Esta é uma daquelas histórias só possível no desporto: tem Jeremy Lin no centro do enredo e ameaça ficar para a eternidade como Linsanity. Pelo menos é o que lhe chamam. Foi o que lhe chamou, por exemplo, a Time. A prestigiada revista americana não resistiu à loucura: fez capa com ela.

Jeremy Lin, esse, é base dos New York Knicks, mas é sobretudo um meteorito de 23 anos que atingiu a NBA com uma intensidade sem paralelo. Filho de pais de ascendência chinesa, mas que viveram em Taiwan, Jeremy Lin nasceu e cresceu nos Estados Unidos. Até 18 dias atrás era um perfeito desconhecido.

Numa semana tornou-se um fenómeno. A direcção da NBA, aliás, voltou atrás numa decisão que tinha tomado e integrou Jeremy Lin no All-Star Weekend. Só podia, de resto. Preparem o guião para Hollywood. A cruzada heróica de Jeremy Lin ainda agora começou e nos EUA já lhe reservam um lugar no hall of fame.

«A história do Lin está condenada ao cinema»

4 de Fevereiro de 2012. Os Knicks arrastam-se na regular season, os play-off passam a ser um sonho inalcançável, a época está arruinada. Mas eis que, num ápice e sem pré-aviso, surge Jeremy Lin. Tudo muda. Radicalmente.

As ausências de Amare Stoudamire (morte do irmão) e Carmelo Anthony (lesão) obrigam o técnico Mike D¿Antoni a lançar Lin no cinco inicial. Nem Carlos Barroca- treinador de basquetebol, comentador e profundo conhecedor da NBA - conhecia o atleta de origem chinesa.

«Tinha ouvido o nome e fiquei curioso. Mas procurei os dados individuais do Lin e não eram mesmo nada de especial. Nada apontava para isto», explica ao Maisfutebol. «Os Knicks precisavam urgentemente de um base. O Jeremy Lin agarrou a oportunidade e o resto é uma história fantástica, condenada a chegar ao cinema.»

Dez jogos depois, os números são arrebatadores: Lin apenas uma vez marca menos de 20 pontos, a sua média de assistências e percentagem de bons lançamentos explode, os New York vencem sete jogos consecutivos (oito triunfos e duas derrotas no total) e reentram na luta pela passagem à próxima fase.

Tudo isto, sublinhe-se, em 18 dias. Lin passa de produto falhado a ídolo abençoado pelo talento inato. «Sou um milagre de Deus. As impressões digitais Dele estão ao longo de toda esta história», tenta explicar o próprio Lin. Carlos Barroca não recorre à devoção nem à fé para apresentar esclarecimentos.

«É tudo motivação e talento. O Jeremy é um bom atleta, inteligente (como prova a passagem por Harvard) e nesta altura capaz de lançar com os olhos fechados e marcar. Tenho amigos de etnia chinesa em Nova Iorque e já me disseram que o Jeremy Lin ultrapassou o Tiger Woods no nível de popularidade.»

Na NBA entrara olhado de soslaio. Com desconfiança. Era apenas o terceiro jogador oriundo de Harvard a chegar à mais apaixonante liga do mundo. Há mais presidentes dos EUA licenciados por essa universidade, veja-se só.

Nem Kobe quer acreditar

Faz 29 jogos nos Golden State Warriors (média de 9.8 minutos e 2.6 pontos) até ser dispensado. Sai pela porta pequena e tenta a sorte nos Houston Rockets. Dez dias bastam para receber a mesma sentença: obrigado e até à próxima. Dispensado!

Chega aos Knicks sem qualquer perspectiva. No máximo aspira a poucos minutos em campo, logo que os jogos estejam resolvidos. Assim é até 4 de Fevereiro. Surpreende tudo e todos. Mesmo Kobe Bryant.

«Jeremy Lin? Quem? What the fuck is going on?», pergunta o extraordinário astro dos Lakers, quando instado pelos jornalistas a antecipar o duelo com Lin. « Who?» O base dos Knicks explica: 38 pontos, sete assistências, vitória 92-85 sobre os homens de Los Angeles.

Ron Artest acaba esse jogo a gritar. « Linsanity, Linsanity!».

Já não há forma de parar o mito.

As melhores imagens de Jeremy Lin: