Muita coisa mudou desde 1983. Quem escreve estas linhas só se pode pronunciar, na melhor das hipóteses, pelos últimos 30 anos, mas não há dúvidas de que o Mundo é hoje um lugar muito diferente. Entre o incalculável número de mudanças, no planeta do futebol o Bonfim, até há três décadas e meia reduto inóspito para o FC Porto, transformou-se num campo fértil de boas memórias para os azuis e brancos, que à entrada para o duelo deste sábado tinham saído do Sado com 22 vitórias e seis empates nos últimos 28 confrontos desde então.

A história deste sábado não destoou da que mais se tem escrito desde há largos anos em duelos entre sadinos e dragões, mas a equipa de Sérgio Conceição encontrou desta vez a sul uma fortaleza dura.

O 0-2 final não espelha as dificuldades enfrentadas por um FC Porto de combustão lenta durante boa parte dos 90 minutos. Talvez o desgaste provocado pelo jogo de Gelsenkirchen na passada terça-feira para a Liga dos Campeões e a repetição do mesmo onze no Bonfim expliquem em parte a versão menos pujante de um dragão que está, indiscutivelmente, ainda a larga distância de exibir a saúde de 2017/18.

FILME E FICHA DE JOGO

Se o FC Porto pode e deve ser responsabilizado pelos sobressaltos que experienciou nesta noite, mérito também para a equipa da casa, que se apresentou em campo com um sistema de três centrais apoiados por Mano e André Sousa na laterais e o estreante Valdu Té na frente de ataque.

O conjunto de Lito Vidigal teve sagacidade para bloquear o FC Porto, quase sempre sem a velocidade necessária na circulação de bola para desestabilizar a organização defensiva quase sempre imaculada da equipa da casa, mas o golo de Vincent Aboubakar aos 17 minutos parecia lançar o dragão para mais uma noite tranquila a sul do Tejo.

Só que, para além de lhe ter faltado a autoridade habitual quando parecia que o golo do camaronês parecia ter solucionado parte da equação, o FC Porto permitiu à equipa da casa encher o balão da confiança após ter sofrido um golpe que a poderia ter deixado de joelhos.

A profundidade de Hildeberto – derrubado aos 22 minutos quando seguia sozinho para a baliza numa falta que escapou ao crivo de Manuel Oliveira – a mobilidade do «menino» Valdu Té e os lançamentos de Éber Bessa intranquilizaram o campeão nacional durante boa parte do jogo.

Lentos, presos nas próprias ideias e com estranhas dificuldades para desequilibrarem no último terço, os azuis e brancos sentiram ainda mais dificuldades no regresso dos balneários. Valdu Té ainda introduziu a bola na baliza de Iker Casillas aos 49 minutos. No momento em que os jogadores sadinos celebravam o empate, um gato preto invadiu a área portista. Curiosidade: havia mesmo gato ali. Alertado pelo VAR para uma possível mão na bola do avançado antes de empurrar para o golo, o árbitro recolocou tudo na mesma após olhar para as imagens.

O Vitória não esmoreceu a seguir ao falso alarme. Procurou carregar, Berto e Dankler ainda assustaram, mas Conceição percebeu que a noite não estava para facilitismo. À hora de jogo tirou Otávio e lançou Sérgio Oliveira em campo para lidar com a pressão sadina que se intensificava à medida que o tempo passava.

O médio esteve perto do golo na primeira ação no relvado e viria a resolver o jogo a 11 minutos dos 90’, num livre de longa distância.

Foi o golpe de misericórdia para um estoico Vitória, que lutou até ao limite das forças mas que ainda não conseguiu mudar uma história que se escreve desde 1983. Com maiores ou menores dificuldades, o FC Porto manteve a tradição.