Os «Lugares Incomuns» do futebol internacional estão em São Paulo para assistir ao regresso de Jucilei aos palcos brasileiros, que abandonou em 2011. Após experiências na Rússia, nos Emirados Árabes Unidos e na China, o ex-Corinthians chegou, viu e está a vencer no Tricolor Paulista.

Depois de efetuar toda a formação no país do samba, Jucilei estreou-se pela equipa principal do Timão logo aos 20 anos. Uma primeira temporada que dificilmente poderia ser um melhor indicador da qualidade do jogador. Ao todo, somou 32 partidas em que aproveitou para colocar os primeiros dois golos na sua conta pessoal e reclamar papel de destaque na época seguinte.

Foi em 2010, ainda com 21 anos, que se tornou titular sem margem para discussão nessa equipa do Corinthians. Exibiu uma prova tremenda de resistência (58 jogos) e o seu clube assumiu sondagens de emblemas como Dínamo de Kiev, Paris Saint-Germain, Fiorentina, Lille, Sevilha e... Rubin Kazan. A Rússia seria o novo habitat, mas o destino não passava pela cidade de Kazan.

Jucilei ao serviço do São Paulo

O interesse deste rol de equipas nunca foi concretizado, mas após Mano Menezes o ter convocado pela primeira vez para a seleção do Brasil, entrou em cena o milionário (à data dos factos) Anzhi. Os russos consideraram que 10 milhões de euros seria um valor justo pelo médio.

Com a camisola das «águias» fez praticamente uma centena de jogos, embora nunca tenha chegado a dividir o balneário com os desejados Messi e Ronaldo. O dinheiro do Anzhi foi-se e o brasileiro moveu-se para o Al-Jazira rejeitando uma proposta do São Paulo, seu clube atual.

Nos Emirados Árabes Unidos jogou com regularidade e em 2015 voltou a trocar de ares para representar os chineses do Shandong Luneng. O contrato de quatro temporadas garante-o sob a alçada do clube asiático até depois dos 30 anos de idade, situação que pode ser um constrangimento para ainda existir progressão competitiva na carreira, mas para já vai podendo provar o que vale por via de empréstimo.

Recebido com pompa e circunstância pela massa adepta do Soberano, o atleta que completou recentemente 29 primaveras não teve as portas do 11 titular absolutamente escancaradas.

Rogério Ceni, o mítico ex-goleiro e atualmente técnico do São Paulo, referiu publicamente que Jucilei não chegou com as condições físicas desejadas, fator que nunca foi uma condicionante para atuar, mas que em diversas ocasiões não permitiu que o volante conseguisse manter o nível do seu jogo.

A dificuldade em estar saudável e controlar o peso sempre foi a sua grande pecha e agora que está bem a contribuição aumentou ao ponto da equipa ser uma sem ele e outra (bem melhor) consigo em campo.

Jucilei é o que os brasileiros gostam de chamar «um jogador diferenciado». Médio defensivo (1,85 m) ou, como recurso, defesa central, apresenta-se como um verdadeiro rochedo recheado de técnica, características que não costumam aparecer de mãos dadas com facilidade.

É um bárbaro na etimologia positiva da palavra. Um jogador selvagem pela barbaridade (passe o pleonasmo) que joga quando está em forma: super intenso e rotativo, capaz de deambular entre as três posições do miolo (6, 8 e 10) partindo sempre da sua de origem.

Muito forte a colocar o pé nas divididas e a conquistar o espaço defensivo, tem no desarme a sua maior arma como se de uma autêntica muralha se tratasse.

A eficácia de passe, especialmente longo, catapulta a equipa para zonas de interesse, assim como o facto de aproveitar o corpo para ser especialista em esconder a bola dos adversários e permitir à sua equipa gerir o ritmo de jogo. Um ritmo que é bem mais alto do que o praticado no Brasileirão.

Ofensivamente tem ainda como apontamentos o cabeceamento potente que aproveita nos esquemas táticos e um remate fortíssimo que deveria ser melhor aproveitado até porque nunca foi homem de fazer muitos golos, mas os que faz é de alegrar a vista. Como este:

Muito bem considerado pela crítica do Brasil, por cá o nome não é suficientemente forte para se tornar num lugar-comum. O bárbaro delicia no Soberano (São Paulo FC), mas tem um caminho cheio de pedras para vir a sê-lo.