de aumentar o recorde de vinte vitórias seguidas no Dragão (com um nulo frente ao Sp. Braga), o FC Porto aumenta para 15 o registo de jogos caseiros para a Liga sem sofrer golos. Há quase um ano que o Dragão é uma fortaleza: desde 14 de dezembro de 2014.

Neste jogo da 10.ª jornada, onze bem organizado por Quim Machado, que apresentou uma equipa de contenção (com Ruca no lugar do mais ofensivo Arnold no meio-campo), fez o que lhe competia, contra-atacando só pela certa. O FC Porto também, sufocando o adversário durante muitos momentos do jogo. E as oportunidades claras de golo surgiram em catadupa. Mais de uma dúzia (apesar de a determinada altura ter ficado difícil de contar...).

O FC Porto já controlava o meio-campo quando aos 20 minutos Lopetegui tomou a decisão certa de trocar de flanco (da direita para a esquerda) o regressado Brahimi com Tello.

O resultado foi quase imediato: o argelino entrou na área e descobriu Tello, que dominou e rematou de pé esquerdo, com a bola a sair por cima.

Já tinha começado o festival de golos cantados no Dragão, que teve como cabeça-de-cartaz Aboubakar.

A abnegação, capacidade física e qualidade técnica continuam lá, mas parece andar desinspirado o camaronês. Tal como em Telavive, hoje no Dragão falhou uma mão cheia de oportunidades de golo: uma bola à barra após ressalto (7’), um cabeceamento por cima sobre a linha de golo (26’), um remate forte contra Reader (30’), dois bons dribles e um remate à entrada da área com a bola a sair ao lado (35’)… "Abou" chegou até a introduzir a bola na baliza (64’), mas num o lance foi precedido de falta.

O vilão virou herói e teve um fiel escudeiro
Mas nem só do desacerto de Aboubakar viveu a ineficácia portista. Houve outros a falharem. O jogo fluía, a equipa conseguia chegar rapidamente e com perigo à área adversária, mas o golo não aparecia.

No entanto, mesmo quando parecia ter chegado ao ponto mais baixo de uma profunda crise de inspiração o camaronês apareceu triunfal para de vilão passar a herói.

Foi ele que acreditou que aquela bola de Layún ia pingar bem ali no meio da área. Foi ele que meteu a cabeça como quem mete o coração. Foi ele que celebrou um golo que todo o estádio gritou antes do tempo uma e outra vez (os 32 211 espetadores, pior assistência da época, foram incansáveis no apoio à equipa).

O ponta-de-lança desinspirado voltou a vestir a pele de goleador decisivo para resolver um jogo embrulhado a vinte minutos do fim.  

Faltavam vinte minutos para o final e falta ainda falar de Layún, que hoje assistiu para o primeiro e marcou o segundo.

Apesar do foco em Aboubakar, o lateral mexicano merece todos os elogios que se lhe possam fazer: é seguro a defender e ofensivamente mostra qualidade de cruzamento, de passe e de remate… com ambos os pés. Já depois da assistência primorosa para o primeiro golo, coube-lhe um papel ainda mais destacado na vitória desta noite ao colocar a bola no fundo das redes num remate que acabou com as dúvidas sobre o resultado final.

Se Aboubakar foi herói na hora certa, no momento decisivo da partida, Layún foi, pelo menos, o seu fiel escudeiro num duelo em que o resultado pecou por escasso.

O FC Porto podia ter goleado naquela que foi uma das exibições mais dominadoras desta temporada. Pelo menos, não sofreu qualquer golo… E já lá vai quase um ano com este registo caseiro para a Liga (vale a pena sublinhar). O Vitória resistiu até onde pôde, mas perdeu bem. Machado não tinha como abrir a fortaleza do Dragão.