Começar uma crónica por um provérbio é talvez cair num lugar-comum sempre a evitar por um jornalista, mas não há forma melhor de sintetizar o empate que o Sporting consentiu no Estádio do Bonfim nesta sexta-feira.

O leão andou à chuva demasiado tempo e acabou por molhar-se.

A equipa de Jorge Jesus teve o jogo com o V. Setúbal na mão. Adiantou-se no marcador por Bruno Fernandes (31’), passou por alguns calafrios, mas carregava em busca do 2-0 quando Mathieu carregou Edinho talvez no melhor período do Sporting em toda a partida.

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O V. Setúbal, a equipa da Liga para quem os minutos finais são mais dramáticos, travou o leão nos descontos de uma partida competitiva mas que parecia ter tudo para pender para o lado do líder à condição do campeonato.

A reta final da partida foi uma ode ao desperdício. Bruno Fernandes, Bas Dost e Gelson tiveram o xeque-mate nos pés. Falharam e o Sporting acabou o jogo a puxar os sadinos das cinzas e regressa a Alvalade a lamentar dois pontos que, mais do que perdidos, entregou ao adversário.

A repetir o onze da jornada passada (triunfo por 3-0 sobre o Desp. Aves), o Sporting apresentou-se no Bonfim numa toada semelhante, no papel e na prática, ao da partida anterior: pragmático, instalado no meio-campo contrário, mas a permitir que o Vitória saísse em transições rápidas.

Com José Semedo de volta ao onze sadino mais de um mês depois, o Vitória abdicou do 4x4x2 e apresentou-se com João Amaral colado à ala direita, Gonçalo Paciência sozinho na frente e um meio-campo robusto. A estratégia era simples: defender-se dos raides do leão e surpreende-lo quando houvesse oportunidade para isso.

Na primeira parte, o Sporting desequilibrou essencialmente através do corredor esquerdo e de diagonais de Gelson, que num desses lances serviu Bruno Fernandes para o 1-0 aos 31 minutos.

O V. Setúbal respondia de bola parada ou quando o Sporting vacilava. Piccini falhou duas vezes de forma infantil, em lances que João Amaral quase aproveitava.

A equipa de Jesus foi para o descanso na frente do marcador. A vantagem era aceitável mas não plenamente justificável.

Curiosamente, foi na etapa complementar que os leões, ainda que em vantagem, revelaram mais fome. Entraram a carregar: primeiro num raide poderoso de William; depois num cabeceamento de Coates à barra e numa tentativa de chapéu de Acuña que passou a centímetros da barra.

O V. Setúbal parecia estar prestes a capitular perante um leão que carregava com força e nem as alterações de Couceiro mudavam a tendência.

Seria apenas uma questão de tempo, dizia-se.

Mas o tempo passou e o desperdício acentuou-se. Pelo meio, Amaral ameaçou aos 75’ numa finalização salva por Coates que fez de Patrício quando a bola se dirigia para a baliza. Refeito do susto, o leão carregou, agora não instalado no meio-campo contrário mas a aproveitar a subida da equipa da casa no terreno.

Nesta noite nem Bas Dost apareceu. O holandês teve nos pés o 2-0 perto do fim, mas preferiu servir um companheiro ao segundo poste. Depois foi Bruno Fernandes quem atirou ao poste.

Bas Dost em branco, bolas nos ferros e a sorte a virar as costas ao Sporting. Só faltava uma coisa.

Já em tempo de compensação, Edinho, lançado minutos antes para o lugar de Podstawski foi isolado por Paciência e Mathieu carregou-o na área.

Depois de ter ficado no centro da baliza na Luz no mano a mano com Jonas, Patrício voltou a escolher aquele lugar para travar o remate de Edinho dos onze metros. Nada feito. O leão regressou a casa com um golpe duro em cheio no estômago na noite em que o Bonfim voltou a ser feliz como há muito não era.