A 15 de março de 2012 o Maisfutebol contou a história da amizade entre Cláudio (Gil Vicente) e Lima (antes Sp. Braga, agora Benfica). Neste domingo, reencontram-se na Luz. Oportunidade para recordar a história e que Lima já fez um hat-trick ao Gil Vicente

«Bom rapaz, de coração grande!» O elogio sai desinteressado. A amizade é demasiado grande para cobrar o que quer que seja. Cláudio é um admirador de Lima. «Desde 2003, nos nossos tempos do Vizela». Pois, é surpreendente e terá escapado não só aos mais distraídos. A primeira passagem de Lima por Portugal foi há nove anos. Uma passagem discreta, marcada pelo desajustamento.

«Ele chegou em dezembro e andava sempre sozinho, perdido. Por isso aproximei-me dele, convidei-o para jantar em minha casa e fundámos uma empatia que dura até hoje», conta ao Maisfutebol o defesa central do Gil Vicente.

O goleador que queria ser famoso

Cláudio é o melhor amigo de Lima no futebol português. Acolheu-o no seu lar, fez de irmão mais velho. Ensinou-o a cozinhar e a vestir-se condignamente. «O Lima era muito novo, muito menino. Não saía de casa e por isso ajudei-o no que foi possível. Ele é um homem excecional.»

Sempre foi, de resto. «Excecional e inseguro», muito por culpa de uma educação extremamente humilde e honesta. As recordações invadem a conversa, o discurso é feito de passado, de lembranças, até de gargalhadas nostálgicas.

A obsessão que vem de longe

«Um dia tivemos um jantar do Vizela. Eu fui buscá-lo, ele abre a porta e estava todo vestido de branco», lembra Cláudio. «Blazer branco, camisa branca, calças brancas, sapatos brancos. Ele parecia um pai de santo! Só deixei ele sair assim de casa porque estávamos atrasados.» E mais gargalhadas.

«Imagine como foi a reação das pessoas do clube quando chegámos ao restaurante. Eu e um pai de santo.»

A origem da alcunha: O Cabeça

Lima tinha 19 anos e marcas de uma puberdade por abandonar. «A cara dele ainda estava cheia de espinhas. Isso prova o quão novinho era. Também por isso era mais recatado. Só connosco era mais extrovertido e brincava mais.»

Envergonhado, borbulhas na cara, um alvo irresistível para as brincadeiras dos colegas. «Começámos a trata-lo por Cabeça. Eu pegava com ele, dizia que ele era muito feio e se não fosse jogador de futebol ia morrer solteiro. Hoje em dia é casado e tem um filho. É uma felicidade vê-lo tão bem», acrescenta Cláudio.

Viveram lado a lado seis meses. Partilharam rituais básicos do quotidiano, desabafos e sonhos. «No início o Lima era todo educadinho, nunca queria mais comida, nem incomodar. Mais para o fim já devorava feijão preto e oferecia-se para cozinhar. Cresceu, amadureceu e foi uma pena vê-lo regressar ao Brasil no final da temporada. Faltou-lhe jogar mais vezes.»

Sete anos depois, um Cabeça diferente

Em Vizela ainda falam de Lima. Cláudio continua a viver na cidade e a frequentar os sítios que frequentava com o menino que tinha acne. «Ele já tinha um pontapé forte e movimentos de bom avançado. Faltava-lhe a intensidade que tem hoje. Quando veio para o Belenenses, em 2009, já era outro jogador. Vi um avançado feito. E atualmente está ainda melhor.»

Cláudio bem pode dizê-lo. Nem a profunda amizade que os une impediu Lima de estilhaçar o Gil Vicente. Um grande ponta de lança é assim: durante 90 minutos não sente um pingo de piedade. «Em Braga ainda controlei a fera. Perdemos 3-1, mas ele não marcou. Em Barcelos não tivemos hipóteses. O Lima marcou os três golos do jogo. Um dos quais absolutamente fantástico.»

Como é que ele faz os golos?

Apito final, duche bem quente e a amizade de volta ao conforto do costume. Com feijão preto, mas sem qualquer peça de roupa branca. «É isso mesmo. O jogo acaba e o Lima volta a ser o meu Cabeça.»