Esta semana, o espaço «Lugares Incomuns» do futebol internacional foi até Atenas para traçar o perfil àquele que é um dos maiores valores da principal liga grega. A jogar num campeonato com pouco espaço mediático e ainda sem ter o seu talento reconhecido, o defesa central Adam Tzanetopoulos começa a ameaçar poder tornar-se um caso de estudo à imagem do avançado Bacca (Milan) e do médio Roque Mesa (Las Palmas). Um lote de jogadores que não engana quem olha para eles, mas que parece viver durante largos anos debaixo de um manto de invisibilidade como Harry Potter e os seus amigos da escola de Hogwarts.

Sabemos que os defesas, por tradição, são aqueles que menos beneficiaram com o fenómeno da globalização e com a massificação da Internet. Confessemos que é (no mínimo) pouco apelativo estar durante 15 minutos a ver a compilação «os melhores desarmes do wonderkid» quando nos vídeos sugeridos está um rapaz com um penteado da moda e no título lemos «os melhores golos e skills do novo craque dos balcãs». É legítimo e talvez esteja aqui grande parte da justificação para um jovem maduro de 21 anos ainda não ter a devida atenção dos scouts de todo o mundo, a começar por Portugal, onde já seria indiscutivelmente titular em 14 das 18 equipas da Primeira Liga. Veremos se mais tarde não teremos mais uma daquelas guerras «clube grande deseja Calleri»... aaaaaand... it’s gone! Dá para estranhar porque felizmente (também) temos dos melhores observadores do Mundo, a juntar aos jogadores, aos treinadores e até ao super agente.

Mas, afinal, quem é Adam (vamos tratá-lo só assim, ok?) e que qualidades tem para merecer o destaque? A iniciar a sua terceira temporada, enquanto sénior, ao serviço do AEK, já é um dos elementos chave do plantel, mesmo sem ser dos que mais minutos joga (alterna a titularidade frequente com as vezes que salta do banco para estancar partidas mais difíceis), por conseguir ser dos que mais faz valer a sua presença em campo para a equipa conseguir vitórias. Um dado estatístico que apenas serve para comprovar a qualidade que é possível ver a olho nú. A benesse de ter 194 centímetros e saber aproveitá-los no ar, a capacidade de ter a bola no pé (no passe, mas também na condução), particularmente a que mais aprecio, a força e o proveito que tira dela na hora do desarme, e ainda o tempo de reacção. No outro lado da balança, apenas o «pormaior» do posicionamento com deficiências (ainda assim, para quem o viu jogar a primeira vez há dois anos, percebe-se a evolução) a que não estará alheio o facto de só ter iniciado a sua prática enquanto futebolista aos 15 anos, em mais uma prova cabal da importância da formação base para a distinção na alta competição. Não sendo factor eliminatório, é cada vez mais factor discriminatório. Ainda assim, o talento (porque é acima de tudo o que descreve o jogador) já lhe valeu a primeira internacionalização pela selecção da Grécia e a conquista da Taça do país ao serviço do «seu» AEK que ajudou, quando tinha apenas 18 anos, a subir de divisão depois de uma queda histórica.

Agora, após ser revelação no segundo escalão e confirmação no primeiro, todos os anos contam. E este começa já nesta segunda-feira (talvez seja um risco afirmá-lo depois de dois jogos reagendados) com a jornada 3 da Liga da Grécia. Daqui a uns anos (meses?) cá estaremos para tentar perceber onde chegou o mais anónimo dos wonderkids.