Os «Lugares Incomuns» do futebol internacional voltam à Ásia. Desta vez para explorar, e descodificar, o talento de Mislav Oršić. Um jogador com tantas características físicas e técnicas de realçar, quanto as dúvidas que coloca em relação à capacidade para atingir um nível ainda mais alto, fruto da sua irregularidade e falta de um fator plus ao nível de golos e assistências.

Oršić assinou esta semana pelos sul-coreanos Ulsan Hyundai, equipa que está a reforçar-se bem para tentar voltar a lutar pelo título da K-League: foge-lhe desde 2005 e em março arranca a temporada 2017. 

Após uma passagem de meio ano, pouco conseguida individualmente, nos chineses Changchun Yatai, conjunto que salvou-se da descida de divisão com quatro vitórias nas últimas quatro jornadas - quase à réplica do que o Tondela de Petit fizera em Portugal - Mislav volta assim à liga em que tinha jogado época e meia ao serviço dos Jeonnam, na fase mais regular da sua carreira.

Foi essa regularidade, patente nos 14 golos apontados em 49 jogos, que levaram a que começasse por ser titular na China. Depois, perdeu o lugar após más performances, ao ponto de apenas ter cumprido 22 minutos nos últimos 4 encontros decisivos.

O internacional pelas seleções jovens (sub-18, sub-19, sub-20 e sub-21) da Croácia, pela qual brilhou no apuramento para o Europeu de Sub-21 ao fazer 2 golos e 4 assistências em apenas 4 jogos, deu-se no entanto a conhecer no seu próprio país.

Com a camisola do Zapresic, efetuou a melhor época de sempre (no capítulo pessoal), na terceira e última temporada nos croatas, enquanto melhor marcador da equipa com o excelente pecúlio de 12 golos em 17 partidas.

As passagens intermédias por Spezia (segunda liga de Itália) e Celje (primeira liga da Eslovénia), marcadas pela pouca utilização e baixa prestação, comprovam as dificuldade do experiente, mas ainda jovem de 24 anos em dizer «sim» ao bom futebol por um período extenso e que não oscile face aos diferentes climas.

Foquemo-nos no melhor Oršić, que faz receções, toques, passes, dribles e remates com os dois pés. Um extremo esquerdo que também atua como médio ofensivo embora perca um importante ponto forte de posicionamento base, do qual parte em diagonal para criar desequilíbrios ao transformar o corredor central num espaço de superioridade numérica para a sua equipa.

É a partir da faixa que dá mudança de velocidade, fuga de espaços curtos e a curva perfeita na bola em direção ao poste mais distante. A isso alia um especial dom para transformar livres diretos em arte. Com vantagem evidente física e mental sobre os adversários de campeonatos menos competitivos, percebe-se o baixar do índice de concentração e adrenalina que condicionam o brilhantismo e ofuscam-no.

A comparação com Eden Hazard do Chelsea resulta da posição em campo, do estilo de movimentações e até (salve distâncias) da falta de continuidade dos números de época para época.

Mislav continuará a ser uma incógnita no mundo do futebol, não pelo que sabe fazer, mas por conseguir prolongar o que sabe fazer. Um alvo incerto para quem escolhe e tem receio de errar porque como alguém diria «a tarefa mais difícil de ser olheiro é a de assinar a responsabilidade».